Igreja pede aos militares que permitam entrada de ajuda na Venezuela
A Igreja Católica venezuelana pediu hoje aos militares e autoridades do país para que não levantem as armas ao povo e que permitam a entrada de ajuda humanitária no país.
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Mundo América Latina
O pedido foi feito através de uma carta divulgada em Caracas, num momento em que a comunidade internacional espera autorização do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, para enviar ajuda humanitária, desde a cidade colombiana de Cúcuta.
"Vivemos momentos muito difíceis. O nosso povo, ao qual vocês e eu pertencemos, está a passar fome, desolação, abandono e desamparo", começa por explicar a carta, assinada por monsenhor Mário Moronta, bispo da localidade de San Cristóbal (fronteiriça com a Colômbia).
O documento nota que os militares e demais autoridades "fizeram o juramento de defender a pátria e as suas instituições", mas que isso "não significa que devam ser servis à defesa de uma parcialidade política".
"É verdade que devem manter e suster a ordem. Mas, ao fazê-lo, devem respeitar as leis e o sistema legal da nação. Esse juramento aponta defender a dignidade, o protagonismo e os direitos de todos os cidadãos. Cumpram as vossas obrigações, mas sem esquecer que são membros do povo que servem. Nunca esqueçam isso. Por isso, peço-lhes, em nome do mesmo Deus em quem a imensa maioria de vocês acredita, que nunca levantem nem as vozes nem as armas contra os seus irmãos", refere a missiva.
Segundo o documento, os venezuelanos "correm muitos perigos" e, por isso, as autoridades, "mais que cuidar dos interesses particulares de alguns" e, "em vez de permitir o contrabando, de reprimir violentamente", devem ser "construtores da paz".
"Não se esqueçam de onde vêm: das suas casas, famílias, vizinhos e companheiros, dos seus amigos. Como ficaria a vossa consciência se disparassem contra o povo, quando o atropelam com o abuso da autoridade? Aqui, poderão considerar-se superiores, mas um dia deverão apresentar-se perante o julgamento de Deus e aí estarão desnudos com a vossa consciência e perante um Deus que sabe tudo e tudo conhece", sublinha.
Na carta, monsenhor Mário Moronta refere ainda que "hoje há que ouvir a voz do povo que, simplesmente, está clamando para que seja ouvido, atendido, dignificado".
"É certo o juramento de fidelidade à Constituição, de reconhecimento às vossas autoridades, mas esse juramento está sobretudo dirigido ao povo. Não deixem de sentir-se povo, de acompanhá-lo, de protegê-lo. Para isso fizeram realmente o juramento como militares, polícias, autoridades", refere ainda.
O documento acrescenta que a população quer ser ouvida e "necessita de uma ajuda humanitária" que também beneficiará os militares.
O Governo venezuelano tem insistido em negar a existência de uma crise humana no país e tem dito que não permitirá a entrada de ajuda na Venezuela.
O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, anunciou que em 23 de fevereiro entrará a ajuda humanitária no país, referindo que existem "250 a 300 mil venezuelanos em risco de morrer"
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.
A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.
Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados das Nações Unidas.
Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.
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