Italianos com medo da inflação e esperança em governo novo

O medo da inflação e da guerra e a esperança de que um novo governo possa melhorar a vida dos italianos são os dois sentimentos mais comuns expressos por habitantes de dois bairros de Roma ouvidos pela agência Lusa.

Conservadores protestam frente ao Parlamento de Roma contra novo governo

© Reuters

Lusa
22/09/2022 11:40 ‧ 22/09/2022 por Lusa

Mundo

Itália

No mercado de Primavalle, um local suburbano e popular que sempre votou conforme as tendências eleitorais nacionais, mulheres com carrinhos apressam-se logo de manhã entre as bancas cheias de legumes e frutas.

Diletta, de 48 anos, tem dois filhos, um marido desempregado, e olha à entrada do mercado para uma raspadinha usada que acabou na calçada.

"Estamos a ver se alguém teria ganho alguma coisa e deitado o jogo fora, por engano", afirma, referindo que a família vende da renda de um espaço comercial que alugou.

"No domingo vamos votar esperando que algo mude. A maior preocupação que temos é não chegar ao final do mês. O dinheiro não é suficiente e nos próximos meses, as coisas só vão piorar. Estamos cheios de limitações, porque quando se paga os impostos e as contas, não sobra mais nada. Imagine que um dos meus dois filhos vai para a universidade...os livros são muito caros", afirma.

Ao seu lado na entrada do mercado está Carmine, de 73 anos, um ex-'carabiniere' [uma das forças policiais italianas], que afirma que os preços das matérias-primas são "resultado da especulação" de poderosos grupos internacionais.

"Espero que o próximo governo possa fazer melhor, porque nunca confiei no [primeiro-ministro cessante] Mario Draghi, ele é um banqueiro e também faz parte dessa elite que vai atrás dos seus próprios interesses", diz.

Nem todos criticam Draghi: Paola, uma agente comercial de 60 anos, considera que "trabalhou bem" e espera que "volte a ser primeiro-ministro, porque é bem visto no exterior".

"Acima de tudo, acho que ele é o único capaz de garantir um futuro para os nossos filhos", resume.

O avanço de uma possível direita pós-fascista é um dos assuntos mais falados no caminho para as eleições de 25 de setembro, com muitos manifestantes a aparecerem nos comícios da líder do partido Irmãos de Itália, Giorgia Meloni, herdeira de um partido nascido de um movimento pós-fascista, e a tentarem impedi-los de se realizar.

Meloni chegou a questionar a ministra do Interior italiana, Luciana Lamorgese, por alegadamente "não fazer o suficiente para permitir o curso normal" das iniciativas de campanha dos Irmãos de Itália.

As pessoas ouvidas pela agência Lusa dividem-se sobre até que ponto a direita de Giorgia Meloni inquieta os eleitores.

Paola acredita que o risco de ver os direitos civis limitados por um possível governo de centro-direita é forte, enquanto Carmine acredita que no exterior há uma visão distorcida da realidade italiana.

"Não tenho medo do nacionalismo. A Direita que existe na Itália não é a do [Presidente húngaro] Orbán, é diferente. Não acredito que as pressões fascistas ou as restrições às nossas liberdades venham de Meloni", refere o reformado.

Em Parioli, um dos bairros mais elegantes de roma, a esquerda tem sempre ganho nos últimos anos, mesmo quando perdeu a nível nacional, mas sempre se encontra quem não queira ir pelo caminho habitual.

Na rua principal, com lojas, bancos e edifícios históricos do princípio do século XX, Francesca, de 46 anos, leva o cão a passear, por entre o vaivém normal à entrada dos bares num dia de semana.

"Eu tinha uma loja de roupas, mas com a covid-19, fechei a porta. Estou mais preocupada com nossos filhos do que com qualquer outra coisa. Estou muito confusa e desiludida, vou para a votação com muita tristeza, ainda que tenha muita esperança de que Meloni vença. Tenho estima por ela, ela veio do nada, trabalhou no duro, fez sacrifícios e seria a primeira mulher a governar a Itália. Talvez pudesse trazer algo mais do que os homens que o fizeram até agora", argumenta.

Entre as suas maiores preocupações estão também as últimas declarações de Putin sobre a guerra na Ucrânia.

Micaela, 52, trabalhava numa grande empresa. Mas depois da pandemia, decidiu demitir-se e agora vive das suas poupanças.

"Temo pelo futuro, mas isso não significa que pense que podemos trocar a vida dos ucranianos pelo preço do gás. Entendo que há pessoas que não chegam ao final do mês, mas não podemos deixar de nos preocupar com a destruição que os russos estão a provocar naquele país", defende.

Leia Também: Juros da dívida sobem a dois anos para máximo desde março de 2014

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