O caso da jovem tornou-se excecional num país que tem quase 100 mil pessoas desaparecidas no total, com o interesse "incessante" da imprensa local durante uma semana, após o seu desaparecimento na noite de 08 para 09 de abril, perto de Monterrey, capital industrial do norte.
Após 12 dias de buscas, o corpo de Debanhi Escobar foi encontrado em 21 de abril, no fundo de uma cisterna junto a um motel à beira da estrada em direção a Nuevo Laredo, na fronteira com os Estados Unidos.
A última fotografia da jovem -- à beira da estrada, sozinha à noite, de perfil, corpo esguio, cabelos cumpridos e braços cruzados -- tornou-se o emblema dos protestos feministas.
"Debanhi, empresto-lhe a minha voz", "exigimos justiça", gritaram mulheres na Cidade do México no domingo passado, após as manifestações ocorridas na sexta-feira em Monterrey.
O interesse por sua história ultrapassou as fronteiras do país da América do Norte, do Peru aos Estados Unidos.
"Desaparece uma mulher no México. Uma entre milhares", resumiu na quinta-feira o The New York Times, acrescentando que "o caso revive a raiva pela inação das autoridades".
Antes da descoberta do corpo da jovem, o pai, Mario Escobar, denunciou à imprensa as falhas na fase inicial das buscas.
"Este caso é mais visível do que os outros porque a imprensa assim o decidiu", disse à agência de notícias AFP Valeria Moscoso, especialista em questões psicossociais, ressaltando que as queixas de outras famílias de vítimas não tiveram o mesmo eco.
Este caso resume todos os defeitos da justiça nos casos de desaparecimentos de mulheres, acrescenta Valeria Moscoso: "a indiferença das autoridades, a cumplicidade, a culpa das vítimas, a criminalização das famílias e a impunidade dos agressores".
Na quarta-feira, na presença de Mario Escobar, o procurador-geral do estado de Nuevo León fez um mea culpa durante uma conferência de imprensa ao anunciar a demissão de dois procuradores públicos por "erros" e "omissões".
Por exemplo, as equipas de resgate passaram várias vezes perto da cisterna, mas só descobriram o corpo 12 dias depois.
Na mesma conferência de imprensa, o Ministério Público apresentou um vídeo para tentar esclarecer a situação.
Às 04:29 de sábado, 09 de abril, Debanhi Escobar estava a vaguear sozinha junto à estrada, antes de entrar no complexo do motel e se inclinar na janela de um restaurante abandonado, segundo as imagens das câmaras de segurança.
Antes, a jovem teria comprado uma garrafa de uma bebida alcoólica numa loja de conveniência com duas amigas, saindo depois de uma festa após uma discussão com outros jovens, de acordo com testemunhas e outras imagens de vídeo.
Segundo vários depoimentos, a jovem entrou num Transporte Individual e Remunerado de Passageiros em Veículos Descaracterizados a partir de Plataforma Eletrónica (TVDE), deixando-o depois por motivo desconhecido.
O motorista negou as acusações feitas Mario Escobar por um gesto inadequado, afirmando ter querido entrar em contacto com os familiares da jovem, razão pela qual tirou e partilhou a famosa fotografia junto à estrada.
"Há muitas hipóteses. Não podemos descartar nada", disse o procurador Gustavo Adolfo Guerrero.
"Não estamos a descartar nenhuma pista de investigação", admitiu o pai, que inicialmente falou em sequestro e assassínio.
A morte de Debanhi Escobar, por assassínio ou por queda acidental, provou uma indignação generalizada contra os feminicídios e os desaparecimentos.
Em Monterrey, uma jovem mãe, Yolanda Martinez, está desaparecida desde 31 de março, segundo a imprensa mexicana.
Um total de 322 mulheres desapareceram no estado de Nuevo Léon desde o início de 2022, mas, desvalorizou o procurador, "90% desses desaparecimentos são localizados em 72 horas".
No ano passado, México registou 33.308 homicídios, segundo dados oficiais. Quase 10% das vítimas são mulheres. Feministas denunciam uma média de 10 feminicídios por dia.
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