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'Menina de Napalm' recorda dor no Vietname e compara com tiroteio nos EUA

Kim Phuc Phan Thi tornou-se um símbolo da guerra no Vietname. Agora, recorda a fotografia e faz analogias com a guerra na Ucrânia e a tiroteio em Uvalde.

'Menina de Napalm' recorda dor no Vietname e compara com tiroteio nos EUA
Notícias ao Minuto

09:26 - 07/06/22 por Notícias ao Minuto

Mundo Vietname

No dia 8 de junho de 1972, uma rapariga de nove anos saiu casa em pânico, nua, assustada com o som de bombas, com o cheiro a fumo e com uma dor terrível na pele provocada por napalm, uma arma química usada pelos Estados Unidos no Vietname. O momento foi capturado por Nick Ut, que acabaria por ganhar um prémio Pulitzer, graças a uma das fotografias mais famosas de sempre.

Cinquenta anos depois, a rapariga na fotografia, Kim Phuc Phan Thi, recordou, num artigo de opinião no New York Times, o dia em que sentiu o napalm na pele, e a influência que a fotografia e as lesões tiveram na sua vida.

Explicando que o poder destrutivo e doloroso do napalm - cujo uso em guerra é proibido pela convenção de Genebra, tendo sido usado, por exemplo, pelas tropas portuguesas em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau -, Kim Phuc Phan Thi descreve que a substância "cola-se" à pessoa, "independentemente do quão rápido se corre, causando queimadores horríveis e dores que duram uma vida".

Kim Phuc Phan Thi, que agora lidera uma associação que presta apoio psicológico a crianças vítimas da guerra, faz comparações entre as fotografias dos horrores da guerra do Vietname e a guerra recente na Ucrânia e, mais particularmente, entre os tiroteios nas escolas norte-americanas.

Notícias ao Minuto A fotografia de Nick Ut, tirada para a Associated Press em 1972, no Vietname© Nick Ut  

"Podemos não ver os corpos, como vemos com as guerras internacionais, mas estes ataques são o equivalente doméstico da guerra. A ideia de partilhar imagens da carnificina, especialmente das crianças, pode parecer insuportável - mas devemos confrontá-las. É mais fácil escondermo-nos da realidade da guerra se não virmos as consequências", salienta.

Sobre o tiroteio em Uvalde, no Texas, onde morreram 19 crianças e dois professores, Phan Thi acrescenta que "mostrar ao mundo o resultado visual de um massacre armado" pode ser um passo em frente para acabar com a violência armada nos Estados Unidos.

Sobre a fotografia que a tornou famosa para o mundo inteiro, como uma criança nua de apenas 9 anos de idade, Kim Phuc Phan Thi conta que o fotógrafo a ajudou depois de tirar a fotografia, mas o trauma de ser conhecida, de ter estado nua e as cicatrizes que ficaram a transtornaram durante muito tempo.

"Ao crescer, às vezes pedia para desaparecer, não só por causa das minhas lesões - as queimaduras cicatrizaram um terço do meu corpo e causam dor crónica e intensa - mas também por causa da vergonha e do embaraço da minha desfiguração. Eu tentei esconder as minhas cicatrizes sob as minhas roupas. Tive depressão e ansiedade horrível. Crianças na minha escola afastavam-se de mim. Eu era uma figura de pena para os meus vizinhos e até para os meus pais", conta a sobrevivente.

Durante os anos 80, quando era uma adolescente, Kim Phuc Phan Thi refere que deu entrevistas, que conheceu líderes mundiais, e conta sobre as dificuldades de lidar com a fama da fotografia. Segundo a mulher, que vive agora no Canadá, "as fotografias capturam, por definição, momentos no tempo", mas recorda que "as pessoas sobreviventes nessas fotografias, especialmente as crianças, têm de seguir em frente".

"Não somos símbolos. Somos humanos. Temos de encontrar trabalho, de amar pessoas, de abraçar comunidades, de aprender locais e de ser acarinhados", diz.

Leia Também: Massacre no Texas. As imagens do primeiro funeral das vítimas de Uvalde

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