Num artigo de 30 páginas publicado em outubro e divulgado hoje pela agência France-Presse (AFP), Jessie Serfilippi refere que "não só Alexander Hamilton possuía escravos, como o seu envolvimento na instituição da escravatura era uma parte essencial da sua identidade pessoal e profissional".
Herói da guerra da independência norte-americana, ex-braço direito de George Washington e criador do primeiro banco central do país, Alexander Hamilton é, no entanto, descrito mundialmente como defensor da abolição da escravatura, lembra a investigadora da Schuyler Mansion, casa histórica dos sogros de Hamilton, localizada em Albany, no Estado de Nova Iorque.
A reputação do hiperativo advogado e banqueiro é alimentada pelo sucesso internacional do espetáculo musical "Hamilton", representado por um elenco formado exclusivamente por atores negros ou de minorias hispânicas e asiáticas.
Jessie Serfilippi baseou o seu artigo na análise de registos de contabilidade e de muitas cartas do primeiro secretário de estado do Tesouro dos Estados Unidos, representado nas notas de 10 dólares, e assegura que Hamilton e a sua esposa eram donos de vários escravos.
Outros historiadores já tinham apontado que Alexander Hamilton poderá ter servido como intermediário na compra de escravos por parte de elementos da sua família, mas o seu envolvimento pessoal é motivo de debate.
O historiador Rob Chernow, autor da biografia que inspirou o espetáculo da Broadway, enfatiza o rigor deste novo estudo mas apresenta algumas reservas.
"Omite todas as informações que possam contradizer as suas conclusões", disse Chernow ao New York Times.
A controvérsia sobre o eventual passado esclavagista de Alexander Hamilton surge numa altura em que o legado de vários antigos presidentes norte-americanos é colocado em causa.
Estátuas de Andrew Jackson, Thomas Jefferson ou George Washington, todos proprietários de escravos, foram vandalizadas no último verão durante manifestações antirracistas promovidas em protesto contra a morte do afro-americano George Floyd.
