O complexo da mesquita de Al-Aqsa, iluminado pelo reflexo da Cúpula da Rocha, é um dos centros de Jerusalém, um espaço enorme e outrora cheio de vida, tanto dentro como em torno das suas paredes. Mas se o espaço já era alvo de várias rusgas policiais, de constantes ataques de colonos, de soldados e até de governantes, desde o dia 7 de outubro que rezar em Al-Aqsa se tornou quase impossível para os cidadãos muçulmanos, que procuram uma mesquita cujas portas deviam estar sempre abertas.
Após os ataques do Hamas do dia 7 de outubro e da consequente retaliação israelita, que devastou a Faixa de Gaza e gerou grande insatisfação no mundo árabe, o controlo da sociedade na Cisjordânia e nos territórios palestinianos ocupados aumentou consideravelmente. E isso só se notou ainda mais vincadamente em Al Aqsa - sendo o terceiro local mais sagrado do mundo islâmico (a seguir a Meca e a Medina, ambas na Arábia Saudita), a mesquita e o complexo no qual esta se insere são também um espaço de grande socialização entre palestinianos muçulmanos.
Segundo contou o departamento de património islâmico de Jerusalém à agência Anadolu, "apenas 3.500 pessoas puderam entrar na mesquita para as orações de sexta-feira, comparativamente com as 50 mil nas sextas-feiras normais". É a oitava sexta-feira consecutiva em que a polícia israelita impede pessoas de entrarem na mesquita, deixando apenas pessoas idosas entrar.
Como tal, o pátio, o complexo e o interior da mesquita estão quase sempre vazios nos dias que correm.
São vários os limites que o regime israelita impõe a outras religiões, não só a muçulmanos, como também a católicos e a ortodoxos, especialmente em Jerusalém. Mas por ser um espaço tão sagrado para uma grande maioria da população palestiniana, os ataques com gás lacrimogéneo e os 'raides' à mesquita de Al-Aqsa durante alturas de oração são também frequentes em alturas de retaliação e de violência policial. Existe um acesso ao complexo a partir do lado israelita, junto ao Muro das Lamentações, um pequeno caminho que os polícias usam para permitir a entrada de colonos judeus ilegais e ultraconservadores, permitindo que estes entrem na zona e atacam palestinianos ocasionalmente.
No entanto, as restrições mais recentes não se ficam pela mesquita em si. Centenas de palestinianos têm tentado rezar à sexta-feira fora da cidade velha de Jerusalém, junto a um dos acessos mais movimentados e mais usados pela população para aceder à mesquita, juntando-se em plena estrada.
Israeli soldiers are assaulting worshippers who were forced to pray in the streets outside the walls of the ancient city of Jerusalem, as Israel placed restrictions on access to Al Aqsa Mosque.
— TRT World (@trtworld) December 1, 2023
These measures were further tightened after October 7, preventing women, children and… pic.twitter.com/OincdDN9Ke
Mas os soldados israelitas, que antes ficavam apenas a limitar a subida até Al-Aqsa, até isso têm impedido, atacando crentes com bastões e gás lacrimogéneos e perseguindo-os pelos bairros em torno da cidade velha.
Nem o imã escapa às operações policiais de Israel, já que, no domingo, a casa de Ekrima Sabri foi atacada por agentes durante a noite e foi afixada uma ordem de demolição no edifício, com as forças israelitas a alegarem que a construção "não é autorizada". Os imãs de Al-Aqsa têm sido frequentemente alvos de investigações sem fundamento, impedidos de viajar e proibidos de voltar à própria mesquita.
A mesquita de Al-Aqsa fica no topo do Monte do Templo de Jerusalém e existe desde o século VII, tendo sido renovada várias vezes ao longo dos anos. A sua gestão é feita por uma entidade independente da Jordânia, que lida com edifícios e assuntos muçulmanos na cidade velha de Jerusalém.
As mesquitas não são apenas templos de oração, são também espaços com livros e atividades comunitárias, e algumas permitem a entrada de crentes de várias religiões. As orações de sexta-feira costumam ser mais longas, juntando dezenas de milhares de pessoas nas principais mesquitas do mundo árabe.
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