Afeganistão. Rússia recebe talibãs para debater ameaças regionais

A Rússia recebeu hoje representantes dos talibãs para debater ameaças regionais e indicou que continuará a ajudar o Afeganistão diretamente e através do PAM, o Programa Alimentar Mundial da ONU.

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Lusa
29/09/2023 16:32 ‧ 29/09/2023 por Lusa

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Afeganistão

As conversações, na cidade russa de Kazan, ocorreram numa altura em que Moscovo tenta manter a sua influência na Ásia Central, mesmo enquanto trava uma guerra na Ucrânia, e centraram-se nas ameaças regionais e na criação de um Governo inclusivo no Afeganistão, noticiou a agência estatal russa Tass.

Zamir Kabulov, o representante especial do Presidente russo, Vladimir Putin, para o Afeganistão, participou no encontro e afirmou que a Rússia está inclinada a ajudar Cabul de forma independente e através do PAM.

Uma carta do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, foi lida durante a reunião, acusando os países ocidentais de "fracasso total" no Afeganistão e sustentando que eles deveriam "suportar a maior parte do fardo de reconstruir o país".

Os talibãs tomaram o poder no Afeganistão em meados de agosto de 2021, quando as tropas dos Estados Unidos e da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental) concluíam a sua retirada do país, após 20 anos de conflito.

Depois de recuperarem o poder, os talibãs impuseram gradualmente leis severas, tal como tinham feito durante o seu anterior Governo do Afeganistão, entre 1996 e 2001, com base na sua interpretação da Sharia (lei islâmica).

Proibiram as raparigas de frequentar a escola para além do sexto ano e as mulheres de terem praticamente qualquer emprego e acederem a espaços públicos.

Nenhum país reconheceu formalmente os talibãs como legítimos governantes do Afeganistão. As Nações Unidas indicaram que o reconhecimento é "quase impossível" enquanto as severas restrições talibãs às mulheres e raparigas estiverem em vigor.

Desde 2017, Moscovo tem organizado conversações com os talibãs e representantes de outras fações afegãs, China, Paquistão, Irão, Índia e ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central.

Os representantes dos talibãs não estiveram presentes na última reunião, em novembro de 2022. E nenhuma outra fação afegã participou no encontro de hoje.

Kabulov, o enviado do Kremlin (Presidência russa), tinha dito anteriormente que o reconhecimento internacional dos talibãs dependeria da prática da inclusão pelo seu Governo e do seu historial em matéria de direitos humanos.

A Rússia trabalhou durante anos para estabelecer contactos com os talibãs, apesar de ter classificado o grupo como organização terrorista em 2003 e de nunca o ter retirado da lista.

Qualquer contacto com este tipo de grupos é punível nos termos da lei russa, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros respondeu a questões sobre a aparente contradição afirmando que o seu diálogo com os talibãs é essencial para ajudar a estabilizar o Afeganistão.

A União Soviética travou uma guerra de 10 anos no Afeganistão, que terminou com a retirada das suas tropas em 1989.

O ministro dos Negócios Estrangeiros afegão, Amir Khan Muttaqi, nomeado pelos talibãs, sustentou hoje que os outros países deviam parar de lhes dizer o que fazer.

"O Afeganistão não prescreve formas de governação aos outros, por isso esperamos que os países da região se envolvam com o Emirado Islâmico em vez de darem instruções para a formação de um Governo no Afeganistão", afirmou Muttaqi, referindo-se ao nome que os talibãs dão ao seu modelo de Estado: Emirado Islâmico do Afeganistão.

O MNE talibã convidou igualmente as pessoas a visitarem e verem o Afeganistão com os seus próprios olhos e garantiu que "turistas, diplomatas, trabalhadores humanitários, jornalistas e investigadores" viajam para o país com confiança e circulam livremente.

Leia Também: Talibãs consideram que direitos das mulheres são "pequenas questões"

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