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"Está a ser feito com a família dos Santos o que foi feito com os Judeus"

Foi apresentado um recurso após o juiz decidir que o corpo do antigo presidente de Angola ia ser entregue à ex-mulher.

"Está a ser feito com a família dos Santos o que foi feito com os Judeus"

Tchizé dos Santos disse, esta quinta-feira, que está disposta a ir a "todas as instâncias para que prevaleça bom senso e justiça" no caso que envolve a entrega do corpo do pai, José Eduardo dos Santos.

"Tenho mandado os meus advogados para recorrerem a todas as instâncias necessárias no sentido de fazer prevalecer o meu direito e dos meus irmãos  a enterrarmos o nosso pai, num território em que o possamos fazer em segurança jurídica e também à nossa integridade física", afirmou, em declarações à SIC, no dia seguinte ao juiz encarregue do caso ter anunciado que o corpo será entregue à ex-mulher do antigo presidente da República, Ana Paula dos Santos, e de ter sido apresentado um recurso.

"Há uma luta para que seja a família a ter a  prioridade nesta última homenagem ao nosso pai""Há cinco irmãos que assinaram o documento", explicou, referindo-se ao recurso apresentado, e esclarecendo que não há nenhuma animosidade entre estes irmãos e os três filhos de Ana Paula dos Santos e José Eduardo dos Santos, ou mesmo a própria ex-mulher, a quem Tchizé apontou o dedo no rescaldo da morte do pai. "Há uma luta para que seja a família a ter a  prioridade nesta última homenagem ao nosso pai", rematou.

Tchizé, que está a lutar por esta "última homenagem" na justiça espanhola, referiu ainda que o Tribunal Constitucional espanhol já negou uma extradição a Angola por considerar que no país africano "não existe separação de poderes", ou seja, que "o poder judicial depende do presidente do executivo". "Como é sabido, Angola é uma ditadura", consideração ainda antes de exemplificar. 

A filha de José Eduardo dos Santos mostrou-se ainda conformada com o que as fontes judiciais espanholas confirmaram ontem - que José Eduardo dos Santos tinha morrido de causas naturais -, isto porque, na altura da morte do pai, Tchizé falou numa alegada tentativa de homicídio.

"Quando entrei com o processo foi no sentido de ser investigado um homicídio", lembrou, acrescentando que "não tendo sido possível provar-se este homicídio" teria, como cidadã, que aceitar.

Funeral em Luanda?

"Eu não irei ao funeral do meu pai em Luanda", garantiu, quando questionada sobre esta eventual situação, e reiterando que se isso acontecer - tal como tem vindo a ser falado - irá entrar com um processo no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. "Nenhum juiz europeu que obrigue um cidadão europeu a ir correr risco de vida num funeral em Angola - onde há uma ditadura vigente, comprovada, onde o Tribunal Constitucional desse país declara que Angola é uma ditadura - estará a fazer justiça". E e a irmã de Isabel dos Santos foi mais longe, colocando a hipótese de morrer - ou de ver a sua integridade física não preservada - nesta viagem para assistir às cerimónias de Estado.

"Estão a confessar que Angola é uma ditaduraQuestionada sobre se não acreditava nas garantias dadas pela Procuradoria-Geral de Angola sobre a 'luz verde' que Tchizé e Isabel dos Santos têm para entrar e sair de Angola em segurança para assistir as cerimónias, esta respondeu que essas declarações são a prova de como existe uma ditadura em Angola.

"Se António Costa ou Marcelo rebelo de Sousa fizessem declarações desta natureza reunia-se o Parlamento e provavelmente, eles cairiam do cargo, porque estariam a fazer uma confissão de que não têm respeito pela separação de poderes e que se imiscuem na justiça", considerou. "Estão a confessar que Angola é uma ditadura", reiterou, considerando que não era ao procurador-geral do país que cabia decidir quem é que entrava no país sob pena de prisão.

Só não nos põe em campos de concentração porque, no meu caso, eu tenho uma segunda nacionalidade"

"Eu entendo perfeitamente o que viveram os judeus no III Reich, porque o que está a ser feito com a família dos Santos em Angola é o que foi feito com os Judeus", afirmou, acrescentando: "Não temos direitos em Angola".

"Tive que divulgar nas redes sociais extratos bancários meus para justificar a origem do meu dinheiro perante o povo angolano", notou, lembrando que lhe foi congelada a uma conta de um banco pertencente ao estado angolano e o inquérito não foi fechado.

"Estamos a ser tratados da mesma maneira. Só não nos põem em campos de concentração porque, no meu caso, eu tenho uma segunda nacionalidade", referiu, prosseguindo para explicar que um dos irmãos, José Filomeno, só tem uma nacionalidade e que, por isso, está "refém" do estado angolano e não pôde "despedir-se" do pai. "Ele é um preso político".

"João Lourenço tem que ser tratado da mesma forma que Hugo Chávez. É um ditador que não merece respeito de nenhuma nação no mundo", referiu, acrescentando depois que tinha também nacionalidade portuguesa e apontou o dedo ao país.

"Portugal está a ser muito brando no tratamento com o senhor João Lourenço, que já ameaçou as autoridade as portuguesas, já pressionou as autoridade as portuguesas aos olhos de todos os portugueses", acusou.

E se ganhar o recurso?

"Angola terá o corpo do meu pai para ser visitado pela população quando já não houve um ditador - um assassino - chamado João Lourenço no poder", respondeu Tchizé quando questionada sobre a eventualidade de privar os angolanos das cerimónias fúnebres. "[João Lourenço é] Assassinado moral de José Eduardo dos Santos, que morreu deprimido".

Relutante em responder, Tchizé afirmou: "O meu pai ficará num jazigo acima do solo" - pelo menos, enquanto não for para Angola, afirmou Tchizé, garantido que o corpo irá para o país. "José Eduardo dos Santos será enterrado em Angola, mas não com os seus assassinos - o MPLA", finalizou.

[Notícia atualizada às 23h15]

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