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Polémica com idoma usado em tempos de antena no Luxemburgo

A recusa do canal de televisão RTL de emitir 'spots' eleitorais em francês de candidatos às europeias marcou o arranque da campanha para estas eleições no Luxemburgo, uma polémica que revelou "crispações linguísticas", segundo uma associação de estrangeiros.

Polémica com idoma usado em tempos de antena no Luxemburgo
Notícias ao Minuto

10:45 - 13/05/19 por Lusa

Mundo Europeias

O porta-voz da Associação de Apoio aos Trabalhadores Imigrantes (ASTI, na sigla em francês), Sérgio Ferreira, considerou o caso "surrealista", num país com "três línguas oficiais" (francês, alemão e luxemburguês) e em que a legislação é escrita em francês.

"As questões linguísticas sempre foram motivo de tensões no Luxemburgo", disse à Lusa Sérgio Ferreira, para quem o problema se agravou "desde o referendo em 2015" sobre o direito de voto dos estrangeiros nas legislativas.

A consulta, chumbada por 80% da população, marcou o surgimento de movimentos populistas que reclamam a primazia da língua luxemburguesa, num país em que a maioria da população fala francês, a língua mais utilizada pelos quase 48% de estrangeiros.

"O que é certo é que o Luxemburgo é um país historicamente multilingue, e aqueles que o querem reduzir a um país monolingue estão errados sob todos os pontos de vista", defendeu o porta-voz.

Um dia depois do arranque da campanha, o Déi Lénk (A Esquerda) acusou a estação televisiva RTL, que legalmente está obrigada a transmitir tempos de antena, de recusar a difusão de vídeos em que intervêm candidatos do partido que não falam luxemburguês, uma queixa apresentada também pelo movimento pan-europeu Volt.

A questão chegou ao Parlamento luxemburguês e o primeiro-ministro Xavier Bettel foi questionado, mas remeteu todas as questões para a entidade reguladora.

A RTL, que alegava ter dado uma ficha técnica à Autoridade Luxemburguesa Independente Audiovisual (ALIA), estabelecendo que os vídeos fossem em luxemburguês, acabou por recuar após duas intervenções do supervisor.

"A RTL, no seu papel de 'media' convencionado com o Estado e que portanto recebe dinheiro dos impostos de todos, arrogou-se no direito de estar acima do regulador e de ser ela própria a definir as suas regras", criticou Sérgio Ferreira.

A associação de defesa dos direitos dos imigrantes está também preocupada com a utilização das questões sobre a imigração nestas eleições, agendadas para 26 de maio, e com o aumento do populismo.

"Para citar apenas um exemplo, o ADR, que é o partido mais à direita no espetro político, tem um cartaz em que diz 'não à imigração ilegal', e depois tem outro que diz 'com coração para os animais'", apontou.

"Faz-se campanha estigmatizante de pessoas, ao mesmo tempo que se defendem os direitos dos animais", lamentou, frisando no entanto que "nas últimas eleições legislativas essa estratégia não deu frutos ao ADR".

O 'slogan' "não à imigração ilegal", do ADR, esteve na origem de outro caso controverso da campanha, por ter sido colado por baixo de um cartaz de Mónica Semedo, candidata pelo DP às europeias, de origem cabo-verdiana, embora o partido nacionalista tenha defendido ao Contacto, jornal português no Luxemburgo, que se tratou de "um acaso".

Para o porta-voz da ASTI, "há que não negligenciar esses casos e vigiá-los com muita atenção, mas há que não lhes dar demasiado tempo de antena", porque "a estratégia dos chamados populistas e da extrema-direita é dar que falar por tudo e mais alguma coisa".

O Grão-Ducado é um dos membros fundadores da atual União Europeia e é considerado um dos mais europeístas, tendo instituído este ano o Dia da Europa, 09 de maio, como feriado nacional.

Dez partidos concorrem a estas eleições no Luxemburgo, que se realizam a 26 de maio.

O Luxemburgo elege seis eurodeputados, contando atualmente três do partido cristão-social (CSV, na sigla em luxemburguês), um do partido socialista (LSAP), um do partido liberal (DP) e um dos Verdes (Déi Gréng).

Segundo uma sondagem recente do jornal Politico, o CSV, que integra o Partido Popular Europeu (PPE) - grupo do presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker -, pode vir a perder um lugar para o partido nacionalista ADR, que integra a Aliança de Conservadores e Reformistas (ECR, na sigla em inglês), de que fazem parte os Conservadores britânicos.

A cabeça de lista dos cristãos-sociais (CSV) nestas eleições é a lusodescendente Isabel Wiseler-Lima, vereadora com os pelouros da habitação, integração e política social na autarquia da cidade do Luxemburgo.

De acordo com as projeções, o CSV obteria dois lugares (menos um que nas eleições anteriores), com DP, socialistas, Verdes e ADR a elegerem um deputado cada.

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