“No domingo houve um alerta sobre uma mulher que estava desesperada ao pé do rio. Ouvimos o alerta e fomos até ao rio, onde ele estava aos gritos, que a corrente tinha-lhe levado a filha”, começa por explicar Julia Le Duc, a jornalista mexicana que captou, na segunda-feira passada, a fotografia dos cadáveres de um pai e da sua filha de 21 meses, na fronteira entre o México e os Estados Unidos.
Óscar Alberto Martínez Ramírez, de 25 anos de idade, estava com a filha, Valéria, e com a mulher, Tania [ver galeria], a tentar chegar aos Estados Unidos para pedir asilo. A família, recorda a jornalista do ‘La Jornada’, da cidade mexicana de Matamoros, podia ter pedido asilo no México, onde estava há dois meses, mas a ideia era chegar aos Estados Unidos.
“Disse que tinham estado em Tapachula, no sul do México, e que tentaram pedir um visto humanitário [permitia-lhes ficar no México a trabalhar durante um ano] mas eles queriam o sonho americano – portanto apanharam o autocarro até à fronteira”, escreveu Julia Le Duc num artigo publicado no Guardian.
“Óscar Alberto Martínez Ramírez, frustrated because the family from El Salvador were unable to present themselves to U.S. authorities and request asylum, swam across the river with his daughter, Valeria.” They didn’t make it. This photo is so, so haunting. https://t.co/A8AuPLQ4vi pic.twitter.com/B6ctd6lQ8G
— Brian Klaas (@brianklaas) 25 de junho de 2019
Quando chegaram à ponte que liga o México aos Estados Unidos, foram informados que a alfândega americana estava encerrada porque era fim de semana. Ao voltar para trás perceberam que talvez pudessem atravessar pelo rio. Pai e filha foram primeiro, mas acabaram por ser arrastados pela corrente. Os serviços de emergência foram chamados e foram feitas buscas pela noite dentro mas nunca os conseguiram encontrar.
“Na manhã seguinte continuaram as buscas, com a luz do dia, e por volta das 10h15 os bombeiros encontraram os dois corpos. Foi aí que tirei as fotografias, antes de vedarem o local”, recorda.
Julia Le Duc explica que é uma repórter de crime há muitos anos e que já viu muitos corpos, incluindo de afogamentos. “Fica-se anestesiado, mas quando se vê uma coisa assim a sensibilidade volta. Pode-se ver que o pai tentou pô-la dentro da sua t-shirt para a corrente não a levar. Ele tentou salvar a vida da filha”, indicou.
“Vai mudar alguma coisa? Devia. Estas famílias não têm nada e estão a arriscar tudo por uma vida melhor. Se cenas como esta não nos fazem repensar as coisas – se não movem os nossos legisladores – então a nossa sociedade está perdida”, alertou.