O governo peruano decidiu, esta quarta-feira, declarar estado de emergência em todo o país, pelos próximos 30 dias, situação que implica a suspensão dos direitos de reunião, inviolabilidade do domicílio e liberdade de movimento, entre outros, enquanto avalia a possibilidade de declarar recolher obrigatório.
“O estado de emergência foi acordado para todo o país, devido aos atos de vandalismo e violência, apreensão de rodovias e estradas que já são atos desestabilizadores (...) e exigem uma resposta contundente e autoritária”, disse o ministro da Defesa, Alberto Otarola, citado pelo Cadena Ser.
Os protestos no Peru intensificaram-se nos últimos dias, com o bloqueio de estradas e a ocupação do segundo maior aeroporto do país, em Arequipa, que fica a cerca de 1.200 quilómetros da capital, Lima.
Além do bloqueio do aeroporto, as manifestações no Peru intensificaram-se com cortes de estradas por todo o país num amplo movimento popular e indígena que contesta a elite política de Lima.
Até ao momento, sete manifestantes morreram nos protestos e mais de uma centena de polícias foram feridos, 15 dos quais num ataque com explosivos.
A adoção das medidas pelo Governo insere-se no contexto da eclosão de protestos que o Peru vive desde a semana passada, quando o então Presidente Pedro Castillo lançou uma tentativa de golpe de Estado ao determinar a destituição do Congresso, a constituição de um governo de emergência e a reorganização do sistema de justiça.
Esta crise política, que culminou com a destituição, a detenção de Castillo e a subida ao poder da vice-Presidente, Dina Boluarte, resultou em manifestações em várias regiões do país, sobretudo na zona sul.
A elite política e a oligarquia de Lima sempre desdenharam Castillo, um professor rural de origem indígena e dirigente sindical sem ligações às elites, sobretudo apoiado pelas regiões andinas desde as eleições presidenciais que venceu por curta margem na segunda volta contra a candidata de extrema-direita Keiko Fujimori, a filha do anterior presidente Alberto Fujimori, condenado em 2009 a 25 anos de prisão, que não cumpriu na totalidade.
Dina Boluarte anunciou inicialmente eleições gerais para 2026, mas de seguida indicou ter "compreendido a vontade dos cidadãos" e disse ter "decidido tomar a iniciativa de um acordo (...) para avançar com eleições gerais em abril de 2024".
No entanto, os manifestantes continuam a exigir a dissolução do Congresso, eleições imediatas e uma nova Constituição.
Recorde-se ainda que sete jovens portugueses estão retidos num hotel na segunda maior cidade do Peru, onde os conflitos estão a impossibilitar o seu regresso a Portugal, disse à Lusa a mãe de um dos jovens.
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