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Shehbaz Sharif eleito primeiro-ministro do Paquistão

Shehbaz Sharif foi hoje eleito primeiro-ministro do Paquistão durante uma sessão da Assembleia Nacional (parlamento) boicotada pela oposição, com a perspetiva de um período de grande instabilidade política após as declarações do seu antecessor Imran Khan.

Shehbaz Sharif eleito primeiro-ministro do Paquistão
Notícias ao Minuto

15:58 - 11/04/22 por Lusa

Mundo Paquistão

Sharif, 70 anos, chefe da Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N) e irmão mais novo de Nawaz Sharif, três vezes primeiro-ministro, obteve 174 votos num parlamento com 342 lugares.

Sucede a Khan, 69 anos, que liderava esta república islâmica de 220 milhões de habitantes e que possui armamento nuclear. Antigo jogador de cricket eleito em 2018, Imran Khan foi derrubado no domingo por uma moção de censura, uma situação inédita na história do país.

A sessão parlamentar de hoje foi boicotada pela larga maioria do Pakistan Tehreek-e-Insaf (Movimento do Paquistão para a justiça, PTI, o partido de Khan), com os deputados da força política a anunciarem a sua demissão em bloco do hemiciclo, à semelhança do ex-primeiro-ministro.

"Alá salvou hoje o Paquistão devido às orações de milhões de paquistaneses", declarou o novo chefe de Governo.

"É a vitória da retidão e o mal foi vencido", reforçou.

Sharif recebeu o apoio de uma coligação heterogénea, que inclui designadamente o Partido do Povo Paquistanês (PPP) de Bilawal Bhutto Zardari, filho da antiga primeira-ministra Benazir Bhutto, assassinada em 2007, e do pequeno partido religioso conservador Jamiat Ulema-e-Islam (JUI-F) de Maulana Fazlur Rehman.

A PML-N e o PPP, dois partidos fundados em dinastias familiares, dominaram a vida política nacional durante décadas, e partilharam o poder nos períodos onde o país, independente desde 1947, não estava submetido a um regime militar.

Na sequência do afastamento de Khan, resta saber como as duas formações, durante um longo período rivais mas que agora se uniram no parlamento, vão conseguir governar em conjunto.

"A história demonstra que não existe convergência ideológica entre eles", indicou o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Shah Mehmood Qureshi, o candidato do PTI ao cargo de primeiro-ministro, mas que não obteve qualquer voto.

O ex-ministro denunciou um "processo ilegítimo" antes de abandonar o hemiciclo com os seus colegas de bancada antes do voto.

Shehbaz Sharif é considerado menos carismático que o seu irmão Nawaz, mas também menos rígido e mais suscetível de garantir os necessários compromissos para permanecer no poder.

Para a influente hierarquia militar paquistanesa, era o líder da oposição mais aceitável, e quando as Forças Armadas permanecem decisivas em termos de influência do poder político, num país que esteve a sua direção durante três décadas, mesmo que não se tenha pronunciado publicamente nos últimos dias.

À semelhança de Nawaz, destituído em 2017 por alegada corrupção e detido, libertado dois anos depois por motivos de saúde e que deste então vive exilado no Reino Unido, Shehbaz Sharif foi relacionado com casos de suborno e corrupção. Foi detido e enviado para a prisão em setembro de 2020, mas foi libertado sob caução alguns meses depois. O seu processo continua em suspenso.

O PML-N acusou os militares de terem derrubado o Governo de Nawaz ao exercerem pressão sobre o sistema judicial, e Imran Khan, que subiu ao poder em 2018 após a aceitação pelas Forças Armadas, de ter prosseguido esta vingança contra Shehbaz.

O novo primeiro-ministro deverá não apenas manter a coesão no seu campo, mas também enfrentar a difícil situação económica do país, com uma inflação elevada, uma rupia em crescente desvalorização - apesar de hoje ter registado a maior subida em um dia -, e uma dívida que se agrava.

A degradação da segurança, com a multiplicação dos ataques do Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), os talibãs paquistaneses, será outro dos principais desafios do novo governante.

O novo dirigente deverá ainda decidir qual a estratégia a adotar em termos de calendário eleitoral para as próximas legislativas, em princípio agendadas para outubro de 2023.

Imran Khan, que tudo tentou para se manter no poder, e cuja saída acentua a polarização na sociedade paquistanesa, também deverá permanecer como um dos principais obstáculos do novo Governo.

O ex-primeiro-ministro denunciou uma "alteração de regime" orquestrada pelos Estados Unidos devido às suas críticas face à política norte-americana no Iraque ou no Afeganistão, com a cumplicidade da oposição, ou devido à visita a Moscovo em 24 de fevereiro, onde se reuniu com o Presidente russo, Vladimir Putin, no dia em que se iniciou a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Khan, deposto no fim de semana por uma moção de censura, também denunciou que o seu futuro sucessor no poder está envolvido em diversos casos de corrupção.

"O homem tem 16 mil milhões de rupias (79,6 milhões de euros) de corrupção num caso e oito mil milhões de rupias (39,8 milhões de euros) num outro caso. Quem quiser elegê-lo que o eleja, para o país não há maior insulto que isto", criticou.

O líder do PTI já prometeu mobilizar a rua, e na semana passada disse que nunca aceitaria "este Governo importado".

Shehbaz Sharif comprometeu-se hoje em abrir um inquérito parlamentar sobre estas alegações e a demitir-se de imediato "caso exista um dedo de prova" contra a sua coligação.

Numerosos paquistaneses, que em 2018 deram o seu voto a Khan pela sua denúncia da corrupção das elites simbolizada pelo PML-N e o PPP, permanecem sensíveis a este discurso e, segundo indica a agência noticiosa AFP, demonstram grande inquietação pelo regresso destes dois partidos ao poder.

Leia Também: Protestos no Paquistão contra afastamento de primeiro-ministro Imran Khan

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