Nas eleições que devem marcar o regresso do peronismo ao poder, serão também eleitos governadores para o Distrito Federal e para a província de Buenos Aires, além de legisladores numa renovação parcial do parlamento.
No total, são seis candidatos presidenciais, mas, o peronista Alberto Fernández e o liberal Mauricio Macri, juntos, têm cerca de 87% das intenções de voto, revelando uma polarização da disputa.
Todas as sondagens apontam para uma vitória do candidato da ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), Alberto Fernández, entre 15 e 20 pontos à frente do Presidente Mauricio Macri, que tenta o milagre de levar a disputa a uma segunda volta, altamente improvável, segundo todos os analistas.
Pela sondagem do consultor e analista político Jorge Giacobbe, por exemplo, Alberto Fernández tem 51,3% dos votos válidos contra 36,3% de Mauricio Macri. O ex-ministro da Economia (2002-2006), Roberto Lavagna, chega a 6,4%.
"Ao longo dos meses, pedimos aos eleitores entrevistados que definissem cada candidato com uma palavra. A palavra mais escolhida para Macri foi 'inútil', para Cristina 'corrupta', mas para Alberto foi mudando e agora é 'esperança'. Isso só acontece quando começa um processo de idealização com um candidato", explica à Lusa o analista Jorge Giacobbe.
Na Argentina, ganha-se na primeira volta com apenas 45% dos votos ou mesmo com, pelo menos, 40% desde que haja uma diferença de dez pontos com o segundo colocado.
Outra sondagem, do analista Raúl Aragón, também aponta para uma vitória de Alberto Fernández com 52,4% enquanto Mauricio Macri fica com 34,4% e Roberto Lavagna, com 8,2%.
"O que está em jogo agora já não é mais a presidência, mas a composição dos blocos parlamentares. Tudo indica que Alberto atingiria o quórum próprio, mas com aliados", antecipa à Lusa Raúl Aragón.
De um modo geral, a sociedade argentina está dividida em três terços: um a favor de Macri; outro, de Cristina Kirchner e o terceiro oscila de um lado para o outro, castigando aquele de quem se quer uma mudança.
Em 2015, castigou Cristina Kirchner; agora castiga Mauricio Macri.
E o castigo ao Presidente é pelos números da economia: uma forte recessão combinada com uma inflação acumulada de 53,5% nos últimos 12 meses.
O nível de pobreza que subiu de 29 a 35,4% durante o mandato de Macri e deve fechar o ano perto dos 40%.
O desemprego chegou a 10,6%.
O voto em Alberto Fernández concentra-se justamente nos segmentos baixos, os mais afetados pela inflação, mas também nos 5% da sociedade argentina de classe alta que queriam de Macri um governo liberal que não foi.
A recessão encolheu o mercado, a inflação comeu o poder de compra e a desvalorização de 300% da moeda argentina reduziu pela metade o valor das empresas.
Para evitar uma valorização ainda maior do dólar, a taxa de juros chegou aos 70%, paralisando a economia. Além disso, Macri fechou um acordo comercial de comércio livre com a União Europeia, que Alberto Fernández promete rever.
"O empresário argentino tem um discurso liberal, mas depois quer a proteção do Estado", indica Giacobbe.
O voto em Macri concentra-se nas classes médias, aquelas que valorizam aspetos institucionais e democráticos. Se por um lado Macri não pode exibir conquistas económicas, pode exibir inserção da Argentina no cenário internacional, avanços nos combates ao tráfico de drogas e à corrupção, liberdade de expressão e grandes obras públicas, todos pontos fracos do 'kirchnerismo'.
"O 'kircherismo' é o resultado autoritário do cruzamento entre peronismo populista com a esquerda. É uma deficiência do peronismo; não uma evolução. É uma vertente de poder que não aceita ser questionada e sente-se dona do movimento popular", define Julio Bárbaro, histórico dirigente peronista contemporâneo de Juan Domingo Perón.
Mauricio Macri apostou em caravanas pelo país para recuperar o voto da classe média, setor onde se concentram os chamados "desencantados": aqueles que o elegeram, mas que se dececionaram a ponto de castigá-lo, votando agora no 'kirchnerismo' do qual tinham fugido há quatro anos.
"Toda a estratégia de Macri com as caravanas, até agora, não surtiram efeito para virar o jogo. Não vejo um cenário de segunda volta", avalia Raúl Aragón.
Cristina Kirchner responde em 11 processos por corrupção e tem sete pedidos de prisão preventiva que só não foram cumpridos graças à imunidade parlamentar do seu cargo de senadora.
A partir de 10 de dezembro, deverá ser a vice-Presidente, cargo que, na Argentina, preside o Senado.
"Treze por cento dos argentinos acreditam que durante o 'kirchnerismo' não houve corrupção. E outros 38% dos argentinos acreditam que, durante o 'kirchnerismo' houve corrupção, mas que governaram melhor do que agora", conclui Jorge Giacobbe.