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Sul-africanos descobrem ativismo de Desmond Tutu na luta pela igualdade

O legado de ativismo do arcebispo Desmond Tutu em prol da igualdade continua a fazer caminho entre os jovens sul-africanos, muitos dos quais nascidos já depois de vencida a luta do clérigo contra o regime do 'apartheid'.

Sul-africanos descobrem ativismo de Desmond Tutu na luta pela igualdade
Notícias ao Minuto

15:58 - 27/12/21 por Lusa

Mundo Desmond Tutu

A África do Sul está a realizar uma semana de luto por Tutu, que morreu no domingo com 90 anos.

Desmond Tutu foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 1984 pelos seus esforços para conquistar plenos direitos para a maioria negra da África do Sul.

Após o fim do 'apartheid' em 1994, quando a África do Sul se tornou uma democracia, Tutu presidiu à Comissão Verdade e Reconciliação, instituição que documentou as atrocidades durante o regime de segregação racial e procurou promover a reconciliação nacional.

Tutu ganhou ainda enorme visibilidade enquanto um dos líderes religiosos mais proeminentes do mundo na defesa dos direitos LGBTQ (Lésbicas, 'Gays', Bissexuais, Transsexuais e 'Queer').

Alguns jovens sul-africanos, citados hoje pela agência Associated Press, admitiram que, embora não soubessem muito sobre Desmond Tutu, reconheciam-no como uma das mais destacadas figuras no processo de transição do 'apartheid' para a democracia.

Zinhle Gamede, com 16 anos, disse ter acabado de descobrir Tutu nos meios de comunicação e nas redes sociais e que tinha aprendido muito sobre o arcebispo emérito nas últimas 24 horas.

"Descobri sobre a sua morte ontem na televisão e no Facebook. As pessoas dizem que é uma das pessoas que lutou pela nossa liberdade. No início, só sabia que ele era arcebispo, não sabia realmente muito mais", admitiu.

"Penso que as pessoas que lutaram pela nossa liberdade são grandes pessoas. Estamos num lugar melhor por causa delas. Hoje vivo a minha vida livremente, ao contrário do que acontecia antigamente, quando não havia liberdade", acrescentou a jovem, confessando que a morte de Tutu a tinha levado a querer aprender mais sobre a história da África do Sul, especialmente sobre a luta contra o domínio da minoria branca.

Lesley Morake, 25 anos, disse saber de Tutu através do apoio declarado do clérigo aos direitos LGBTQ. "Como homossexual, é raro ouvir pessoas da igreja falar abertamente sobre as questões da homossexualidade. Descobri-o através de ativistas homossexuais, que por vezes usam as suas citações durante as campanhas", afirmou. "Foi assim que soube sobre ele, e é disso que me vou lembrar", acrescentou.

Tshepo Nkatlo, 32 anos, prefere escolher o que de positivo está a passar sobre Tutu, em vez de alguns sentimentos negativos que viu nas redes sociais.

"Uma das coisas que apanhei no Facebook e no Twitter foi que algumas pessoas o estavam a criticar pela TRC [Comissão de Verdade e Reconciliação, na sigla em inglês], porque ainda há muitas questões por esclarecer", afirmou, referindo-se a uma corrente de opinião segundo a qual Tutu deveria ter sido mais duro com os perpetradores de abusos durante o regime do 'apartheid'.

Os sinos da Catedral Anglicana de São Jorge, na Cidade do Cabo, África do Sul, tocaram hoje ao meio-dia durante 10 minutos em honra do arcebispo emérito e irão voltar fazê-lo, sempre à mesma hora, durante os próximos cinco dias.

"Pedimos a todos os que ouvirem os sinos que façam uma pausa nas suas ocupações por um momento em homenagem ao arcebispo Tutu", apelou o atual arcebispo da Cidade do Cabo, Thabo Makgoba.

O corpo de Desmond Tutu estará na catedral da Cidade do Cabo na próxima sexta-feira, e uma missa será realizada no sábado, informou Makgoba. Além disso, será realizado um serviço ecuménico para Tutu na quarta-feira, na capital da África do Sul, Pretória.

Os sul-africanos estão a encher de flores as portas da catedral, assim como a frente da casa de Tutu, na zona de Milnerton, na Cidade do Cabo, e a frente da sua antiga casa no bairro do Soweto, em Joanesburgo.

"Ele sabia na sua alma que o bem triunfaria sobre o mal, que a justiça prevaleceria sobre a iniquidade, e que a reconciliação prevaleceria sobre a vingança e a recriminação. Ele sabia que o 'apartheid' iria acabar, que a democracia viria", afirmou o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, num discurso de homenagem a Tutu, transmitido para todo o país no domingo à noite.

"Ele sabia que o nosso povo seria livre. De igual modo, manteve-se convencido, até ao fim da sua vida, que a pobreza, a fome e a miséria podem ser derrotadas, que todas as pessoas podem viver juntas em paz, segurança e conforto", salientou ainda Ramaphosa, acrescentou que as bandeiras da África do Sul manter-se-ão a meia haste durante toda a semana.

Ramaphosa instou todos os sul-africanos a "prestarem respeito ao defunto e a celebrarem a vida com a exuberância e o propósito" de Desmond Tutu.

"Que possamos seguir as suas pegadas. Que também nós sejamos dignos herdeiros do manto do serviço, da abnegação, da coragem, e da solidariedade de princípios para com os pobres e marginalizados", apelou.

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