Só derrota de Putin evitará "conflito" maior no futuro, diz Instituto

O Instituto para os Estudos da Guerra considera que um cessar-fogo, um congelamento das hostilidades ou uma saída para o Presidente russo não resolve o conflito na Ucrânia, defendendo que só a derrota do Kremlin impedirá algo maior no futuro.

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© MIKHAIL METZEL/POOL/AFP via Getty Images)

Lusa
03/10/2023 10:54 ‧ 03/10/2023 por Lusa

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Instituto Estudos da Guerra

Numa reflexão sobre as motivações que levaram o Presidente russo, Vladimir Putin, a invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022 e as saídas para o conflito, os autores do Instituto para os Estudos da Guerra (ISW, na sigla em inglês), com sede em Washington, afirmam que um cessar-fogo ou outra negociação que congele o conflito nos termos atuais serão "muito mais vantajosos" para o Kremlin do que anteriormente, ou uma espécie de Minsk III, em alusão ao entendimento de em 2015 entre Ucrânia, Rússia, França e Alemanha para aliviar tensões no leste ucraniano.

"Tal 'paz' não será paz nenhuma. Será simplesmente uma oportunidade para a Rússia reconstruir o seu poder militar e económico, permitir que a atenção do Ocidente seja distraída e procurar regenerar-se e beneficiar das fissuras na sociedade ucraniana até poder retomar os seus ataques", escrevem os autores do artigo "A fraqueza é letal: Por que Putin invadiu a Ucrânia e como a guerra deve terminar", com data de domingo.

A ideia de dar a Putin uma forma de saída diplomática e uma oportunidade de "salvar a face" colide, segundo o texto, com as lições dos últimos anos, uma vez que o líder do Kremlin já criou para ele próprio essa saída, "não porque a diplomacia convenceu Putin a abandonar a sua perseguição à Ucrânia, mas porque percebeu que congelar as linhas da frente era a sua melhor opção para continuar a exercer o controlo" sobre este país.

Em 2014, nos levantamentos pró-russos no Donbass, Putin, diz o ISW, sobrestimou o apoio de Moscovo e sua capacidade de criar "uma força por procuração" no leste da Ucrânia e subestimou a resistência ucraniana, levando a que apenas tenha conseguido o controlo parcial das regiões de Lugansk e Donetsk em vez das seis originalmente pretendidas e com recurso ao Exército.

"Putin parou em 2015 porque reconheceu que os seus esforços militares não tinham conseguido restabelecer o controlo total sobre a Ucrânia, que tinha atingido os limites do poder russo e da sua própria tolerância ao risco, e que a continuação do conflito ativo teria exigido a aposta de lançar um ataque despreparado", afirma o ISW.

A aceitação de "um revés temporário para avançar no seu objetivo maior" refletiu-se nos últimos anos, e na tentativa de converter a presença militar na Ucrânia em controlo político sobre o país: "Quando essa campanha falhou, Putin recorreu à invasão em grande escala".

Esta leitura leva os autores do Instituto a advogar que um fim duradouro do atual conflito exige forçar Putin a aceitar a derrota e levar Putin a compreender que não pode impor militarmente a sua vontade nem subornar o país vizinho politicamente nem prevalecer diplomaticamente.

"Enquanto o Kremlin acalentar a esperança de sucesso -- que qualquer acordo de compromisso que salve a aparência alimentaria -- continuará a procurar superar os seus reveses de formas que tornem muito provável uma nova guerra", alertam os autores (Nataliya Bugayova, Kateryna Stepanenko e Frederick W. Kagan).

Uma nova guerra seria maior e ainda mais perigosa e também "extremamente dispendiosa" ao dar tempo a Moscovo para se rearmar e preparar: "As exigências de redução do fardo financeiro do apoio à Ucrânia simplesmente acarretam agora maiores riscos e despesas para o futuro".

A "verdadeira paz", conclui o ISW, só pode passar pelo apoio a Kiev e "infligir uma derrota militar inequívoca à Rússia", de modo a reconstruir a Ucrânia "num exército e numa sociedade tão fortes e resilientes que nenhum futuro líder russo veja uma oportunidade como as que Putin percebeu mal em 2014 e 2022".

Se os líderes atuais tomarem opção inversa e se o Ocidente for atraído pela ilusão de algum compromisso, "poderá acabar com a dor por agora, mas apenas à custa de uma dor muito maior mais tarde", e então Putin lerá esse sinal como uma rendição.

"E a rendição encoraja-o a voltar a atacar", advertem, e "esta guerra só poderá terminar, não quando Putin sentir que pode salvar a face, mas quando souber que não pode vencer".

Antes de desencadear a sua "operação militar especial" na Ucrânia, em 2022, Putin viu, de acordo com o ISW, a fraqueza no ocidente e na NATO, mas falhou a sua narrativa de uma suposta ameaça da Aliança Atlântica a Moscovo, bem como a tentativa de manipular politicamente Kiev e dividir os seus membros.

"Vladimir Putin, não invadiu a Ucrânia em 2022 porque temia a NATO. Ele invadiu porque acreditava que a NATO era fraca, que os seus esforços para recuperar o controlo da Ucrânia por outros meios tinham falhado e que instalar um governo pró-Rússia em Kiev seria seguro e fácil".

Além disso, a meta não era defender-se contra alguma ameaça, mas "expandir o poder da Rússia, erradicar a condição de Estado da Ucrânia e destruir a NATO, objetivos que ele ainda persegue", tudo em resultado de uma série de acontecimentos entre 2019 e 2020 que o levaram à conclusão de uma oportunidade histórica de restabelecer o controlo sobre Kiev desde a revolta Euromaidan, em 2014, da fuga do Presidente uraniano pró-russo Viktor Yanukovych, dando lugar a um regime pró-Ocidente.

"A convicção de Putin resultou dos esforços fracassados do Kremlin para forçar a Ucrânia a se submeter às exigências da Rússia, da imersão de Putin numa bolha ideológica e autorreflexiva durante a pandemia de Covid-19 e das respostas ocidentais aos eventos globais e às ameaças russas em 2021", analisa o ISW, observando que nenhuma oferta diplomática do Ocidente ou de Kiev, "a não ser a rendição às suas exigências maximalistas", o teria convencido a abandonar a oportunidade histórica que pensava ter.

Putin, no texto do ISW, esteve sempre menos preocupado com a ameaça militar da NATO do que na sua perda de controlo sobre a esfera de influência russa como superpotência nos antigos estados soviéticos e, mesmo que não rompessem com Moscovo, na alternativa que o Ocidente podia oferecer, como "as 'revoluções coloridas' que tanto alarmaram Putin", seu modo de vida, valores e governação: "A NATO e o Ocidente ameaçaram a Rússia simplesmente existindo".

O ISW também procura desconstruir a ambição da Ucrânia em aderir à NATO, referindo que a consagração desta meta na Constituição e o reconhecimento de Kiev como um parceiro de oportunidades reforçadas em 2020 não foram passos de adesão formal e que, na verdade, o anúncio desse estatuto dizia "explicitamente que não prejudica quaisquer decisões sobre a adesão", tal como a Declaração de Bucareste, de 2008, que prometia às autoridades ucranianas e georgianas caminhos para a integração que nunca foram concretizados.

Para o Instituto, nenhuma oferta diplomática do Ocidente, "a não ser a renúncia à soberania da Ucrânia e o abandono dos princípios da NATO", teria impedido Putin de invadir a Ucrânia e apenas a ameaça de que os Estados Unidos ou a NATO interviessem militarmente poderia ter dissuadido Putin, mas "Washington retirou explicitamente tal ameaça da mesa"

Os objetivos do líder do continuam inalterados, diz ainda o ISW, "nem indicou qualquer vontade de aceitar um resultado inferior devido a qualquer suposto impasse", pelo que, "mesmo que demonstrasse vontade de negociar algum cessar-fogo nos moldes atuais, a Ucrânia e o Ocidente seriam tolos se o aceitassem".

Leia Também: AO MINUTO: Negociações em 2023 são "possíveis"; Ucrânia abate drones

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