Segundo testemunhos recolhidos pela organização não-governamental (ONG), pelo menos uma centena de pessoas foram "expulsas coletivamente para a fronteira com a Argélia entre os dias 18 e 20 de setembro", onde ficaram "sem comida nem água".
"Estas operações podem sinalizar uma mudança perigosa na política tunisina, uma vez que as autoridades costumavam libertar migrantes intercetados", afirmou a HRW, num comunicado hoje divulgado.
Segundo a ONG, alguns migrantes alegaram que "agentes da guarda nacional [tunisina] os espancaram e roubaram os seus pertences, incluindo telefones, dinheiro e passaportes".
"Apenas dois meses após as últimas expulsões em massa e desumanas de migrantes negros africanos e requerentes de asilo para o deserto, as forças de segurança tunisinas expuseram mais uma vez as pessoas ao perigo, abandonando-as em áreas fronteiriças remotas", afirmou a diretora da HRW para a Tunísia, Salsabil Chellali, citada no comunicado.
A HRW adianta, no entanto, que não foi possível verificar se estas operações se realizaram já em outubro.
Segundo a organização, "mais de 1.300 migrantes e requerentes de asilo" foram alvo destas "expulsões coletivas", que já levaram o secretário-geral da ONU, António Guterres, a protestar oficialmente com a Tunísia.
Outras organizações humanitárias adiantaram haver registos de "mais de 2.000 expulsões" e pelo menos 27 mortes no deserto Tunísia-Líbia e 73 desaparecidos entre julho e início de agosto.
"Ao transferir migrantes para a fronteira e empurrá-los para a Argélia, as autoridades tunisinas praticaram expulsões coletivas, que são proibidas pela Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos", sublinhou a HRW.
A União Europeia (UE) celebrou, em julho, um acordo com a Tunísia que prevê uma ajuda europeia de 105 milhões de euros ao país do norte de África para o combate à migração irregular.
Perante as situações relatadas e denunciadas, a HRW pede a Bruxelas para "cessar todo o financiamento das autoridades responsáveis" por tais abusos.
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