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Tribunal de Recurso timorense indefere recurso em caso de casal português

O Tribunal de Recurso timorense indeferiu esta semana um recurso do Ministério Público que apontou o que considerou serem vários "vícios" na decisão de absolvição, em janeiro, de um casal português julgado em Díli.

Tribunal de Recurso timorense indefere recurso em caso de casal português
Notícias ao Minuto

00:50 - 20/02/21 por Lusa

Mundo Timor-Leste

"Acordam os juízes deste Tribunal em julgar improcedente o recurso apresentado, confirmando integralmente a decisão recorrida", refere o acórdão, assinado a 18 fevereiro e a que a Lusa teve hoje acesso.

O texto de 23 páginas está assinado pelos juízes Duarte Tilman, Deolindo dos Santos e Maria Natércia Gusmão Pereira.

O Ministério Público tinha recorrido do acórdão do Tribunal de Recurso em que este absolveu o casal português, considerando que a decisão tinha os "vícios" de "insuficiênia obscuridade e contradição de fundamentação".

Apontou ainda os vícios de "omissão de pronúncia" e de "excesso de conhecimento", aspetos, considera, que justificavam novo julgamento.

"Nulidades que importam ser conhecidas e decididas, determinando em consequência o reenvio do processo para novo julgamento", refere o documento.

A 15 de janeiro, o Tribunal de Recurso timorense absolveu o casal de portugueses Tiago e Fong Fong Guerra, condenado em 2017 por peculato a oito anos de prisão e a uma indemnização ao Estado, ordenando o descongelamento das suas contas.

O acórdão, aprovado por unanimidade por um coletivo de três juízes determina a absolvição do crime de peculato, pelo qual o Tribunal de Díli tinha aplicado uma pena de oito anos de prisão efetiva e o pagamento de uma indemnização de 859 mil dólares.

O tribunal determinou ainda o descongelamento das contas bancárias do casal e o levantamento de todas as medidas de coação que estavam a ser aplicadas.

No extenso acórdão, que conclui um processo que durou dois anos e meio, os juízes dão deferimento ao recurso da defesa à sentença de 24 de agosto de 2017, que tinha argumentado que a decisão da primeira instância padecia de "nulidades insanáveis" mais comuns em "regimes não democráticos", baseando-se em provas manipuladas e até proibidas.

No recurso a esta decisão, o MP levantou dúvidas sobre o facto do TR ter dado como não provado a suposta existência de um plano entre o casal e o norte-americano Bobby Boye que chegou a estar acusado no mesmo processo.

"Tal fundamentação suscita profundas dúvidas, extraindo conclusão baseadas em fundamentação com obscuridade, contradição e insuficiência, por conseguinte, com falta de fundamentação, o que determina a sua nulidade", defende.

Questiona igualmente a absolvição dos arguidos em termos da responsabilidade civil e a ordem para levantar o congelamento de contas do casal em Macau.

Em todos os aspetos, o Tribunal de Recurso não deu razão ao Ministério Público, reiterando alguns dos argumentos que apresentou no acórdão de absolvição.

O casal foi preso pela polícia timorense em Díli a 18 de outubro de 2014 e esteve desde então impedido de sair de Timor-Leste, com Tiago Guerra obrigado a apresentar-se semanalmente na Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).

Enquanto aguardava a decisão sobre o recurso à sentença do Tribunal Distrital de Díli, mantendo a sua inocência e acusando o Tribunal de primeira instância e o Ministério Público de várias irregularidades, o casal fugiu para a Austrália, onde chegou, de barco, em 09 de novembro de 2017, tendo chegado a Lisboa em 25 de novembro desse ano.

Os dois portugueses foram julgados pelos crimes de peculato, branqueamento de capitais e falsificação documental sendo central ao caso uma transferência de 859 mil dólares (792 mil euros), feita em 2011 a pedido do consultor norte-americano, Bobby Boye.

Boye foi um consultor pago pelo governo norueguês e posteriormente pelo governo timorense e que chegou a ser coarguido neste processo e que foi, entretanto, condenado nos Estados Unidos onde foi recentemente libertado depois de cumprir pena.

A fuga do casal causou tensão diplomática entre Portugal e Timor-Leste, com o assunto a suscitar críticas de dirigentes políticos e da sociedade civil, com artigos a exigir até investigações à embaixada de Portugal em Díli.

Na sequência da fuga do casal, o Ministério Público timorense acusou um outro português e dois timorenses de vários crimes, incluindo branqueamento de capitais, por alegadamente terem apoiado na fuga do casal.

Esse processo está ainda a decorrer no Tribunal Distrital de Díli.

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