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NATO deve assegurar que aliados são complementares e não contraditórios

A NATO deve assegurar que os aliados são complementares e não contraditórios, e utilizar as forças europeias nas suas operações ou no desenvolvimento dos requisitos de capacidade, defendeu hoje a secretário-geral ajunta da NATO numa conferência em Lisboa.

NATO deve assegurar que aliados são complementares e não contraditórios
Notícias ao Minuto

22:15 - 28/02/19 por Lusa

Mundo Secretário-geral

"Existem três condições. A NATO deve ter capacidade para utilizar as forças europeias nas suas operações, sobre o desenvolvimento dos requisitos de capacidade, não poderá existir um sinal contrário proveniente da União Europeia [UE], é necessário assegurar que somos complementares e não contraditórios", considerou a norte-americana Rose Gottemoeller, que participou numa conferência na Universidade Católica sobre o "Futuro da NATO".

"E devemos trabalhar com a UE para assegurar que os requisitos de capacidade são consistentes. E procurarmos formas de assegurar que os países da NATO não-europeus tenham oportunidade de participar em projetos financiados por empresas de defesa europeias, que tenham algum papel nesses programas", prosseguiu, numa conferência presidida pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Jaime Gama e ainda com breves intervenções do académico João Carlos Espada e do deputado Júlio Miranda Calha.

A importância da presença de Portugal na NATO, membro-fundador da Aliança em 1949, "agora incluindo na frente cibernética", e o contributo que fornece em diversos cenários, desde a Roménia, Afeganistão, Iraque, Kosovo ou Estados do Báltico, mereceu o destaque da oradora, que recordou a necessidade de prosseguir a modernização das estruturas da NATO e "entender o que cada aliado pode fazer com as suas capacidades e contribuições".

As divergências internas entre os aliados e as relações com Moscovo dominaram o período de perguntas e respostas, com Rose Gottemoeller a defender a necessidade de manter um diálogo permanente com Moscovo no Conselho NATO-Rússia e mesmo que o país se tenha tornado uma "ameaça".

"Não tem de ser desta forma, seria melhor garantir uma relação produtiva e positiva com a Federação da Rússia, do que estarmos preocupados com a agressão russa", assinalou.

As relações entre os Estados Unidos e a NATO no consulado do Presidente Donald Trump foi outro assunto em destaque, com a responsável norte-americana a reconhecer a "particular insistência" do chefe da Casa Branca na necessidade de os aliados despenderem 2% do PIB na área da Defesa.

"Mas o presidente para quem trabalhei, [Barack] Obama e antes do presidente [Bill] Clinton também estavam muito concentrados em garantir que os aliados da NATO gastassem mais em Defesa. Nos EUA existe um forte sentimento de que muitos aliados se aproveitaram durante décadas das despesas militares que eram garantidas pelos Estados Unidos", ressalvou.

Ao recordar que a maioria dos Estados-membros da UE são membros da NATO, Rose Gottemoeller insistiu que a perspetiva de um reforço da capacidade de defesa da Europa, de uma comunidade europeia de Defesa que poderia "rivalizar" com a NATO, deve ser entendida como uma forma de partilha de responsabilidades na Europa. Assim, considerou não ter sentido que optassem por um caminho "que contrariasse os seus interesses, que fizessem uma coisa numa instituição e outra coisa na outra".

Num regresso às relações com a Rússia, a responsável norte-americana aludiu à decisão dos Estados Unidos de se retirarem do tratado bilateral sobre forças nucleares de curto e médio alcance (Tratado sobre as forças nucleares de alcance intermediário, NIF), assinado em 1987 com a ex-União Soviética, ao acusarem Moscovo de violação do acordo ao desenvolver um novo sistema de mísseis com capacidade para atingir as capitais europeias.

"A NATO a e Rússia podem chegar à conclusão da necessidade de assinar um novo tratado, e que abranja não apenas os veículos hipersónicos, mas outro material que os russos estão a desenvolver", admitiu.

"Os EUA e a Rússia estão a modernizar os seus arsenais, os veículos, mísseis, submarinos, bombardeiros e, para existir alguma previsibilidade nesse processo, e mantê-lo sob controlo, seria positivo que entre 2021 a 2026 os EUA soubessem exatamente que armamento a Rússia vai deslocar, e a Rússia saber o que os EUA podem instalar", acrescentou.

No entanto, alertou para a alteração das posições do Kremlin, que na sua perspetiva decidiu a partir de 2014 questionar as fronteiras acordadas 20 anos antes, na sequência da dissolução da União Soviética. Em particular na Ucrânia e na Geórgia, precisou.

"Foi após 2014 que decidimos instalar diversas medidas de defesa nos Estados do Báltico. Mas o destino da Rússia é fazer parte do mundo como um país saudável, integrado na economia mundial e na sociedade mundial", sustentou.

A relação com a Turquia, na sequência das contínuas fricções entre Washington e Ancara nos últimos anos, também não escapou à análise da responsável aliada, que recordou as profundas divergências que surgiram no interior da NATO, em particular após a decisão de invadir o Iraque em 2003.

"Gosto de pensar na NATO como uma grande família, nem sempre concordamos sobre a governança nos nossos países, com a abordagem às crises internacionais, mas direi que continuamos a trabalhar em conjunto numa aliança de defesa e, neste aspeto, quero sublinhar que a Turquia é incrivelmente ativa em diversas missões e operações e fornece enorme capacidade e recursos no Afeganistão, Iraque, nos Balcãs ocidentais, no Kosovo", disse.

"Tem sido um grande aliado, é certo que existem diferenças entre os aliados, estamos conscientes, mas também sabemos que o objetivo da Aliança é garantir a nossa defesa mútua", notou.

Os desafios colocados pela China também foram abordados, com a responsável da NATO a considerar positivo que em 2015 a China tenha aderido à campanha antipirataria, com a participação de potências ocidentais, para além das funções na NATO no hemisfério sul, onde Rose Gottemoeller perspetivou uma colaboração mais próxima com a União Africana.

No final, Jaime Gama optou por deixar um recado na sua breve intervenção, em inglês, como todas as restantes.

"Uma organização tão importante deve ser clara nos seus objetivos, ter uma missão clara e uma clara definição das nossas ameaças. E como reagir efetivamente. A sua missão é muito delicada. É necessário evitar que a NATO seja destruída a partir de dentro", opinou.

No decurso da sua visita oficial de dois dias a Lisboa, que termina na sexta-feira, Rose Gottemoeller vai manter contactos com os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e da Defesa, João Gomes Cravinho.

Na sexta-feira desloca-se às Forças de Apoio e Ataque Naval (Naval Striking and Support Forces, STRIKFORNATO), à agência de comunicações e informação da NATO (Communications & Information Agency, NCI) e ao Centro conjunto de análises e lições aprendidas (Joint Analysis & Lessons Learned Centre, JALLC), o topo da estrutura da NATO em Portugal. A responsável norte-americana tem ainda previsto um encontro com a comissão parlamentar de Defesa Nacional.

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