Berlim bloqueia tanques por receio da reação de Moscovo, dizem analistas

O receio de uma escalada militar com Moscovo e a relutância de Berlim em assumir uma liderança a Ocidente levam a Alemanha a bloquear o envio de tanques pedidos por Kiev, de acordo com analistas ouvidos pela agência AFP.

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Lusa
20/01/2023 22:47 ‧ 20/01/2023 por Lusa

Mundo

Guerra na Ucrânia

A pressão sobre Olaf Scholz aumentou esta semana, desde Kyiv a Davos, passando por várias capitais europeias, mas o chanceler alemão ainda não deu luz verde para o envio dos tanques 'Leopard 2' para o campo de batalha ucraniano.

A recusa tem irritado o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que já garantiu que irá "parar o mal" com esses tanques: "Há momentos em que não devemos hesitar", sublinhou o líder ucraniano durante o Fórum Económico de Davos.

Para especialistas militares, os 'Leopard 2' terão um impacto decisivo contra o Exército russo.

"Em termos de apoio ocidental à Ucrânia até agora, os tanques são a peça que falta no puzzle", sublinhou, à AFP, Ed Arnold, do 'think tank' britânico Royal United Services Institute (RUSI).

O envio de uma centena desses dispositivos, que muitos países europeus têm, teria um impacto significativo, observou, por sua vez, o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS).

Países como a Polónia ou a Finlândia, que estão prontos para entregá-los a Kiev, precisam de obter o aval de Berlim, porque foi naquele país que foram construídos.

"A impressão de uma Alemanha que se opõe é falsa", assegurou, no entanto, o novo ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, à margem de um encontro de aliados de Kiev na base norte-americana de Ramstein, na Alemanha.

"A minha impressão é que o governo [alemão] quer certamente apoiar a Ucrânia, mas ao mesmo tempo ainda teme que isso provoque uma escalada por parte da Rússia", sublinhou Jana Puglierin, investigadora do Conselho Europeu para relações internacionais.

Sudha David-Wilp, do think-tank alemão MarshallFund, destacou à AFP que a Alemanha e outros países europeus estarão preocupados "com a malícia e com o que a Rússia pode fazer em termos de sabotagem no continente".

A Alemanha tem sido, de resto, palco nos últimos anos de vários ataques cibernéticos atribuídos a serviços russos.

Os próprios alemães estão muito divididos quanto a possíveis entregas de tanques: 46% são a favor, 43% contra, segundo uma sondagem recente do canal público ARD.

Scholz pertence a um partido político - Partido Social-Democrata (SPD) -- que há muito defende uma forma de adaptação com Moscovo, que é difícil de romper de um dia para o outro.

Mas para Puglierin, esta também pode ser uma postura tática do sucessor de Angela Merkel.

"Os norte-americanos apelidam de 'ferver o sapo' [boiling the frog, em inglês]. Trata-se de aumentar lentamente o apoio à Ucrânia, para não provocar muito a Rússia", vincou.

Para Jana Puglierin, a Alemanha irá, finalmente, autorizar estas entregas e, provavelmente, até participar nelas, lembrando que sobre os veículos blindados de combate de infantaria Marder, decorreu a mesma discussão até Berlim concordar em entregá-los no início de janeiro, em consonância com Washington e Paris.

O governo alemão prefere "alinhar-se a assumir a liderança", salientou David-Wilp, devido ao "medo de liderar".

Já Puglierin frisou ainda que o governo alemão está "completamente confortável com os Estados Unidos como potência dominante".

Esta tarde, após a reunião do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia na Alemanha, o Ministério da Defesa Nacional indicou em comunicado que Portugal vai enviar mais 14 viaturas blindadas M113 e oito geradores elétricos de grande capacidade para a Ucrânia, elevando "para 532 toneladas o total de equipamento militar, letal e não letal" fornecido ao país.

No que se refere ao envio de tanques Leopard 2 para a Ucrânia, o ministério indicou que, durante o encontro em Ramstein, "Portugal participou numa reunião convocada pela Ucrânia e pela Polónia onde estiveram presentes os países que possuem estes meios". Portugal tem 37 tanques Leopard.

"Nessa reunião a ministra da Defesa Nacional reiterou a oferta de treino nesta tipologia carros de combate e manifestou a disponibilidade do Governo português para identificar, de forma coordenada com os seus parceiros, formas de apoiar a Ucrânia com esta capacidade", referiu o ministério.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e quase oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Leia Também: Museus de Berlim preparados para devolver crânios humanos de ex-colónia

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