Reunidos no exterior da grande mesquita Eid Gah, na capital Cabul, os manifestantes exigiram aos Estados Unidos uma compensação financeira pelas dezenas de milhares de afegãos mortos durante os últimos 20 anos de guerra naquele país.
"E o nosso povo afegão que fez muitos sacrifícios com milhares de perdas de vidas?", questionou o organizador da manifestação, Abdul Rahman, citado pela agência Associated Press.
O ativista adiantou ainda que planeia organizar mais manifestações na capital para protestar contra a ordem de Biden, considerando que o "dinheiro pertence ao povo do Afeganistão, não aos Estados Unidos".
O Presidente norte-americano, Joe Biden, assinou sexta-feira uma ordem executiva que permite a apreensão de sete mil milhões de dólares (cerca de 6,1 mil milhões de euros) de reservas do Banco Central afegão depositadas nos Estados Unidos, anunciou a Casa Branca.
Numa manobra extremamente invulgar que permite aos EUA tomar posse dos ativos de outro Estado, Biden pretende que os fundos sejam depositados na Reserva Federal de Nova Iorque, uma instituição pública.
O Presidente quer que metade do dinheiro seja reservado para pedidos de indemnização apresentados pelas famílias das vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001 e que a outra metade seja gasta em ajuda humanitária ao Afeganistão, para que o dinheiro não caia nas mãos dos talibãs, explicou a Casa Branca.
O Banco Central do Afeganistão já pediu a Biden que reverta ordem executiva e liberte a totalidade dos fundos, alegando, em comunicado, que as verbas pertencem ao povo afegão e não a um governo, partido ou grupo.
Torek Farhadi, consultor financeiro do ex-governo do Afeganistão apoiado pelos EUA, também questionou a legalidade da ordem de Biden.
"Essas reservas pertencem ao povo do Afeganistão, não aos talibãs. A decisão de Biden é unilateral e não condiz com a lei internacional", disse Farhadi, ao considerar que "nenhum outro país toma tais decisões de confisco sobre as reservas de outro país."
Ao todo, o Afeganistão tem cerca de nove mil milhões de dólares em ativos no exterior, incluindo sete mil milhões nos Estados Unidos, com o restante distribuído está principalmente pela Alemanha, Emirados Árabes Unidos e Suíça.
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