Esta retenção de informação "constituiu responsabilidade do Estado no desaparecimento dos jovens", disse à imprensa um dos peritos, o espanhol Carlos Beristain.
Os peritos estrangeiros consideram "impossível" continuar a sua investigação face à "insistência em negar coisas que são óbvias" por parte do Estado, acrescentou, apresentando o sexto e último relatório dos peritos.
O caso dos "Ayotzinapa 43", que atraiu uma atenção excecional dos meios de comunicação social locais e estrangeiros, é a face oculta da "tragédia humana" - como diz a Organização das Nações Unidas - das mais de 100.000 pessoas desaparecidas no México.
Os 43 estudantes da escola de formação de professores de Ayotzinapa, de origem humilde, desapareceram na noite de 26 para 27 de setembro de 2014, em Iguala, no Estado de Guerrero, no sul do país.
Segundo a "verdade histórica" do anterior Governo (2012-2018), foram detidos pela polícia local, em conluio com criminosos que mataram os estudantes e fizeram desaparecer os corpos.
Esta versão oficial foi posta em causa pelos peritos do Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes (GIEI), que iniciou as suas investigações em 2015, na sequência de um acordo entre o México e a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos.
No seu último relatório, publicado na terça-feira, o GIEI voltou a insistir na responsabilidade do Exército mexicano, que "permitiu" e "encobriu" os factos.
"Continuam a mentir sobre a falta de informação na Sedena [Ministério da Defesa] sobre o que aconteceu", afirmou Beristain, médico e psicólogo de formação.
A advogada colombiana Angela Buitrago afirmou que existem provas da presença de polícias e militares no interior do tribunal de Iguala na noite em que os estudantes desapareceram.
O GIEI conclui o seu mandato depois de o Presidente mexicano Andrés Manuel Lopez Obrador se ter comprometido a garantir o pleno acesso aos arquivos.
Há um ano, um relatório de uma comissão criada pelo atual Governo reconheceu a responsabilidade de militares e funcionários públicos no rapto e morte dos estudantes.
Em agosto de 2022, o ex-Procurador-Geral Jesus Murillo Karam, principal defensor da "verdade histórica", foi detido preventivamente.
No entanto, os peritos do GIEI denunciaram "incoerências" na investigação efetuada pela Comissão da Verdade. Apenas os restos mortais de três vítimas foram localizados e identificados.
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