A justiça norte-americana condenou na quinta-feira uma mulher, no estado do Arizona, a prisão perpétua, depois desta assumir a morte do seu filho de seis anos por não lhe dar comida e por mantê-lo num armário sem condições de habitabilidade.
O caso com contornos chocantes data do dia 2 de março de 2020, quando a avó das crianças, Ann Martínez, ligou aos serviços de emergência após encontrar Deshaun Martínez inconsciente na casa, localizada na cidade de Flagstaff, no Arizona.
Alertamos que alguns dos detalhes descritos no julgamento poderão ferir as suscetibilidades dos leitores mais sensíveis.
Os pais das crianças disseram inicialmente que o estado malnutrido do filho - que, com seis anos, pesava apenas oito quilos - se devia a uma condição médica e à toma de medicamentos com cafeína. Mas, eventualmente, disseram à polícia que mantinham o menino e o seu irmão mais velho num armário durante 16 horas por dia, com pouca comida.
Segundo a Associated Press, a autópsia determinou que Martínez morreu de fome extrema, e a sua morte foi considerada como um homicídio. O irmão sobreviveu.
Os dois rapazes eram castigados pelos pais por 'roubarem' comida enquanto os progenitores dormiam. O casal tinha ainda duas filhas, uma com quatro e outra com dois anos de idade, que vivam saudáveis no apartamento.
Durante a audiência de quinta-feira, na qual foi anunciada a sentença, uma detetive de Flagstaff que esteve no local, Melissa Seay, contou que, no dia em que o corpo foi encontrado, esteve a examinar o armário - com uma dimensão de, aproximadamente, 53 por 63 centímetros - onde os rapazes dormiam. No interior, estava um pedaço de plástico laranja, com um "cheiro intenso e horrível a urina".
"Nunca vi nada tão horrível na minha vida", disse Seay.
A sua descrição sobre o menino é ainda mais explícita, detalhando que Deshaun "era só ossos". "A sua cara estava completamente para dentro. Parecia só um esqueleto. Os seus ossos estavam a sair pelas costas, conseguia ver as costelas", apontou a agente, que acrescentou que o seu irmão não estava em muito melhor estado.
As fotos usadas pelas autoridades no caso não foram demonstradas em tribunal, por serem demasiado violentas.
A advogada da mãe das crianças, Elizabeth Archibeque, de 29 anos, disse que a mulher era toxicodependente e consumia metanfetaminas praticamente desde o nascimento, além de sofrer de vários problemas de saúde mental e de ter passado por uma infância traumática. Também foi denunciado que o marido e a sogra - que também foram acusados no mesmo caso, mas em julgamentos diferentes - exerciam abusos físicos e psicológicos sobre a arguida.
A defesa de Archibeque pediu que a sentença incluísse liberdade condicional ao fim de 35 anos, por esta ter assumido a culpa pelos crimes de homicídio em primeiro grau e abuso infantil. Mas o magistrado Ted Reed considerou que, embora a mãe tivesse expressado remorsos genuínos, o seu "comportamento cruel e depravado" mereciam "prisão para o resto da sua vida natural".
Elizabeth Archibeque ainda falou em tribunal, pedindo desculpas pelo caso. Também a sua advogada comentou que a mulher sentia-se "mais livre" na prisão do que com o marido, e "estava perfeitamente consciente que iria passar o resto da vida na prisão".
O pai das crianças, Anthony Martinez, e a avó, Ann Martinez, foram acusados de homicídio e abuso infantil, e serão julgados em separado no próximo ano.
Os dois lados do caso concordaram em selar os documentos relativos à saúde dos meninos, para proteger a privacidade das crianças sobreviventes. Os três filhos foram acolhidos por uma família, que contou que o irmão de Deshaun estava muito traumatizado pelo incidente, pedindo "a cada cinco minutos" quando seria a próxima refeição e carregando consigo uma lancheira.
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