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Grécia aceita dar asilo a refugiados presos em ilha infestada de cobras

Grupo de cerca de 40 sírios estava preso na ilha há um mês. Uma criança de cinco anos morreu devido à mordidela de um escorpião.

Grécia aceita dar asilo a refugiados presos em ilha infestada de cobras
Notícias ao Minuto

15:13 - 17/08/22 por Hélio Carvalho

Mundo Refugiados

A polícia grega aceitou finalmente, na terça-feira, dar acomodação temporária a um grupo de refugiados sírios presos há cerca de um mês numa ilhota perto do rio Evros, completamente infestada de cobras e escorpiões.

O grupo, de cerca de 40 pessoas, viu o seu pedido de asilo ser recusado tanto pela Turquia como pela Grécia. Durante a espera, uma criança, Maria, de apenas cinco anos, acabou por morrer depois de uma picada mortífera de um escorpião - informação confirmada pela Amnistia Internacional e pelo The Guardian. A irmã, de nove anos, encontra-se gravemente doente, acrescenta o jornal britânico.

O ministro das migrações da Grécia, Notis Mitarachi, afirmou na terça que o governo ia tentar recuperar o corpo de Maria.

Através do Twitter, a Amnistia Internacional mostrou alívio pelo facto de o grupo se encontrar em segurança na Grécia, mas lamentou a morte da criança e recordou que "pedir asilo é um direito humano".

Em comunicado, a diretora de política europeia do Internacional Rescue Comittee (uma das maiores organizações não-governamentais de defesa dos direitos dos refugiados), Niamh Nic Carthaigh, afirmou que o que ocorreu na ilhota no rio Evros é "um jogo político de irresponsabilidade nojenta", e considerou que os refugiados estão a sofrer e a morrer devido à política de rejeição de refugiados da União Europeia (UE).

Já Dimitra Kalogeropoulou, diretora da instituição na Grécia, afirmou que o atraso no acolhimento do grupo de sírios "realça a brutalidade das rejeições, que sabemos que estão a ter lugar por toda a Europa".

Baida Al-Saleh, uma das refugiadas do grupo, foi documentando a viagem com as poucas condições de que dispunha. Ao The Guardian, contou que o grupo chegou à ilhota (localizada mesmo em cima da fronteira terrestre entre a Grécia e a Turquia) no dia 14 de julho, mas foram obrigados a recuar até à Turquia, quando o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos rejeitou a sua permanência.

No início de agosto, estavam de volta à ilhota e foram sobrevivendo bebendo água do rio e comendo milho e folhas. "Eles estão a tratar-nos como animais", disse a mulher de 27 anos, numa mensagem de voz gravada na semana passada.

Grupos de ativistas foram pressionados ambos os governos que desde 2015 disputam entre si o número de refugiados a acolher. A Turquia é a principal 'ponte' terrestre entre o Médio Oriente e a Europa, levando a que muitos refugiados a fugir de conflitos armados (especialmente na Síria e o Iémen) usem a fronteira turca para chegar à Europa; por outro lado, a Grécia e a Itália afirmam que não têm mais condições nem fundos para acolher refugiados. Os campos nos dois países continuam a encher-se de migrantes que procuram asilo na Europa, tornando-se em graves focos de crises humanitárias e de condições humanas paupérrimas.

Neste caso em particular, a Grécia foi recusando assistência, argumentando que a pequena ilhota pertencia à Turquia. Já as autoridades turcas alegam que foram procurar o grupo a 10 de agosto, mas não encontraram ninguém.

No entanto, jornalistas e advogados em contacto com os migrantes desmentem as autoridades nacionais, garantindo que o grupo estava no local. Giorgos Christides, do Der Spiegel, acrescenta que os refugiados foram ameaçados à mão armada por militares turcos, e obrigados a entrar de novo no rio.

O grupo finalmente chegou a território (oficialmente) grego, utilizando um barco deixado por outros refugiados. A bordo ia também uma mulher grávida, de nove meses.

As organizações não-governamentais, como a Amnistia Internacional e o Internacional Rescue Comittee, acusam a União Europeia de ser hipócrita nas suas mensagens de acolhimento e promessas de fundos para receber migrantes provenientes do Mediterrânea, enquanto as autoridades gregas e italianas rejeitam constantemente embarcações de requerentes de asilo.

Segundo a lei europeia, os migrantes intercetados pela Frontex (a agência europeia de proteção de fronteiras) devem ser levados para o porto mais próximo, e não para o porto europeu mais próximo. Esta mudança de prática tem levado a uma maior proximidade entre as autoridades europeias e governos no Norte de África, nomeadamente com o da Líbia, e várias ONG apontam o dedo à União Europeia por ajudar a financiar centros de detenção onde autoridades líbias praticam tortura contra refugiados que tentam chegar à Europa.

Leia Também: Migrantes. Dezenas de desaparecidos após naufrágio ao largo da Grécia

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