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Investigador mapeia ciclos de prazer e como música 'orquestra' o cérebro

A música e a forma como o cérebro lhe reage, a antecipação de prazer, a procura por significado e "uma vida bem vivida" através da partilha artística são focos do trabalho do professor de neurociências em Oxford Morten Kringelbach.

Investigador mapeia ciclos de prazer e como música 'orquestra' o cérebro
Notícias ao Minuto

15:49 - 06/04/24 por Lusa

Lifestyle Música

"Quero saber o que os estímulos naturais nos dizem sobre como o cérebro é orquestrado. Como o cérebro, ao longo do tempo, faz sentido das coisas. Quero entender quando as pessoas não têm isso. Quando se está deprimido, o motor do prazer que nos faz querer coisas, gostar e deixar de gostar, não está a trabalhar", afirmou hoje Kringelbach, em entrevista à Lusa.

O neurocientista, que tem dedicado a carreira ao estudo da estimulação e retroestimulação do cérebro, falava à Lusa à margem do 14.º Simpósio Aquém e Além do Cérebro, da Fundação Bial, na Casa do Médico, no Porto, este ano dedicado à criatividade.

Professor na universidade britânica de Oxford e na universidade de Aarhus, na Dinamarca, Kringelbach apresentou no simpósio, que hoje termina, uma intervenção sobre o papel da música na ligação aos ciclos neuronais de prazer e à criação de significado.

Experiências nesta base, explicou, levam a sofrimento mas também a florescimento, numa palestra em que apresentou resultados de uma pesquisa sobre como a improvisação de jazz orquestra uma sensação de 'eudaimonia', um termo da Grécia antiga explorado por Aristóteles que diz respeito a "uma vida bem vivida".

Nessa sensação entra em jogo a antecipação do prazer -- a sensação de que se conhece uma dada melodia -- como ponto de partida para serem acionados caminhos neuronais do prazer, sendo o cérebro depois surpreendido pela improvisação.

"A música revela quem somos, e revela algo sobre o nosso potencial", explicou na palestra, que terminou com um vídeo da cidade do Porto acompanhado de "Amar pelos dois", de Salvador Sobral.

O investigador veio a Portugal pela primeira vez em 1986 e tem voltado frequentemente, sobretudo ao norte do país, e mostra-se "ligeiramente obcecado com o fado".

"Há uma coisa muito interessante no sofrimento, mas também a alegria presente nesse sofrimento. Isso vê-se na 'saudade'. Esta ideia de sentir uma falta agridoce de outros tempos", conta.

Esta perspetiva, de resto, funciona como súmula para o argumento de sofrimento e florescimento que tem trabalhado, com a música a "atravessar culturas, razão pela qual se pode ter 'saudade' na alma" sem ser português.

"Por isso consigo conectar-me ao fado. Sinto, aí, que floresço. Sinto o sofrimento, mas também o potencial de florescer. E é por isso que a música me interessa, acho, porque comunica emoções", acrescenta.

A música torna óbvio o "princípio geral de que somos máquinas que produzem e antecipam padrões", procurando um "elementos de novidade, de surpresa, que mantém a curiosidade", precisamente onde reside um dos problemas da depressão.

Kringelbach tem formação em arquitetura e toca piano e guitarra, aprofundando a relação com a arte para chegar à "sensação de alegria, de partilhar isso e comunicar", que defende no seu trabalho.

A criatividade é, para o investigador, "estar a brincar, a atirar coisas para ali e ver o que sai", um despudor que permite "não se criar um altar a que tem de se ir", nem "esta coisa de arte torturada que não fala para ninguém".

"O objetivo último, segundo Aristóteles, é viver uma vida com significado, e isso não é ser um artista torturado, em esplêndido isolamento, é sobre partilhar essa alegria. Acabei a falar de amor porque realmente é sobre amar, partilhar a vida", explica.

O trabalho de neurociência que tem desenvolvido em conjunto com médicos, artistas e outros profissionais, tem 'ameaçado' algumas pessoas, revela, mas defende a ciência por detrás da compreensão dos ciclos de prazer e, também, a necessidade de "comunicar" o que se faz a toda a gente.

"Não há nada melhor do que tocar para pessoas, tocar com pessoas. É a mesma sensação de alegria que sinto quando estou a dar uma palestra. É por isso que gasto tanto tempo a fazer isso, porque se não é comunicável, não interessa. Mas tento mesmo ouvir, porque toda a boa comunicação passa por ouvir", remata.

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