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Malásia deporta 1.086 migrantes para Myanmar contra ordem judicial

As autoridades de imigração da Malásia anunciaram hoje ter deportado 1.086 migrantes para Myanmar, desobedecendo a uma ordem judicial para suspender o repatriamento após um apelo de duas organizações de direitos humanos.

Malásia deporta 1.086 migrantes para Myanmar contra ordem judicial
Notícias ao Minuto

11:50 - 23/02/21 por Lusa

Mundo Malásia

Poucas horas antes, um tribunal superior ordenou a suspensão por um dia da deportação de 1.200 migrantes de Myanmar (antiga Birmânia) para ouvir um apelo da Amnistia Internacional da Malásia e da Acesso ao Asilo Malásia, que disseram haver refugiados, requerentes de asilo e menores entre as que estavam a ser deportadas.

O chefe dos serviços malaios de imigração, Khairul Dzaimee Daud, garantiu, em comunicado, que 1.086 pessoas tinham concordado em voltar para casa voluntariamente e enfatizou serem todos cidadãos de Myanmar, não havendo no grupo refugiados muçulmanos rohingya ou requerentes de asilo.

A declaração não mencionou a ordem do tribunal nem explicou porque é que apenas 1.086 pessoas foram deportadas em vez das 1.200 que estavam em causa.

A decisão hoje tomada pelo Supremo Tribunal da Malásia foi anunciada depois de os migrantes terem sido transportados para uma base naval militar malaia, onde aguardavam o embarque em três navios militares birmaneses com destino a Myanmar.

Na segunda-feira, as secções malaias da Amnistia Internacional e da Acesso ao Asilo enviaram um pedido ao Supremo Tribunal da Malásia para suspender o repatriamento, agendado para hoje.

"À luz da decisão judicial, o Governo tem de respeitar a ordem do tribunal e garantir que nem um dos 1.200 indivíduos é deportado hoje", disse esta manhã a responsável da secção malaia da Amnistia Internacional, Katrina Jorene Maliamauv, em comunicado.

A organização adiantou que o recurso deveria ser ouvido na quarta-feira no tribunal e instou o executivo a reconsiderar o plano de deportar os migrantes para Myanmar, onde a violação de direitos humanos prossegue, na sequência do golpe de Estado que depôs o Governo eleito de Aung San Suu Kyi.

"A suspensão acordada pelo tribunal não significa que os 1.200 [migrantes] não correm o risco de serem deportados. Eles enfrentam risco de vida", acrescentou.

No recurso, as duas organizações humanitárias apontaram que há três pessoas registadas no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e 17 menores que têm pelo menos um dos pais ainda na Malásia, contrariando a garantia de Kuala Lumpur de que não havia titulares de cartão do ACNUR ou refugiados muçulmanos da etnia rohingya.

"Enviá-los para Myanmar, num momento em que o país enfrenta crescentes violações dos direitos humanos e violência na sequência do golpe [de Estado], que resultou em pelo menos duas mortes no fim de semana, é um ato cruel que viola o princípio internacional do não-repatriamento" em caso de provável perseguição, sublinharam as duas organizações, num comunicado conjunto.

As organizações adiantaram ainda que o repatriamento "também equivale a legitimar as contínuas violações dos direitos humanos por parte dos militares de Myanmar" e coloca os migrantes "em risco de maior perseguição, violência e até morte", pedindo à Malásia que concedesse ao ACNUR acesso total às 1.200 pessoas.

Na segunda-feira, em comunicado separado, o ACNUR, cujo acesso aos centros de detenção de migrantes tem sido barrado desde agosto de 2019, garantiu que pelo menos seis pessoas registadas pela agência da ONU estão incluídas no grupo de pessoas a deportar.

Os serviços de migração malaios indicaram anteriormente que os 1.200 migrantes foram detidos por delitos, incluindo falta de documentos de viagem válidos, fim do período de validade dos vistos e violação dos passes de visitas sociais.

No domingo, um grupo de 27 deputados e senadores da Malásia também enviou uma carta ao primeiro-ministro malaio, Muhyiddin Yassin, pedindo-lhe para pôr fim à deportação.

Com a Junta Militar de Myanmar no poder, o grupo expressou também "a preocupação" de que os migrantes enfrentem perseguições após serem obrigados a regressar à antiga Birmânia.

A Malásia não reconhece os requerentes de asilo ou refugiados, mas tem permitido que muitos migrantes permaneçam no país por razões humanitárias.

O país alberga cerca de 180 mil refugiados e requerentes de asilo, além de mais de 100 mil membros da etnia rohingya e de outras minorias birmanesas.

Mais de 700 mil rohingyas fugiram de Myanmar desde agosto de 2017, quando os militares lançaram uma operação de limpeza em resposta aos ataques de um grupo rebelde.

As forças de segurança foram acusadas de violações em massa, assassinatos e de incendiarem milhares de casas.

Leia Também: Myanmar: Ministros do G-7 e UE condenaram violência contra manifestantes

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