Numa decisão que seria impensável há menos de uma semana, a estação conservadora Fox News interrompeu uma conferência de imprensa da porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, onde esta assumiu a recusa de Donald Trump em reconhecer a derrota eleitoral e tentou menorizar as alegações de fraude na contagem de votos, para as quais não foi apresentada qualquer prova.
O momento aconteceu na segunda-feira à tarde (noite em Portugal), quando Kayleigh McEnany se dirigiu aos jornalistas "a título pessoal" durante o que definiu como "um evento de campanha" na sede do comité nacional republicano.
McEnany estava a explicar que os republicanos querem "todos os votos legais contados e todos os votos ilegais descartados" quando a estação interrompeu a emissão e passou para estúdio, onde o jornalista Neil Cavuto explicou que não podem coadunar com aquele tipo de acusações sem prova.
"Uau, uau, uau - acho que temos que ser muito claros. Ela está a acusar o outro lado de aceitar fraude e votos ilegais. A menos que apresente mais detalhes que o provem, não posso, em boa consciência, continuar a mostrar-vos isto", indicou.
"Quero certificar-me de que eles têm mesmo alguma coisa que prove aquilo, mas é uma acusação explosiva, que o outro lado está efetivamente a aldrabar e a manipular. Se ela apresentar provas, claro que voltamos a mostrar. Até agora, logo à partida, ela começou por dizer 'aceitam fraude e votos e ilegais'. Calma lá com isso", acrescentou, fazendo referência ao início do discurso, que não se vê no excerto acima.
A decisão de cortar a emissão terá sido do jornalista, segundo indica o Washington Post, que cita fontes próximas do programa.
É de sublinhar que os meios detidos pelo empresário Rupert Murdoch - entre os quais se inclui a Fox News, o New York Post e o Washington Post - revelaram algum distanciamento de Donald Trump nas horas que se seguiram às eleições, tendo sido noticiado que o magnata instruiu os meios da corporação a assumir a vitória de Joe Biden.
Recorde-se que o Procurador-Geral dos Estados Unidos autorizou, na segunda-feira, investigações por "alegações substanciais" de irregularidades na contagem dos boletins de voto, antes da certificação das presidenciais de 3 de novembro, apesar da falta de provas de fraude. O diretor da divisão de Crimes Eleitorais do Departamento da Justiça dos Estados Unidos, Richard Pilger, demitiu-se na sequência da decisão, com a qual não concorda.
Richard Pilger indicou, através de carta enviada aos colegas, que não pode concordar com a revogação de uma politica em vigor há 40 anos, uma vez que só se equaciona a investigação de eleições depois destas estarem concluídas, com os resultados serem certificados e todas as recontagens e concursos eleitorais concluídos.