"O Departamento [Ministério] de Relações Internacionais e Cooperação na África do Sul condena nos termos mais fortes possíveis a violação por parte de Israel das Convenções de Genebra e o abandono do direito internacional humanitário em Gaza, pela sua negação intencional de alimentos, água, eletricidade e combustível ao povo de Gaza", referiu em comunicado divulgado hoje à imprensa.
"É proibida a fome de civis como método de combate", referiu Pretória, citando o Artigo 4 da Convenção de Genebra, acrescentando que à luz do Quarta Convenção de Genebra "os civis devem ser protegidos do assassinato, da tortura ou da brutalidade e da discriminação com base na raça, nacionalidade, religião ou opinião política".
"A Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos já declarou anteriormente que as 'violações graves e contínuas' cometidas por Israel à Quarta Convenção de Genebra e ao Protocolo Adicional I são crimes de guerra", adiantou.
O governo sul-africano considerou que o direito humanitário internacional "inclui a obrigação de não visar populações civis e a responsabilidade de proteger os civis em conflitos armados".
"Os bombardeamentos israelitas aéreos, marítimos e terrestres continuaram e intensificaram-se em toda a Faixa de Gaza pelo sexto dia consecutivo. Esta é uma violação flagrante do direito internacional humanitário", adiantou, acrescentando que "o anúncio de hoje de Israel, dando a 1,1 milhões de habitantes de Gaza, 24 horas para deixarem o norte da Faixa de Gaza e retirarem para o sul de Gaza, conduzirá a uma nova catástrofe".
No comunicado, a que a Lusa teve acesso, o Ministério das Relações Internacionais de Cooperação (DIRCO, na sigla em inglês), referiu também que "entre 100 e 150 israelitas, incluindo soldados e civis, alguns dos quais são mulheres e crianças, bem como alguns cidadãos estrangeiros, foram capturados e levados à força para Gaza".
"O secretário-geral da ONU, António Guterres, também apelou à "libertação imediata de todos os reféns israelitas, o que também é proibido pelo direito internacional humanitário", adiantou o comunicado da diplomacia sul-africana.
Na quinta-feira, o presidente da África do Sul apelou à abertura de "corredores humanitários" no Médio Oriente para ajudar as pessoas afetadas pela guerra, que eclodiu no passado sábado entre Israel e a organização islamita Hamas.
Todavia, o Governo do Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder desde 1994, e o Presidente da República, Cyril Ramaphosa, que é também presidente do ANC, não condenaram o ataque terrorista do grupo islamita há cinco dias em território israelita que causou a morte de mais de 700 civis, justificando tratar-se de uma "causa de pessoas oprimidas".
Pelo menos dois sul-africanos foram mortos no atual conflito israelo-palestiniano, segundo um porta-voz do Ministério das Relações Internacionais e Cooperação sul-africano.
Na Cidade do Cabo, o deputado do ANC, Mandla Mandela, neto do antigo Presidente Nelson Mandela, juntou-se a várias dezenas de manifestantes pró-Palestina que realizaram uma marcha de solidariedade junto ao edifício do Parlamento, apelando ao "apoio à resistência palestiniana".
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