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Ucrânia pede apoio, Rússia acusa Ocidente de "confundir" opinião pública

A Ucrânia pediu na quarta-feira ao Estados-membros das Nações Unidas (ONU) que não se "escondam atrás da máscara da neutralidade" e apoiem uma resolução pró-Kyiv, enquanto a Rússia acusou o Ocidente de tentar "confundir as pessoas".

Ucrânia pede apoio, Rússia acusa Ocidente de "confundir" opinião pública
Notícias ao Minuto

06:41 - 23/02/23 por Lusa

Mundo ONU

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, discursou numa sessão especial de emergência na Assembleia Geral da ONU que assinala um ano da invasão russa na Ucrânia, onde pediu apoio a um projeto de resolução que irá a votos e que enfatiza "a necessidade de se alcançar, o mais rápido possível, uma paz abrangente, justa e duradoura" na Ucrânia, de acordo com a Carta fundadora da ONU.

"Em vez de nos escondermos atrás da máscara da neutralidade, vamos escolher o lado da Carta da ONU e do direito internacional. Nunca na história recente a linha entre o bem e o mal foi tão clara. Um país apenas quer viver em paz e o outro quer matar e destruir", defendeu Kuleba.

"Há alguém nesta sala disposto a doar um metro quadrado do seu território para um vizinho sanguinário? Todos nós sabemos a resposta. Não há nenhum. E a Ucrânia é um de vocês. O mundo afogar-se-à se permitirmos a mudança de fronteiras pela força sob o disfarce de conveniência política ou simpatia pelo agressor", frisou o ministro ucraniano.

A resolução em causa foi redigida pela Ucrânia e aliados, incluindo a União Europeia, e deverá ser votada hoje em Assembleia Geral, onde se espera um amplo apoio.

De acordo com Kuleba, esta resolução pretende enviar uma mensagem forte e clara de que a Carta da ONU, incluindo os princípios de igualdade soberana e integridade territorial, deve servir de base para o processo de resolução pacífica na Ucrânia.

Após o discurso de Kuleba, foi a vez do embaixador da Rússia junto à ONU, Vasily Nebenzya, apelar no sentido oposto, avaliando que esta resolução não passa de uma nova tentativa de "propaganda anti-Rússia conduzida pelos ocidentais".

"Começar a contar a história a partir do dia 24 de 2022 [data da invasão da Ucrânia] e ignorar tudo o que veio antes é uma tentativa intencional do Ocidente de confundir as pessoas e esconder as verdadeiras razões do conflito", advogou Nebenzya.

"Em outras palavras, iniciamos uma operação militar especial para interromper a guerra de oito anos de Kyiv contra o povo de Donetsk e Lugansk", argumentou o diplomata russo.

Perante uma vasta audiência, que incluiu ministros de vários países, Nebenzya acusou ainda o Ocidente de "hipocrisia" e de não ser possível acreditar nos apelos de paz de vários representantes ocidentais, uma vez que têm "transformado a Ucrânia numa plataforma militar" próxima às suas fronteiras.

"Esta é uma lógica de colonizador, de colocar vizinhos uns contra os outros. Isso é bem conhecido dos nossos parceiros africanos e asiáticos", acrescentou ainda o embaixador, referindo-se às geografias que se têm abstido de condenar a invasão russa.

Vasily Nebenzya argumentou ainda ser cada vez mais difícil para o campo ocidental mobilizar os Estados-membros "em apoio à cruzada contra a Rússia", apelando ao corpo diplomático presente na sessão que se oponha ao projeto de resolução que irá a votos.

Face à resolução que será votada, a Bielorrússia, aliada mais próxima de Moscovo, propôs uma série de emendas que serão votadas primeiramente.

Essas emendas, apoiadas por Nebenzya, pedem a exclusão da linguagem referente à "invasão em grande escala da Ucrânia", à "agressão da Federação Russa", e da exigência de que a Rússia retire imediatamente todas as suas tropas do território ucraniano.

Também pedem o início das negociações de paz, exortam os países "a absterem-se de enviar armas para a zona de conflito" e pedem aos Estados-membros da ONU que abordem as causas profundas do conflito.

Nebenzya alertou que se a resolução apresentada pela Ucrânia e aliados - e já co-patrocinada por quase 70 países - não for alterada de acordo com as propostas da Bielorrússia, "não contribuirá para a paz" porque vai expressar o ponto de vista unilateral do Ocidente: "a soma dos Estados Unidos, União Europeia e NATO", disse.

Contudo, os países aliados da Ucrânia, como os Estados Unidos, usaram o palco da Assembleia Geral para pedir precisamente a rejeição dessas emendas e a adoção da versão original do texto.

"Colegas, peço-vos que votem contra -- contra toda e qualquer emenda hostil que busque minar a Carta da ONU e ignorar a verdade desta guerra. Exorto-vos, em vez disso, a votar 'sim' a favor desta resolução tal como está", apelou a diplomata norte-americana, Linda Thomas-Greenfield.

Outro dos intervenientes nesta sessão especial foi o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, que rejeitou a dicotomia Rússia/Ocidente e lembrou: "se não condenarmos hoje as ações da Rússia na Ucrânia, isso aumenta os riscos de outros países, em outras partes do mundo, de sofrerem uma agressão semelhante".

O diplomata europeu sublinhou que a União Europeia e a Ucrânia, na preparação da resolução, "foram tão transparentes e inclusivos quanto possível" e concordaram com inúmeras alterações, mas existem vários princípios não negociáveis: "Que a Rússia ponha fim a todos os ataques e retire todos os suas forças e equipamentos militares da Ucrânia, e que o façam imediata, completa e incondicionalmente."

Resta saber se a resolução patrocinada pela União Europeia consegue igualar ou superar os 143 votos, o maior apoio recebido pela Ucrânia numa resolução votada em outubro passado.

Leia Também: ONU provou que "lançar guerra e destruir um país" tem "um custo"

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