Sente que o seu filho está com dificuldades de aprendizagem, leitura lenta e hesitante ou dificuldade em reconhecer letras e sons e está a associar isso tudo a inúmeros problemas? Não deve fazer um diagnóstico precipitado com base em sintomas isolados. Quando muito pode e deve procurar ajuda junto de algum especialista.
A terapeuta da fala, Diana Moreira, indica que a dislexia se pode ser uma explicação para alguns desses problemas. O diagnóstico traduz-se em dificuldades de processar informação de forma recorrente.
Por norma, quando ouvimos falar de dislexia, pensamos em problemas como a leitura e escrita, ortografia, matemática, nas trocas de letras, de palavras ou em dificuldades de aprendizagem escolar. Mas a dislexia não é só isto, clarifica a especialista.
Quando é que a criança dá os primeiros sinais?
Para a terapeuta, esta dificuldade é maioritariamente detetada em idade escolar, particularmente no momento de aprendizagem da leitura e escrita. Ainda assim, explica que nalguns casos, tanto os pais como os professores "só se apercebem em anos mais avançados, quando a exigência linguística, a nível pedagógico, é mais complexa e abstrata".
Diana Moreira realça que é importante estarmos atentos à linguagem oral da criança quando, por exemplo, quando diz frigorífico de 3 formas diferentes: “figorífico”, “friborítico”, “frigotítico”. Para a especialista, "este é um sinal de que o seu sistema fonológico não está consolidado e que a criança necessita de o fazer para não influenciar a sua escrita e leitura”.
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O que é que os pais podem fazer quando detetam estes casos?
Os pais e os educadores devem reforçar a palavra de forma silábica e orientar a criança a repetir, mas mais importante, ouvir com atenção a forma correta de articulação de cada uma das sílabas para que consiga juntá-las e produzir de forma correta, recomenda a terapeuta especializada em Neuropsicologia Pediátrica.
O que é que os pais e educadores podem fazer para ajudar a desenvolver esta literacia emergente?
As crianças devem estar rodeadas de ambientes ricos, livros, revistas, histórias, recortes, lápis, papéis e tesouras. Deve ser-lhes permitido explorar livremente todo este material de forma livre. Ouvir histórias, dramatizar, cantarolar e conversar. Assim, tudo isto pode ajudar a desenvolver o sistema fonológico e a sua memória auditiva.
Sinais a que os pais e educadores devem estar atentos no 1.º ciclo
— Quando existe dificuldade em memorizar o nome das letras e o seu som;
— Quando fazem uma leitura muito lenta e com omissões ou trocas, mas também quando a leitura é rápida demais;
— Quando não respeita sinais de pontuação nem consegue organizar, na escrita, um texto com coerência;
— Quando não consegue identificar os erros na escrita;
— Quando só entende o significado literal das palavras ou expressões;
— Quando não compreende o que lê ou quando faz uma leitura dedutiva.
Ainda assim, a terapeuta deixa claro que "nem tudo são coisas más", visto que o cérebro dos disléxicos "funciona de forma diferente, por isso alguns até consideram que são cérebros de génio, Albert Einstein e Steve Jobs eram disléxicos. E isso é bom para a auto-estima das crianças".
A terapeuta reforça que é importante fazer as crianças acreditarem que também têm algo de bom. Recomenda a estimulação destas competências e, sobretudo, a sinalização precoce de alguma dificuldade, uma vez que isso "pode provocar sofrimento na criança".
“Alguns pais entram em processo de negação, e até chegarmos ao processo de aceitação e agilização de intervenção pode perder-se uma janela de oportunidade fundamental. Intervir é importante, mas prevenir é ainda mais", remata a especialista.
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