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França. Aumento do poder de compra nos últimos 5 anos exclui mais frágeis

A classe média mais frágil ficou excluída dos ganhos de poder de compra em França nos últimos cinco anos, revelam estatísticas oficiais, e depois da precariedade da covid-19 lida agora com aumentos dos preços da energia e alimentos.

França. Aumento do poder de compra nos últimos 5 anos exclui mais frágeis
Notícias ao Minuto

06:42 - 23/04/22 por Lusa

Mundo França/Eleições

Durante os cinco anos de mandato de Emmanuel Macron, que joga a reeleição nas eleições presidenciais de domingo frente a Marine Le Pen, as classes mais abastadas tiveram um aumento do poder de compra de cerca de 3,3%, enquanto os agregados mais modestos em França tiveram um aumento de 0,8% e os desempregados perderam mesmo 1,1%. Um resultado díspar, que explica a fratura na sociedade francesa.

"Podemos ter uma melhoria global do poder de compra, com uma melhoria do emprego e, ao mesmo tempo, assistir ao desenvolvimento de uma certa precariedade para uma parte da população", afirmou Pascal de Lima, economista franco-português, em declarações à Agência Lusa.

"Certas categorias de população, perderam mesmo o seu poder compra. Principalmente a classe média que exerce profissões que se têm vindo a perder face ao desemprego tecnológico, ligado à automatização. Assim como toda a gente que fazia pequenos trabalhos, remunerados muitas vezes abaixo do salário mínimo", indiciou Pascal de Lima.

No final de 2021, 41% dos franceses diziam que a sua escolha nas urnas neste domingo iria basear-se no tema do poder de compra, que se viu arrastado para a ribalta do debate mediático como uma consequência da pandemia e da guerra na Ucrânia, com a França a registar 4,5% de inflação em março de 2022. 

"A nível global, os dados estatísticos mostram que o poder de compra tem tendência a aumentar, ou seja, os rendimentos de atividade mais as transferências sociais têm tido tendência a aumentar nos últimos 20 anos. Não um aumento muito grande, mas tem melhorado", explicou o economista.

Este foi um tema abraçado desde o início da pré-campanha por Marine Le Pen, com a candidata a auto-declarar-se defensora das finanças dos franceses e propondo a diminuição do IVA dos preços da energia, de 20% para 5,5%, assim como a supressão total deste imposto sobre certos bens essenciais e o aumento anual de 10% do salário mínimo, cerca de 1.600 euros brutos.

Para os próximos cinco anos, Macron promete controlar os preços da energia, assim como um 'cheque alimentar' para complementar o 'cheque inflação' oferecido pelo Governo e aumentar o bónus introduzido pelo presidente em 2019.

Marine Le Pen e Emmanuel Macron enfrontam-se na segunda volta das eleições presidenciais francesas no dia 24 de abril.

A perda do poder de compra das classes mais baixas, agravada pelos preços das matérias-primas e bens alimentares, está já a levar à mudança de hábitos de muitos lares em França.

"Agora vemos que as pessoas levam um pequeno saco de pão, um frango e é tudo. Antes era garrafas de vinho, queijo, um bom pedaço de bacalhau e já não é assim. Um frango chega para quatro pessoas. Há 40 anos que trabalho neste setor e vejo que há um problema", relatou Armindo Teixeira, proprietário da cadeia de supermercados portugueses Les Halles du Portugal, na região parisiense.

Esta perda, segundo Pascal de Lima, é mais sentida atualmente porque novas despesas entraram nas contas mensais dos franceses nas últimas décadas como seguros para animais, aparelhos eletrónicos como telemóveis de última geração ou subscrições de serviços como a Netflix.

"Vai ter de passar a haver arbitragens no que toca a produtos que agora consideramos como bens de primeira necessidade, mas, na verdade, são bens de luxo. Para quem não trabalha com o carro, vai ter de deixar de ter carro, para quem faz muitas comunicações se calhar vai ser preciso reduzir o número de telemóveis em casa. Os franceses vão deixar de comprar certos produtos alimentares mais caros e passar a comprar marcas brancas", explicou o economista.

Esta situação, alerta, terá fortes consequências na economia, já que significa a entrada num ciclo vicioso que vai afetar as empresas que produzem bens alimentares mais caros, bem como os trabalhadores das mesmas. Em França, tal como noutros países, o óleo vegetal começa a escassear e o preço da farinha atinge novos recordes.

Mais do que medidas para compensar os aumentos dos preços e a inflação, Pascal de Lima espera que o próximo presidente aposte sim na qualificação do mercado de trabalho em França.

"Não falamos suficientemente do trabalho, falamos muito do poder de compra como se caísse do céu. Precisamos que as pessoas se projetem num percurso profissional que as torne felizes e abra caminho a esse poder de compra. Sem termos isso, vamos procurar outras justificações como a imigração ou outras desculpas", julga o economista, autor do livro 'Capitalismo e Tecnologia: relações perigosas' (2020).

Esta é também uma das maiores preocupações de Armindo Teixeira.

"O que eu gostava era de ver mais medidas de apoio ao trabalho. Medidas que flexibilizassem o mercado de trabalho porque é cada vez mais difícil encontrar pessoas que queiram trabalhar", considerou o empresário franco-português.

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