Invasão sobre a Ucrânia "legítima" para parte da opinião pública chinesa

Parte da opinião pública chinesa vê a invasão da Ucrânia como uma ação legítima por parte da Rússia, face à rivalidade comum contra o "hegemonismo ocidental", encabeçado pelos Estados Unidos, e ao paralelismo com Taiwan.

CROW VALLEY, PHILIPPINES - APRIL 14:  A US-made HIMARS (High Mobility Advanced Rocket System) on static display during live fire exercises on April 14, 2016 in Crow Valley, Tarlac province, Philippines. US and Philippine troops are set to wrap up the 11-d

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Lusa
27/08/2022 08:17 ‧ 27/08/2022 por Lusa

Mundo

Guerra na Ucrânia

Na visão dos chineses que defendem a invasão russa, os intitulados grandes países têm o direito a desfrutar de segurança nas suas fronteiras.

"O povo ucraniano devia culpar sobretudo os seus líderes por terem provocado a Rússia ao aproximarem-se dos Estados Unidos", aponta Weiwei, agente imobiliária em Nanning, cidade do sudoeste da China, em declarações à Lusa.

Para o taxista Wang Tao, também ouvido pela Lusa, Moscovo teve que agir, perante a "iminência" de a Ucrânia ser armada por Washington para "lançar um ataque" contra a Rússia.

De acordo com uma sondagem publicada pelo Carter Center, organização sem fins lucrativos fundada pelo ex-Presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, 75% dos entrevistados chineses concordam que apoiar a Rússia é do interesse nacional da China. Cerca de 60% dos entrevistados esperam, no entanto, que a China desempenhe um papel na mediação do fim da guerra.

Pequim recusou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e criticou a imposição de sanções contra Moscovo. A China considera a parceria com o país vizinho fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos.

Em causa está também o paralelismo entre o conflito na Ucrânia e a questão de Taiwan, que Pequim considera ser uma "província rebelde" que deve ser reunificada, e não uma entidade política soberana.

"O conflito entre Rússia e Ucrânia é o 'contra-ataque' de [Presidente russo, Vladimir] Putin contra o plano do Ocidente, liderado pelos Estados Unidos da América (EUA), de desmembrar a Rússia", apontou Qiu Wenping, da Academia de Ciências Sociais de Xangai, um grupo de reflexão ('think tank') do governo, durante um debate televisivo.

"A posição da China é comparável à da Rússia. Os EUA estão claramente a manipular a questão de Taiwan e constantemente a atiçar as chamas para desmembrar a China, através da criação de uma Ucrânia do Oriente", acusou Qiu Wenping.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Pequim considera Taiwan parte do seu território e ameaça a reunificação através da força, caso a ilha declare formalmente a independência.

As visitas de políticos norte-americanos à ilha tornaram-se frequentes nos últimos dois anos, levando o Exército chinês a lançar exercícios militares em larga escala.

Pequim vê as visitas de alto nível ao território como uma interferência nos seus assuntos e um reconhecimento de facto da soberania de Taiwan.

A imagem do líder russo, Vladimir Putin, como um "durão", é também bastante apreciada na China, onde o regime autoritário privilegia líderes "fortes".

"Putin é um homem a sério, que não hesita em agir", confidencia, ainda em declarações à Lusa, a agente imobiliária Weiwei.

Dezenas de biografias e ensaios sobre Putin estão disponíveis nas livrarias chinesas, numa distinção rara para um estadista estrangeiro.

"Putin: Ele Nasceu para a Rússia", "O Punho de Ferro de Putin", "Putin: O Homem Perfeito aos Olhos das Mulheres" e "O Charme do Rei Putin" são alguns dos títulos expostos nas livrarias do país asiático.

"Putin tornou-se um ícone político, duro e implacável, na resistência à hegemonia do Ocidente", afirmou à Lusa um estudante chinês de 26 anos, formado em Relações Internacionais.

"Ele é um grande estadista, que renovou as esperanças e a fé do povo russo após a desintegração da União Soviética", acrescentou o estudante, que preferiu não ser identificado.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.

Leia Também: AO MINUTO: Mais ataques em Donetsk; 46 mil russos mortos em combate?

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