COP28. Chefe da agência de energia atómica defende energia nuclear

O diretor do órgão de controlo nuclear da ONU defendeu hoje que o mundo quer mais energia nuclear para combater as alterações climáticas e suprir uma procura crescente de eletricidade.

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Lusa
30/11/2023 16:05 ‧ 30/11/2023 por Lusa

Mundo

Rafael Grossi

Para Rafael Mariano Grossi, a inclusão da energia nuclear na cimeira do clima (COP28), onde é provável que se chegue a um acordo nuclear de grande envergadura, mostra até que ponto o tema, anteriormente "tabu", evoluiu décadas após os desastres de Three Mile Island e Chernobyl.

No entanto, o responsável da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) reconheceu o desafio que ainda representa para a sua agência a monitorização dos programas nucleares dos países, em particular do Irão, após o colapso do acordo nuclear de 2015 com as potências mundiais.

"Isto costumava ser mais fácil quando existia este consenso internacional e o Irão podia ver que não se tratava de pressão política, mas de uma abordagem generalizada que consistia em ver o Médio Oriente, uma das regiões mais voláteis do mundo, não adicionar à mistura a possibilidade de um país obter armas nucleares", disse Grossi, em entrevista à agência de notícias The Associated Press (AP).

Grossi avisou que o facto de mais países adquirirem armas nucleares poderia criar um "efeito dominó".

"Portanto, é uma tendência muito, muito complicada e potencialmente perigosa", sublinhou.

Grossi, que acaba de chegar ao Dubai vindo de Paris, disse que falou com o Presidente francês, Emmanuel Macron, sobre o provável anúncio nuclear, que incluirá "um compromisso público a favor da energia nuclear, de uma forma que nunca vimos antes".

Segundo o diretor da AIEA, um acordo deste tipo, com o apoio das potências mundiais, poderia tornar a energia nuclear acessível a mais países.

A energia nuclear não produz gases com efeito de estufa, o que é uma vantagem numa altura em que o mundo se esforça por reduzir as emissões. No entanto, muitos ambientalistas opõem-se à energia nuclear devido aos seus resíduos.

Macron deverá discursar no sábado na COP - ou Conferência das Partes. As negociações estão a decorrer do outro lado do Golfo Pérsico, em frente ao Irão, cujo Presidente, Ebrahim Raisi, também deverá estar presente.

No Irão, desde o colapso do acordo, o acesso da AIEA ao programa do país foi restringido, ao ponto de os inspetores não entrarem na fábrica de centrifugadoras desde fevereiro de 2021.

Questionado se era possível que as centrifugadoras pudessem ter sido desviadas para outro lugar pelo Irão fora da vigilância da AIEA, Grossi respondemos: "Não sabemos, e a nossa estimativa é que a produção está a continuar".

Entretanto, o Irão começou a retirar a autorização aos inspetores veteranos da agência, dificultando ainda mais a sua capacidade de monitorizar o programa de Teerão, que este tem agora urânio enriquecido suficiente para construir potencialmente várias bombas atómicas, se assim o desejar.

O Irão há muito que insiste que o seu programa é pacífico e, ainda este ano, as agências de inteligência norte-americanas avaliaram que Teerão não está a tomar medidas ativas para construir uma bomba.

"É como se tivessem tirado o Messi da equipa", disse Grossi, referindo-se ao seu compatriota e estrela de futebol Lionel Messi. "Tiraram o Cristiano Ronaldo da equipa e dizem: 'Vocês ainda têm uma equipa', mas sim, mas vamos ser justos e jogar limpo", comentou.

A missão do Irão nas Nações Unidas não respondeu a um pedido de comentário sobre as observações de Grossi.

Por outro lado, Grossi advertiu que a guerra na Ucrânia continua a ter como alvo a rede de reatores nucleares do país.

Os receios em matéria de segurança nuclear persistem. Grossi referiu a resistência política que a ciência pode observar em questões nucleares, em particular no que respeita à descarga pelo Japão de águas residuais tratadas e diluídas da central nuclear danificada de Fukushima no Oceano Pacífico.

A China proibiu as importações de peixe japonês devido a estas descargas, que contêm trítio a um nível que a AIEA considera ter um impacto negligenciável no ambiente e na saúde humana.

"Ficámos lá e temos uma monitorização independente", referiu Grossi, acrescentando: "Penso que estamos a ser gradualmente bem-sucedidos" em convencer as pessoas.

Grossi renovou os seus apelos para que Israel adira ao Tratado de Não Proliferação Nuclear e permita a entrada de inspetores da AIEA em locais como Dimona, que está no centro do seu programa de armas atómicas não declarado e que está a ser submetido ao que parece ser o seu maior projeto de construção da última década.

O responsável considerou também que a intensificação dos programas de armamento nuclear da China, da Rússia e dos Estados Unidos constitui "uma tendência muito preocupante" que aumenta o risco de novos conflitos à volta do mundo.

"Muito claramente, e devido a estas tensões renovadas na cena internacional, vemos países a aumentar os seus arsenais, dizendo-o publicamente e, claro, concomitantemente, com estes outros países que não têm armas nucleares a dizer: 'Ei, porque não nós?'" comentou Grossi.

Leia Também: Ucrânia. "Estão a multiplicar-se" perigos em torno das centrais nucleares

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