Logo que chegou à cidade na Ucrânia central, a cerca de 150 quilómetros a oeste de Kyiv, pouco antes das 17:00 (15:00 em Portugal), João Gomes Cravinho foi encaminhado para os abrigos da Administração Regional Civil e Militar de Jitomir, onde se manteve reunido durante cerca de meia-hora com as autoridades locais, "para passar em revista todas as possibilidades de apoio de Portugal para a reconstrução desta região, particularmente centrado na educação e nas escolas".
Já silenciado o alarme, sobre a experiência de permanecer dentro de um abrigo subterrâneo, que corresponde basicamente às caves do edifício, o governante reconheceu aos jornalistas que foi uma "experiência nova e diferente", lembrando que este é o dia-a-dia dos ucranianos.
"Efetivamente, as autoridades ucranianas e a população ucraniana já se habituaram a correr para os abrigos quando é necessário, quando soam os alarmes", comentou, acrescentando que "a realidade que toda a gente conhece é que os russos infelizmente não distinguem alvos militares e alvos civis".
Como exemplo, apontou o Liceu 25, junto à sede da administração regional e destruído por um míssil russo no início de março, e que será o primeiro estabelecimento de ensino da região a beneficiar do apoio português.
"Enfim, mais um alvo que nada tinha de militar e Portugal apoiará a reconstrução desse liceu e de outros estabelecimentos de ensino", apontou.
Além do apoio para a reconstrução, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros, as autoridades locais pediram ajuda também, conjuntamente com outros parceiros internacionais, para definir a base curricular para os alunos da região.
"A ambição não é apenas reconstruir o que já existia, em muitos casos de má qualidade, do tempo soviético, mas construir com novos padrões, de acordo com as necessidades de hoje e de amanhã", destacou.
Será o caso do Liceu 25, escolhido pelas autoridades locais como uma "necessidade de curto-prazo por se tratar de "uma escola de referência na cidade, que comportava cerca de mil alunos e que tiveram de distribuir por outras escolas".
O objetivo é que fazer as obras durante o próximo ano letivo para que esteja em funcionamento no seguinte, uma meta que "seria difícil sem a ajuda europeia", segundo Vitalii Ivanovuch Bunechko, líder da Administração Regional Civil e Militar de Jitomir, em declarações junto ao Liceu 25, ao lado do ministro português.
O responsável agradeceu todo o apoio à região mas também aos mais de 50 mil ucranianos que procuraram refúgio em Portugal, antes de se despedir de João Gomes Cravinho, que terminou em Jitomir a sua visita de um dia à Ucrânia, escassos minutos antes de os alarmes voltarem a soar na cidade.
O Liceu 25 está hoje como se encontrava no início de março quando foi visitado pela Lusa, poucos dias após o bombardeamento, que não causou vítimas graves porque as aulas já estavam suspensas desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
Alguns residentes num prédio vizinho ficaram feridos com os estilhaços das janelas partidas e metade da escola ficou destruída.
Três pisos no local do impacto desabaram, deixando a descoberto os corredores dos que ficaram de pé, salas de aulas e suas estantes ainda preenchidas com livros.
Num raio de cerca de 30 metros, até ao limite de uma igreja protestante que escapou incólume, o solo continua coberto por uma camada de tijolos de cimento projetados pela explosão.
Estimativas do governo ucraniano apontam para 1.200 estabelecimentos de ensino do país destruídos pela guerra, desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro.
O ministro dos Negócios Estrangeiros chegou hoje de manhã a Kiev, para reiterar o apoio de Portugal à Ucrânia no dia em que o país celebra o 31.º aniversário da sua independência e também quando se assinalam seis meses desde o início da invasão russa.
Da parte da manhã, João Gomes Cravinho avistou-se com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e com o seu homólogo, Dmytro Kuleba, tendo ainda visitado a cidade de Irpin, nos arredores de Kiev, e que foi severamente atingida por ataques russos e cenário de alegados crimes de guerra, que se encontram em investigação.
No início de julho, o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmygal, divulgou um plano de reconstrução da Ucrânia com um investimento a 10 anos de 750.000 milhões de dólares (mais de 746.600 milhões de euros, ao câmbio atual).
O investimento inclui os custos das reformas necessárias relacionadas com a adesão da Ucrânia à UE.
O plano foi divulgado numa conferência em Lugano, Suíça, em que quase quatro dezenas de países, incluindo Portugal, e instituições assinaram uma declaração sobre os princípios orientadores da reconstrução da Ucrânia.
Portugal vai participar, com outros países, na reconstrução de escolas na região de Jitomir, onde se estima que tenham sido destruídos cerca de 70 estabelecimentos de ensino.
[Notícia atualizada às 19h51]
Leia Também: Eleições em Angola. Cravinho com "expectativas positivas"