Bloco civil pede que manifestações continuem contra militares no Sudão
O principal bloco político civil do Sudão apelou hoje aos manifestantes pró-democracia para manterem os protestos contra a junta militar que tomou o poder em outubro, rejeitando o seu anúncio "tático" de retirada do diálogo nacional.

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Mundo Sudão
"O nosso dever agora é manter a pressão popular por todos os meios pacíficos" para "forçar os golpistas a partir para serem substituídos por um poder civil totalmente democrático", disseram em comunicado as Forças para a Liberdade e a Mudança (FLM), coluna vertebral do Governo civil deposto pelo golpe de Estado de 25 de outubro.
Centenas de pessoas têm-se manifestado desde sexta-feira na capital, Cartum, e nos arredores, em protestos que segundo uma associação de médicos local já fizeram 11 feridos.
As forças de segurança usaram gás lacrimogéneo contra os manifestantes nos bairros de Burri e al-Jawda na segunda-feira à noite, disse o Comité de Médicos do Sudão, que tem contabilizado as vítimas da violência nos protestos.
Nesse mesmo dia, Abddelfatah al-Burhan anunciou que as Forças Armadas não participariam no fórum que ONU e União Africana estão a promover, para os partidos formarem um Governo civil.
O Conselho Soberano, controlado exclusivamente pelos militares desde o golpe de outubro passado, não intervirá no diálogo com os partidos políticos para lhes dar a oportunidade de formar um Governo civil, disse Al-Burhan, que preside ao conselho, num discurso transmitido pela televisão.
"Após a formação do novo Governo, o Conselho Soberano será dissolvido e formaremos um Conselho Supremo das Forças Armadas que será responsável pelas tarefas de segurança e defesa", acrescentou.
Para as FLM, com este anúncio Abddelfatah al-Burhan protagonizou "uma retirada tática para fazer crer que os militares se retiravam para as suas casernas".
Além disso, ao criar um Conselho Supremo das Forças Armadas para substituir o atual Conselho Soberano, a mais alta autoridade do país, Burhane perpetua a presença dos militares no poder, o que é "inaceitável", avisou Omar el-Degeir, das FLM.
"Queremos o fim deste poder golpista e a sua queda. Os sudaneses formarão eles próprios o seu poder civil", reiterou, numa conferência de imprensa em Cartum.
"Não fazemos e não faremos nunca parte de uma partilha de poder", disse Sadiq Sadeq el-Mahdi, um dos dirigentes do partido Oumma, o mais antigo no país e que faz parte das FLM.
"Esse discurso é a maior traição de Burhane, mais ainda do que o seu golpe de Estado de outubro", acrescentou Taha Othmane, também membro das FLM.
O Conselho Soberano, a autoridade máxima da transição no Sudão, foi formado em 2019, na sequência da "revolução" que levou ao derrube do ditador Omar al-Bashir, que estava no poder há 30 anos.
No processo, foi formado um Governo de transição com civis e militares, liderado pelo economista Abdallah Hamdok, mas em 25 de outubro de 2021 o golpe do general Al-Burhan pôs fim à frágil divisão do poder.
Os civis foram então excluídos do Conselho Soberano e o Governo e o poder foram monopolizados pelos militares e seus aliados paramilitares ou ex-rebeldes armados.
Desde então, grupos pró-democracia manifestam-se semanalmente e os protestos, que haviam perdido intensidade há vários meses, parecem voltar a ganhar o vigor anterior após a morte de nove manifestantes na quinta-feira.
Desde o golpe, 114 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas na repressão.
Leia Também: ONU quer investigação independente às mortes de manifestantes no Sudão
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