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Dia Mundial do Orgasmo. Mulheres, há mais 'vida' para lá da penetração

O orgasmo feminino é um dos aspetos da sexualidade menos explorado e, até mesmo, menos compreendido. Tanto os homens como as próprias mulheres continuam a ver o clímax de uma relação resumido ao ato da penetração... mas há muito mais para descobrir. A propósito do Dia do Orgasmo, o Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com a sexóloga e terapeuta de casais Marta Crawford.

Dia Mundial do Orgasmo. Mulheres, há mais 'vida' para lá da penetração
Notícias ao Minuto

08:00 - 31/07/17 por Daniela Costa Teixeira

Lifestyle Marta Crawford

O orgasmo é o mais alto ponto da excitação sexual, um clímax de poucos segundos que espelha o prazer do ato e que faz todo o corpo 'explodir', num momento de contração muscular acompanhada de pequenas mudanças, como uma maior robustez da pele e um batimento cardíaco mais acelerado.

No caso dos homens, o orgasmo acontece maioritariamente no momento da ejaculação, estando fortemente associado ao ato da penetração ou masturbação, podendo, porém, depender de outros estímulos como o toque, o beijo e a massagem. Já no caso das mulheres, a questão é bem mais complexa.

O orgasmo feminino não é um mito, nem tão pouco uma capacidade exclusiva de um pequeno grupo de mulheres, contudo, é preciso explorar o sexo além da penetração... e da vagina. Fala-se do ponto G, de um sem fim de posições 'milagrosas', mas a verdade é que tudo depende de uma pequena parte do corpo feminino capaz de fazer toda e qualquer magia acontecer: o clitóris.

"O clitóris é o órgão sexual principal de uma mulher, tem o dobro das terminações nervosas do pénis, é uma zona muito poderosa que estimula a mulher e se não houver esse tipo de estimulação direta ou indireta do clitóris, através do sexo oral por exemplo, são muitas as mulheres que têm menos prazer e menos capacidade de atingirem o orgasmo".

A explicação é-nos dada pela sexóloga Marta Crawford que, a propósito do Dia do Orgasmo (que se celebra esta segunda-feira), conversou com o Lifestyle ao Minuto sobre o ponto máximo da excitação feminina, revelando que as mulheres mantêm uma mentalidade ainda conservadora e até mesmo masculina sobre a sua própria sexualidade, não abrindo portas a novas formas de excitação.

 Muitos homens e mulheres acham que a penetração é o supra-sumo do sexo, que o sexo é a penetração e esse é um dos grandes erros 

A sexualidade feminina continua a ser um tema não muito esclarecedor, nem mesmo para as mulheres. Porque é que é um não-assunto, se podemos assim chamar-lhe?

Acho que hoje em dia já não é um não-assunto. As mulheres não dizem que se masturbam, mas os homens também não, mas eu faço sempre a piada de que os homens aprenderam a masturbar-se desde pequeninos. Começa na assistência médica, no pediatra que diz aos pais para puxarem a pele para trás, por isso, eles desde pequeninos percebem que ao fazer esse movimento ficam com o pénis ereto e que é bom, sabem que sabe bem. Em bebés e pequeninos sabe bem, mas mais tarde sabe muito bem.

As mulheres não têm essa sorte, o médico não lhe diz para ir mexer no clitóris porque isso vai melhorar qualquer coisa, há sempre aquela ideia do 'não ponhas a mão aí porque parece mal' ou cheira mal ou não se mexe aí ou não sei o quê. Continua a haver esta ideia, na verdade, de alguma forma, não há muita igualdade no tratamento no sentido da assistência à masturbação. As mulheres são mais contidas, a vagina é mais interna, tem de se pôr o espelho para se ver tudo, no homem é tudo muito mais para fora, é tudo com mais facilidade, mas o que é certo é que as mulheres continuam a achar que o prazer tem de ser de uma determinada forma e é um pensamento muito masculino e os homens pensam da mesma maneira.

Como assim?

Continuo a ter mulheres no consultório que dizem 'eu não tenho orgasmos' e eu pergunto: 'mas não tem, por exemplo, através do sexo oral ou da masturbação?' e elas respondem 'sim, isso tenho!'. E eu fico: 'então ainda agora me disse que não tem orgasmos' e elas dizem que não têm orgasmo na relação através da penetração... mas 70% das mulheres também não têm, é só uma pequena percentagem que tem a exclusividade do prazer sexual só através da penetração.

O clitóris é o órgão sexual principal de uma mulher, tem o dobro das terminações nervosas do pénis, é uma zona muito poderosa que estimula a mulher e se não houver esse tipo de estimulação direta ou indireta do clitóris, através do sexo oral por exemplo, são muitas as mulheres que têm menos prazer e menos capacidade de atingirem o orgasmo.

Muitos homens e mulheres acham que a penetração é o supra-sumo do sexo, que o sexo é a penetração e esse é um dos grandes erros e o mito, que vem da ideia da procriação, pois através da penetração é mais fácil procriar. Já modificámos o conceito da sexualidade, já olhámos para o sexo como uma função do prazer, do entretenimento, mas, em termos da posição ou do ato, achamos que tem sempre de ser através da penetração, como se fosse o comportamento mais importante de todos.

O resultado disto: há muitos equívocos. Eu explico isto a muitas mulheres e digo: 'se fazem tanta questão de terem um orgasmo com a penetração, porque não há estimulação a zona clitoriana em simultâneo com a penetração?' e elas dizem que não o fazem porque isso já foi feito antes da penetração. Para elas e eles o sexo é já lambi, já esfreguei, agora é a penetração, não há mistura. Mas há mistura sim, até porque muitas mulheres, no momento da penetração, perdem a sua excitação, a sua disponibilidade e o homem não, é 'eu já lambi, já fiz o que tinha a fazer'.

A penetração é o momento em que os homens têm mais prazer, o pénis, de facto, fica quentinho, fica dentro de um saquinho que é a vagina, que tem lá dentro uns feitios internos que roçam no pénis e isso é interessante, mas para a mulher, a vagina internamente não tem muito interesse, não tem muitas terminações nervosas.

Quando os casais começam a perceber o que ambos gostam e se pensarem, entre-aspas, em ganhar tempo com a estimulação, que não é só nas mamas e órgãos sexuais, é dos pés à cabeça, sem pressa, se calhar a mulher tem mais disponibilidade e desejo sexual e isso corre bem para os dois. Quando o interesse é muito apressado e eu estiver a fazer sexo como se estivesse a masturbar-me, ou seja, só a pensar em mim próprio, o sexo não tem interesse nem para um, nem para outro. Mesmo que eu tenha o orgasmo, isso não é sinal de que eu tenha uma relação íntima de qualidade, porque os orgasmos podem ser tipo arrotos, ou espirros ou ser orgasmos com letra grande, em que as pessoas se lembram deles. Os orgasmos, de facto, não são todos iguais e é possível obter orgasmos 'esfregando', tão simples como lavar a roupa no tanque.

Um dos outros grandes erros da sexualidade, é achar que o pénis é imbuído de todo o poder do sexo e que é assim tipo o bastião de não sei o quê

Mas essa ideia de que o orgasmo é só através da penetração é por culpa da falta de conhecimento ou porque as mulheres não exploram o próprio corpo?

A mulher explora, mas o engraçado é que há mulheres que não tocam nos seus genitais, que se masturbam através da compressão das pernas. É uma forma de terem prazer, mas não tocando, porque lhes faz alguma confusão tocar nos genitais. Vejo muitas mulheres que não gostam que lhes façam sexo oral porque têm a ideia de si um bocado sujas, que cheiram a peixe ou não sei o quê.

As mulheres são menos exploradoras, talvez, mas acho que são cada vez mais, só que ainda não estão ao nível da exploração masculina. Se os homens tivessem o pénis preso noutro sítio, no rabo ou nas costas, não tinham a mesma relação que têm com o supra-sumo da sua vida, mas quando não funciona também é o fim do mundo para os homens, acham que já não têm potencial ou interesse não tendo um pénis eficaz, isso também não é verdade.

Esta questão da penetração faz com que, muitas vezes, a dificuldade de ter uma ereção iniba qualquer tipo de intimidade com uma parceira ou com um parceiro, porque se acha que o sexo é um pénis ereto. Esse é um dos outros grandes erros da sexualidade, é achar que o pénis é imbuído de todo o poder do sexo e que é assim tipo o bastião de não sei o quê.

Mas isso é um pensamento um pouco preconceituoso...

Sim, mas os homens têm esta coisa e depois vêm os 'viagras' salvar a humanidade masculina. Tinha deixado de haver ereção, então tinha-se acabado o sexo nas relações, mas toma-se um comprimido e passam a ter ereção e muitos deles continuam a ser incompetentes na relação, a não perceber as necessidades da parceira.

Antes do Viagra, as mulheres estavam satisfeitas porque se tinham livrado dos parceiros incompetentes e de repente eles voltam a ter ereção, mas a competência não aparece com o comprimido, é com o compreender, com o dialogar, mas para dialogar também é preciso haver duas pessoas e o que acontece é que há um que até consegue dialogar, mas se outro não abre a boca, acha que não é preciso dialogar, tem pudor, então vai ficar tudo na mesma.

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