Eleitores votam em Los Angeles sem filas e com confiança no processo
Num dia que amanheceu chuvoso em Los Angeles, uma raridade na cidade do sul da Califórnia, os eleitores estão a ir às urnas sem filas, sem incidentes e com confiança no processo eleitoral que hoje decorre nos Estados Unidos.
© Getty Images
Mundo Midterms
Pouco depois das oito horas da manhã locais, no Centro Recreativo de North Hollywood, a dez quilómetros do Passeio das Estrelas e do local onde são entregues os Óscares, o centro de votação ali instalado não tinha fila.
Ashley, que preferiu não revelar o apelido, disse à Lusa que passou pelo centro de votação apenas para entregar o boletim de voto.
"Há anos que voto por correspondência", indicou a eleitora.
"Desta vez não deu para enviar a tempo pelo correio e por isso vim cá entregar pessoalmente", prosseguiu.
Questionada sobre a confiança no processo eleitoral, Ashley quase nem esperou para ouvir a pergunta: "Claro que sim", respondeu. Mostrou-se otimista com a forma como as eleições estão a decorrer e fez questão de sublinhar que vota sempre, em todas as eleições, e quase sempre por correspondência.
Este é um formato que muitos eleitores preferem em Los Angeles e no estado da Califórnia, o mais populoso dos Estados Unidos com perto de 40 milhões de pessoas. Na véspera das eleições intercalares, já tinham votado por correspondência mais de 905 mil eleitores de Los Angeles, num universo de cerca de 6,6 milhões possíveis eleitores, segundo os dados do condado de Los Angeles.
É normalmente por esta via que Greg costuma votar, indicou o eleitor sénior, que falou à Lusa depois de entregar o boletim de voto.
"Costumo votar por correspondência e às vezes pessoalmente. Hoje vim votar pessoalmente", indicou, por detrás da máscara cirúrgica que usou na assembleia de voto.
"Tenho confiança no processo", afirmou, quando questionado sobre os vários formatos que são oferecidos aos eleitores.
E há vários. Um deles é preencher o boletim e entregá-lo num dos muitos recetáculos oficiais que estão espalhados pela cidade. A Lusa assistiu a vários eleitores a deixarem os seus boletins no recetáculo localizado ao pé da biblioteca Amelia Earheart Regional Library.
Outro é denominado como "curbside voting", votação no passeio, que consiste na votação sem sair do carro ou, para quem vai a pé, sem entrar na assembleia de voto. Os trabalhadores trazem ao eleitor o livro de votação para assinar, o boletim, caneta e o que mais for necessário. Quem deixou para a última hora pode até registar-se como eleitor no próprio dia e votar, de acordo com legislação aprovada recentemente na Califórnia.
Tanto no Centro Recreativo como noutros locais visitados pela Lusa, como a escola preparatória Walter Reed Middle School, havia a informação de que "curbside voting" estava disponível. No entanto, sem filas e sem demoras, a maioria dos eleitores optou por entrar e sair rapidamente, dizendo à Lusa que estavam com pressa e tinham de ir trabalhar.
É que as terças-feiras de eleições não são feriado e os patrões não são obrigados a dar flexibilidade aos empregados para irem votar. A opção de votar por correspondência e deixar o boletim de voto num recetáculo ou correios torna-se a melhor opção para muitos eleitores por causa disso.
Na assembleia de voto em North Hollywood, a chefe local explicou que não podia dar entrevistas mas que era permitida a observação do processo. O que os jornalistas não podem fazer é abordar os eleitores na assembleia ou mesmo à porta, podendo apenas falar com quem estiver disponível a cerca de oito metros da entrada, de forma a não interferir nem intimidar.
Este não é um problema em Los Angeles, cidade maioritariamente democrata onde não há dúvidas quem irá ganhar, mas pode ser um problema noutras cidades, em especial nos estados que serão cruciais para decidir as eleições.
No início de novembro, um juiz no Arizona limitou a ação do grupo Clean Elections USA, que alegava querer supervisionar os recetáculos de boletins com pessoas armadas a observar eleitores e a fotografá-los.
As eleições intercalares norte-americanas, que hoje decorrem, determinarão qual o partido que controlará o Congresso nos dois últimos anos do mandato do Presidente Joe Biden, estando também em jogo 36 governos estaduais e vários referendos estaduais a medidas sobre questões-chave, incluindo aborto e drogas leves.
Em disputa estarão todos os 435 lugares na Câmara dos Representantes (câmara baixa), onde os democratas atualmente têm uma estreita maioria de cinco assentos, e ainda 35 lugares no Senado (câmara alta), onde os democratas têm uma maioria apenas graças ao voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris.
As eleições podem não apenas mudar a cara do Congresso norte-americano, mas também levar ao poder governadores e autoridades locais totalmente comprometidos com as ideias do ex-Presidente republicano Donald Trump. Uma derrota muito pesada nestas eleições pode complicar ainda mais o cenário de um segundo mandato presidencial para Joe Biden.
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