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O que é a 'Blue Monday'? E como sobreviver ao 'dia mais triste do ano'?

Para os menos atentos ao calendário, chegámos ao dia em que as pessoas se sentem, supostamente, mais deprimidas e melancólicas. Mas só se quiserem! O Lifestyle ao Minuto falou com Alberto Lopes, neuropsicólogo/hipnoterapeuta das Clinicas Dr. Alberto Lopes, que explica como fazer desta uma segunda-feira feliz.

O que é a 'Blue Monday'? E como sobreviver ao 'dia mais triste do ano'?
Notícias ao Minuto

08:30 - 15/01/24 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle Entrevista

E eis que chegámos ao suposto dia mais deprimente de 2024. Há quase 20 anos que a terceira segunda-feira de janeiro passou a ser conhecida como 'Blue Monday' ('segunda-feira triste', em português), por ser o 'dia mais triste do ano'. Desde então, foi catalogada como pseudociência. Contudo, o termo popularizou-se. Mas será que existem razões para esta segunda-feira ser mais desconsoladora do que todas os outras? 

A designação foi criada, em 2005, pelo psicólogo Cliff Arnall, após elaborar uma fórmula, tendo em conta diversos fatores que levam à infelicidade. Variáveis como a meteorologia, as dívidas acumuladas da época festiva, o tempo decorrido desde o Natal, os dias que faltam para se receber o salário, as falhas nas resoluções de Ano Novo e os baixos níveis de motivação levaram-no a concluir que na terceira segunda-feira do ano as pessoas estariam mais deprimidas. No entanto, saiba o leitor que a 'Blue Monday' é um conceito criado especialmente para uma campanha publicitária da agência de viagens britânica Sky Travel, que tinha como objetivo incentivar as pessoas a marcarem as férias de verão. 

"O mês de janeiro, com as suas pressões sociais e condições climáticas - dias mais curtos, chuvosos e frios - pode realmente impactar negativamente o nosso estado emocional e bem-estar", afirma Alberto Lopes, neuropsicólogo/hipnoterapeuta das Clinicas Dr. Alberto Lopes, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto. Contudo, "as respostas emocionais variam de pessoa para pessoa". 

O responsável alerta também para o perigo da "exploração comercial da 'Blue Monday'". "Pode banalizar questões cruciais de saúde mental, como a depressão sazonal", diz.

Notícias ao Minuto Alberto Lopes, neuropsicólogo/hipnoterapeuta das Clinicas Dr. Alberto Lopes© Clínicas Dr. Alberto Lopes

Por outro lado, o especialista faz também questão de sublinhar o lado bom da tristeza. "Pode ter um propósito, servindo como catalisador para a autorreflexão e crescimento pessoal. Aceitar e explorar a tristeza como parte do espectro emocional é crucial para um equilíbrio psicológico saudável", explica.

Aparentemente, não existe nenhuma explicação científica para a 'Blue Monday'? É assim?

O mês de janeiro, com as suas pressões sociais e condições climáticas - dias mais curtos, chuvosos e frios - pode realmente impactar negativamente o nosso estado emocional e bem-estar. Ou seja, apesar de carecer de fundamento científico, a 'Blue Monday' destaca a importância da psicologia emocional e de uma certa nostalgia que precede as festividades de final de ano. Inicialmente proposta como parte de uma campanha de marketing, a 'ciência' desta designação é de alguma forma questionável e a validade científica é incerta.

A pressão social para a positividade constante pode levar à repressão emocional, gerando frustração e tristeza

Pegando no que estava a dizer sobre janeiro, diz-se que é aquele mês que parece interminável. Nesse sentido, considera que é uma altura propícia a estados de espírito mais melancólicos?

A monotonia pós-festiva pode gerar melancolia e estados de tristeza, enquanto a pressão social para estarmos sempre bem é uma realidade significativa. No entanto, é crucial evitar generalizações. Apesar de janeiro ser desafiante, as respostas emocionais variam de pessoa para pessoa. Gosto de dizer que não existem dias tristes, mas momentos tristes. Nesse sentido, aceitar períodos nostálgicos e tristes é saudável, pois a negação pode levar à repressão e aumentar a frustração.

Isso quer dizer que, apesar de tudo, há um lado bom em estarmos tristes? A tristeza também pode contribuir para o nosso equilíbrio e bem-estar?

Sim. A tristeza pode ter um propósito, servindo como catalisador para a autorreflexão e crescimento pessoal. Aceitar e explorar a tristeza como parte do espectro emocional é crucial para um equilíbrio psicológico saudável. Tal como as estações do ano, a tristeza é uma parte essencial do ciclo que conduz à renovação e crescimento. Todos conhecemos narrativas de superação frequentemente envolvem períodos de tristeza que levam a descobertas transformadoras.

Então, esta quase 'imposição' da sociedade para estarmos sempre bem pode levar a uma maior frustração e tristeza?

Sim. Isso é o que se chama 'positividade tóxica'. Ou seja, a pressão social para a positividade constante pode levar à repressão emocional, gerando frustração e tristeza. Pode ser comparado a tentar forçar um campo de flores a florir constantemente, ignorando os ciclos naturais do tempo. Não obstante, a intervenção individual em casos mais severos de tristeza é crucial, mas também é imperativo considerar a dimensão cultural e coletiva. Defendo estratégias mais abrangentes e eficazes para enfrentar desafios emocionais, não apenas na 'Blue Monday', mas ao longo de todo o ano. Nesse sentido, emerge a necessidade de abordar a saúde mental de maneira integrada, reconhecendo a complexidade de fatores psicológicos, sociais e emocionais.

Saber 'dialogar' com todas as emoções, incluindo a tristeza, é crucial para um equilíbrio psicológico saudável

Desde a criação da 'Blue Monday', muitas empresas aproveitam a data como uma manobra de marketing. Numa altura em que os números da Organização Mundial de Saúde estimam que cerca de 280 milhões de pessoas sofram de depressão em todo mundo, crê que, de certo modo, isso possa contribuir para a banalização da saúde mental e dos riscos da doença?

Sim, não tenho dúvidas a esse respeito! A exploração comercial da 'Blue Monday' pode banalizar questões cruciais de saúde mental, como a depressão sazonal. O marketing em torno da 'Blue Monday' reforça a ideia de que o consumo alivia o desconforto emocional, equiparando a tristeza a um produto vendável. Esta abordagem mercantilista pode minimizar a gravidade da depressão, contribuindo para a incompreensão generalizada e perpetuando um ciclo prejudicial, que impacta a vida das pessoas. Por exemplo:  sobre a tristeza patológica, sabemos pode levar à depressão e que é uma das perturbações mentais que mais qualidade de vida tira às pessoas, sendo responsável por altas taxas de tentativas de suicídio. 

Como é que podemos impedir que esta data interfira no nosso estado de espírito e nos deixe em baixo?

Estratégias de autocuidado, consciencialização sobre a exploração comercial da data e interiorizar hábitos saudáveis, são fundamentais. Falo, por exemplo, de praticar exercício físico, alimentar-se de forma saudável e uma boa higiene de sono. Resistir a promoções 'tristes' e focar em atividades positivas também permitem neutralizar o impacto emocional. Por fim, saber 'dialogar' com todas as emoções, incluindo a tristeza, é crucial para um equilíbrio psicológico saudável.

Quer acreditemos ou não na 'Blue Monday', todos temos dias em que nos sentimos mais tristes ou depimidos. Como devemos cuidar da nossa saúde mental, não só nesta data como em todo o ano?

Pedir ajuda psicológica, criar espaços seguros para expressar sentimentos negativos, e procurar conexão com outros são cruciais. Estudos apontam que os amigos podem ser um analgésico natural. Ter um grupo de apoio numa abordagem integrada, envolvendo educação, terapia e comunidade, é vital para um equilíbrio duradouro.

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Serviços telefónicos de apoio emocional em Portugal

SOS Voz Amiga (entre as 16 horas e as meia-noite) -  213 544 545 (número gratuito) - 912 802 669 - 963 524 660 

Conversa Amiga (entre as 15 e as 22 horas) - 808 237 327 (número gratuito) e 210 027 159

SOS Estudante (entre as 20 horas e a uma da madrugada) - 239 484 020 - 915246060 - 969554545

Telefone da Esperança (entre as 20 e as 23 horas) - 222 080 707 

Telefone da Amizade (entre as 16 e as 23 horas) – 228 323 535

Todos estes contatos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24), o contacto é assumido por profissionais de saúde. Deve selecionar a opção 4 para o aconselhamento psicológico. O serviço está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.

Leia Também: E quando não está tudo bem? "Estigma face à doença mental ainda perdura"

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