Meteorologia

  • 09 MAIO 2024
Tempo
18º
MIN 16º MÁX 26º

Quase metade das mulheres em 57 países não podem decidir sobre seu corpo

Quase metade das mulheres em 57 países não têm liberdade de decisão sobre o seu corpo, desde ter relações sexuais até ao uso de contraceção ou ao acesso a cuidados médicos, uma realidade acentuada na África Subsaariana.

Quase metade das mulheres em 57 países não podem decidir sobre seu corpo
Notícias ao Minuto

13:46 - 14/04/21 por Lusa

Mundo Mulheres

O retrato é traçado no relatório anual sobre o Estado da População Mundial - produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) e apresentado hoje em Genebra -, que analisou pela primeira vez a autonomia das mulheres na tomada de decisões sobre o ser corpo.

Intitulado "O Meu Corpo é Meu", o relatório pormenoriza as violações dos direitos das mulheres nestes países, desde a violação à esterilização forçada até à imposição de testes de virgindade ou à mutilação genital.

Também analisa como as mulheres não estão autorizadas a tomar decisões sobre o seu próprio corpo sem risco de violência ou de serem sujeitas à decisão de outra pessoa sobre a sua integridade física.

O relatório centra-se principalmente em três questões: se as mulheres podem dizer não ao sexo, se podem decidir sobre o uso de contracetivos e se podem decidir sobre os cuidados médicos.

De acordo com o documento, que se baseia em dados de 57 países em desenvolvimento, incluindo os lusófonos Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, apenas 55% das mulheres podem decidir plenamente nestas três áreas.

Esta percentagem, contudo, variam significativamente entre regiões: enquanto na América Latina e nas Caraíbas e no Leste e Sudeste Asiático cerca de 75% das mulheres têm o seu direito à autonomia corporal respeitado, na África Central e Ocidental esse número é inferior a 40%.

Em três países da África Subsaariana - Mali, Níger e Senegal - a capacidade de tomar decisões sobre o seu corpo é reconhecido a menos de 10% das mulheres, segundo o estudo.

Em alguns países, como o Mali, o relatório mostra que uma clara maioria de mulheres pode decidir sobre contracetivos, mas apenas 22% pode fazê-lo quando se trata de procurar cuidados médicos e apenas uma em cada três mulheres pode recusar sexo.

Em Angola, 62% das mulheres têm autonomia para tomar decisões nas três questões analisadas, um valor que desce para 49% em Moçambique, para 46% em São Tomé e Príncipe e para 40% em Timor-Leste.

No conjunto da África Subsaariana, menos de uma em cada duas mulheres (48%) tem autonomia para tomar estas decisões.

O relatório aponta que apenas 56% dos países inquiridos têm leis e políticas abrangentes sobre educação sexual.

O relatório enumera ainda 20 países ou territórios que têm leis que permitem que um violador se case com a sua vítima para escapar à acusação e 43 estados que não têm leis sobre violação conjugal.

Mais de 30 países impõem restrições ao movimento das mulheres fora de casa.

O estudo foi apresentado em Portugal, durante uma sessão em formato digital, pela diretora-executiva do FNUAP em Genebra, a portuguesa Mónica Ferro, e contou com a participação do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação e presidente da Comissão Nacional para os Direitos Humanos (CNDH), Francisco André.

"Muitas vezes, quando perguntadas, as mulheres e raparigas não sabem que têm o direito a dizer não a ter relações sexuais com o seu marido. É um dado muito interessante e que tem muito a ver com o trabalho que tem de ser feito ao nível das normas sociais e da educação", disse Mónica Ferro.

A diretora-executiva do FNUAP assinalou ainda que a negação da autonomia corporal reveste formas tão diferentes como o casamento infantil, a mutilação genital, a violação conjugal e as leis que ditam o casamento com os violadores, entre outras práticas.

"Alcançar a autonomia e a integridade corporal depende da igualdade de género e de afastarmos as normas e as práticas patriarcais que veem a mulher ainda como tendo menos direitos do que o homem e o seu bem-estar como sendo menos relevante", considerou.

Por seu lado, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Francisco André, sublinhou a pertinência da abordagem do relatório, considerando que as suas conclusões serão "extremamente valiosas" e darão um "contributo da maior relevância quer no plano interno quer no contexto da política de cooperação e dos projetos com os países parceiros".

Leia Também: Mais 29% de vítimas civis no Afeganistão primeiro trimestre de 2021

Recomendados para si

;
Campo obrigatório