Meteorologia

  • 25 ABRIL 2024
Tempo
18º
MIN 13º MÁX 19º

Porque é que há tensões entre Kosovo e Sérvia? Sete perguntas e respostas

As tensões entre a Sérvia e o Kosovo recrudesceram nos últimos três dias, depois de a polícia do Kosovo ter invadido zonas dominadas pelos sérvios no norte da região e se ter apoderado de edifícios municipais.

Porque é que há tensões entre Kosovo e Sérvia? Sete perguntas e respostas
Notícias ao Minuto

12:07 - 30/05/23 por Lusa

Mundo Conflito

Os confrontos, violentos, foram registados entre a polícia do Kosovo e as forças de manutenção da paz lideradas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), por um lado, e os sérvios locais, por outro, deixando várias pessoas feridas de ambos os lados.

A Sérvia aumentou a prontidão de combate das suas tropas estacionadas perto da fronteira e avisou que não ficará de braços cruzados se os sérvios do Kosovo forem novamente atacados. 

A situação voltou a alimentar os receios de uma renovação do conflito de 1998-99 no Kosovo, que custou mais de 10.000 vidas e deixou mais de um milhão de desalojados.

Mas afinal, porque é que a Sérvia e o Kosovo estão em conflito? 

O Kosovo é um território de população maioritariamente de etnia albanesa que foi uma província da Sérvia, e declarou a independência em 2008.

A Sérvia recusou-se a reconhecer o estatuto de Estado do Kosovo e continua a considerá-lo parte da Sérvia, apesar de não ter qualquer controlo formal sobre o território.

A independência do Kosovo foi reconhecida por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos. A Rússia, a China e cinco países da União Europeia (UE) estão do lado da Sérvia. O impasse tem mantido as tensões e impedido a estabilização total da região dos Balcãs após as guerras sangrentas dos anos 1990.

O que é que está em causa neste últimos confrontos?

Depois de os sérvios terem boicotado as eleições autárquicas De março passado no norte do Kosovo, onde os sérvios representam a maioria, os recém-eleitos presidentes de câmara de etnia albanesa mudaram-se sexta-feira para os seus gabinetes com a ajuda da polícia de choque do Kosovo.

Os sérvios tentaram impedi-los de ocupar as instalações, mas a polícia disparou gás lacrimogéneo para os dispersar.

Na segunda-feira, os sérvios organizaram um protesto em frente aos edifícios do município, desencadeando um tenso impasse que resultou em confrontos ferozes entre os sérvios e as forças de manutenção da paz do Kosovo e a polícia local.

O boicote eleitoral seguiu-se à demissão coletiva dos funcionários sérvios da região, incluindo pessoal administrativo, juízes e agentes da polícia, em novembro de 2022.

Quão profundo é o conflito étnico no Kosovo?

A disputa pelo Kosovo tem séculos de existência. A Sérvia considera a região como o coração do seu Estado e da sua religião. No Kosovo existem numerosos mosteiros medievais sérvios cristãos ortodoxos. 

Os nacionalistas sérvios consideram uma batalha travada em 1389 contra os turcos otomanos como um símbolo da sua luta nacional.

A maioria dos albaneses do Kosovo considera o Kosovo como o seu país e acusa a Sérvia de ocupação e repressão. Em 1998, rebeldes de etnia albanesa lançaram uma revolta para libertar o país do domínio sérvio.

A resposta brutal de Belgrado levou a uma intervenção da NATO em 1999, que obrigou a Sérvia a retirar-se e a ceder o controlo às forças internacionais de manutenção da paz.

Qual é a situação a nível local?

Existem tensões constantes entre o governo do Kosovo e os sérvios que vivem principalmente no norte do país e mantêm laços estreitos com Belgrado.

As tentativas do governo central para impor um maior controlo no norte, dominado pelos sérvios, deparam-se normalmente com a resistência destes últimos.

Mitrovica, a principal cidade do norte, foi dividida numa parte de etnia albanesa e noutra dominada pelos sérvios. Os dois lados raramente se misturam. 

Existem também enclaves mais pequenos povoados por sérvios no sul do Kosovo, enquanto dezenas de milhares de sérvios do Kosovo vivem no centro da Sérvia, para onde fugiram juntamente com as tropas sérvias que se retiraram em 1999.

Houve tentativas para resolver o conflito?

Para se encontrar um terreno comum entre os dois antigos inimigos de guerra têm sido envidados esforços internacionais constantes, mas até à data não foi possível chegar a um acordo global.

A UE tem mediado negociações destinadas a normalizar as relações entre a Sérvia e o Kosovo. Foram alcançados numerosos acordos durante as negociações, mas raramente foram aplicados no terreno. Nalguns domínios, foram obtidos resultados, como a introdução da liberdade de circulação no interior do país. 

Também foi lançada a ideia de alterar as fronteiras e de uma troca de terras, decisão que foi rejeitada por muitos países da UE por se recear que pudesse provocar uma reação em cadeia noutras zonas etnicamente mistas dos Balcãs e desencadear mais problemas na região, que passou por guerras sangrentas na década de 1990.

Quem são os principais atores?

Tanto o Kosovo como a Sérvia são dirigidos por líderes nacionalistas que não demonstraram disponibilidade para um compromisso.

No Kosovo, Albin Kurti, um antigo líder de protestos estudantis e prisioneiro político na Sérvia, lidera o governo e é o principal negociador nas conversações mediadas pela UE. É também conhecido como um acérrimo defensor da unificação do Kosovo com a Albânia e é contra qualquer compromisso com a Sérvia.

A Sérvia é liderada pelo presidente populista Aleksandar Vucic, que foi ministro da Informação durante a guerra no Kosovo. O antigo ultranacionalista insiste que qualquer solução tem de ser um compromisso para ser duradoura e diz que o país não se vai conformar a não ser que ganhe alguma coisa.

O que vai acontecer a seguir?

As autoridades internacionais esperam acelerar as negociações e chegar a uma solução nos próximos meses.

Ambos os países têm de normalizar as relações se quiserem avançar para a adesão à UE. A ausência de um avanço significativo provocaria uma instabilidade prolongada, um declínio económico e um potencial constante de confrontos.

Qualquer intervenção militar sérvia no Kosovo significaria um confronto com as forças de manutenção da paz da NATO aí estacionadas. Belgrado controla os sérvios do Kosovo e o Kosovo não pode tornar-se membro da ONU e um Estado funcional sem resolver o diferendo com a Sérvia.

Leia Também: Tensão mantem-se no norte do Kosovo depois de confrontos segunda-feira

Recomendados para si

;
Campo obrigatório