A região de Nagorno-Karabakh está de volta às notícias, mais uma vez, devido a "operações antiterroristas" do Azerbaijão num território que reivindica como seu. Esta terça-feira, tropas azeris entraram na região após a morte de seis polícias e anunciaram a criação de corredores humanitários, para permitir a retirada de civis de uma "zona perigosa".
Para já, a única passagem entre o pequeno enclave e a Arménia é o corredor de Latchin, que esteve bloqueado durante dezembro de 2022 pelo Azerbaijão, com o governo arménio a acusar Baku de criar uma crise humanitária e apontar para o deterioramento das condições de vida.
O Azerbaijão rejeita estas acusações, garantindo que o território podia obter toda a ajuda que precisasse através do seu governo. Mas as autoridades internacionais, nomeadamente na União Europeia, Estados Unidos, Rússia e, inclusive, a Cruz Vermelha, têm alertado para a escassez de alimentos, de medicamentos e para as paupérrimas condições de segurança para os mais de 100 mil habitantes.
Mas, afinal, o que é a autoproclamada República de Nagorno-Karabakh (ou República de Artsakh, em arménio), como surgiu e o que se passa neste pequeno território que tanto tem preocupado o mundo?
Breve história de uma república nunca independente
Nagorno-Karabakh é um território montanhoso no Cáucaso, onde a população é predominantemente de etnia arménia; mas, com o estabelecimento da União Soviética, passou a fazer parte da república soviética do Azerbaijão. Com o final da URSS, o território declarou-se imediatamente independente em 1991, com o apoio da Arménia, o que levou a uma guerra civil entre separatistas arménios e o governo central azeri em Baku.
No primeiro conflito, entre 1992 e 1994, morreram cerca de 30 mil pessoas e mais de um milhão fugiu de casa. A Arménia assumiu controlo de uma parte do território, especialmente em torno do corredor de Latchin - um corredor muito importante para entender este conflito -, permitindo uma passagem entre Nagorno-Karabakh e a Arménia. A república manteve a sua proclamação de independência, com a capital em Stepanakert (ou Khankendi, nome em azeri) mas dependente do controlo de Yerevan.
Foi este o 'status quo' até 2020 quando, numa guerra de cerca de seis semanas, o Azerbaijão lançou uma grande ofensiva na região e tomou todo o território, bem como o corredor de Latchin. Cerca de 3.000 azeris e 4.000 arménios morreram até um cessar-fogo, mediado pela Rússia, ter posto fim ao conflito. Na sequência da guerra, o governo de Yerevan aceitou devolver a Baku o controlo do território fora das fronteiras soviéticas de Nagorno-Karabakh.
Os russos, esses, também ficaram na região, funcionando como força mediadora no corredor de Latchin para garantir a passagem de alimentos, medicamentos e outros produtos essenciais entre a Arménia e o território.
Conflito após 2022 e a crise humanitária na sombra da Ucrânia
Os anos que se seguiram foram de constante tensão entre o Azerbaijão e os separatistas arménios que, em 2022, foram mais uma vez auxiliados pela Arménia. Em setembro de 2022, quando a guerra na Ucrânia continuava a ser o foco das preocupações do mundo inteiro, as tropas dos dois países entraram em conflito em Nagorno-Karabakh e os dados oficiais apontam para cerca de 100 soldados mortos para cada lado, embora a Arménia alegue que 204 oficiais morreram durante os dois dias de luta.
Mais uma vez, a Rússia interveio como mediadora - embora numa posição mais enfraquecida, devido à sua própria invasão na Ucrânia - e foi acordado um novo cessar-fogo, com o Azerbaijão a tomar novamente território arménio. Yerevan permitiu que equipas de monitorização da União Europeia e da OSCE se estabelecessem na sua fronteira, mas Baku não aceitou o mesmo.
A missão de observação da União Europeia (UE) no lado arménio da fronteira entre a Arménia e o Azerbaijão (EUMCAP) terminou esta segunda-feira o seu mandato e o organismo europeu vai avaliar a implementação de outra de longo prazo.
Lusa | 23:32 - 19/12/2022
Em dezembro, a Arménia acusou o Azerbaijão de bloquear o corredor de Latchin, impedindo a passagem de bens humanitários e provocando uma grave crise humanitária. Os azeris garantem que Nagorno-Karabakh continua a poder receber comida e alimentos... mas apenas a partir do Azerbaijão, já que considera que o território é seu.
A reabertura do corredor e a perspetiva de mais combates
A União Europeia, os Estados Unidos, a Cruz Vermelha, a Rússia e várias instituições internacionais têm apontado, desde então, para as condições extremas em Nagorno-Karabakh, após oito meses de bloqueio, com cerca de 120 mil pessoas em risco de pobreza extrema e fome devido à falta de alimentos, de medicamentos, de combustível, entre outros fatores. As mortes por diabetes e problemas cardiovasculares aumentaram a pique.
Ao longo dos oito meses, o Azerbaijão alegou que o corredor de Latchin foi bloqueado por alegados manifestantes ambientais, algo que foi refutado por autoridades internacionais, como desculpa para mobilizar as tropas azeris e garantir a "segurança" da região. Em julho, um antigo procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou que estava a ser preparado uma acusação de genocídio contra o Azerbaijão pela morte de arménios em Nagorno-Karabakh e pediu que o Conselho de Segurança.
Checkpoint no corredor de Latchin, do lado do Azerbaijão© Karen Minasyan/AFP via Getty Images
Finalmente, na segunda-feira, dia 18 de setembro, o corredor de Latchin foi finalmente aberto à ajuda da Cruz Vermelha pela Arménia, com trigo e produtos médicos essenciais. Mas a perspetiva de paz não durou muito: um dia depois, esta terça-feira, tropas do Azerbaijão lançaram "operações antiterroristas", depois de quatro polícias azeris e dois civis terem sido alegadamente mortos por separatistas com uma explosão de minas.
A Arménia garante que não tem tropas na região e Baku anunciou a criação de corredores humanitários para a retirada de civis.
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