O ataque provocou ainda 30 feridos, 20 dos quais em estado grave, anunciou o Ministério dos Direitos Humanos do Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês), que afirma ser a autoridade legítima da antiga Birmânia.
A confirmar-se, trata-se do ataque mais mortífero do regime militar desde o golpe de Estado de 01 de fevereiro de 2021, que derrubou o governo eleito de Aung San Suu Kyi, segundo a agência espanhola EFE.
O ataque ocorreu durante a inauguração de um gabinete administrativo ligado ao NUG em Pazigyi, uma aldeia de cerca de 3.800 pessoas em Sagaing, um dos bastiões rebeldes de Myanmar.
Um porta-voz do NUG disse à EFE que as clínicas na zona colocaram o número de mortos em 168, e admitiu que a contagem é difícil devido à mutilação dos cadáveres.
Um sobrevivente disse à EFE, na quarta-feira, que os aviões do exército "lançaram uma bomba diretamente na multidão".
Um porta-voz do NUG disse que após o primeiro ataque durante a cerimónia, que atraiu muitas mulheres e crianças, houve um segundo bombardeamento quando voluntários tentavam encontrar sobreviventes.
Iinicialmente, o NUG disse que tinham sido mortas meia centena de pessoas, mas o balanço duplicou mais tarde e subiu hoje para 165.
As agências internacionais têm dificuldade em confirmar independentemente os ataques em Myanmar, porque as reportagens são sujeitas a restrições por parte da Junta Militar.
A escalada de violência segue-se à proclamação do líder da Junta Militar, general Min Aung Hlaing, de que iria aumentar a repressão contra o NUG e a sua ala armada, as Forças de Defesa do Povo (PDF, na sigla em inglês).
"Os atos de terror do NUG e dos seus lacaios, as chamadas PDF, devem ser combatidos para sempre", disse Min em 27 de março, num discurso por ocasião do Dia das Forças Armadas.
O exército birmanês assumiu, na quarta-feira, a autoria dos bombardeamentos, justificando-o como uma ação contra as PDF.
"Provavelmente, também morreram civis forçados a apoiá-los", declarou o general Zaw Min Tun ao canal de televisão oficial Myawaddy.
Enquanto o NUG foi formado em parte por antigos deputados destituídos pelo golpe militar, as PDF integram jovens que deixaram os estudos e o trabalho para fazer frente ao exército.
O exército controla apenas um quarto do país, segundo a EFE.
O ataque foi condenado pela comunidade internacional, incluindo Estados Unidos, União Europeia (UE) e Organização das Nações Unidas (ONU), a que se seguiu hoje a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), a que pertence Myanmar.
O NUG apelou hoje para que sejam decretadas "medidas punitivas" contra o regime militar.
As medidas incluem "uma proibição global da venda e transferência de armas e de combustível para a junta", bem como "o envolvimento do Tribunal Penal Internacional".
A ONU disse, em março, que mais de três mil civis foram mortos, 1,3 milhões foram forçados a fugir das suas casas e 16 mil foram presos desde o golpe.
A lista de presos políticos inclui Aung San Suu Kyi, 77 anos, a líder de facto do governo deposto.
O golpe militar pôs fim a uma década de transição democrática e mergulhou o país numa espiral de violência e numa semi-anarquia.
Atualmente com cerca de 54 milhões de habitantes, a antiga Birmânia tornou-se independente do Reino Unido em 1948.
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