Covid e Influenza. "A administração simultânea das vacinas é segura"
Quem o garante é Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa da Medicina Geral e Familiar, numa entrevista ao Lifestyle ao Minuto.
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Lifestyle Entrevista
O presidente da Associação Portuguesa da Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto, considera que a vacinação contra a gripe é "fundamental" para controlar a sintomatologia. "Apesar de não ser 100% eficaz, diminui a transmissibilidade e a severidade dos casos", afirma, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.
Dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, relativos à semana de 24 a 30 de janeiro de 2022, mostram uma taxa de incidência de 39,1 casos por cada 100 mil habitantes.
O presidente da Associação Portuguesa da Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto, revela que "continuamos com uma atividade gripal muito reduzida, o que nos permite tirar a conclusão de que a coadministração é completamente segura". Além disso, "não se verificaram mais efeitos adversos do que quando são tomadas em separado", acrescenta.
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Mitos associados à gripe? Tenho gripe porque apanhei frio
Comecemos pelos principais mitos associados à gripe. Quais aqueles que mais costuma ouvir?
Há vários. Por exemplo: "Não me vacino porque constipo-me à mesma". Neste caso, falamos de situações distintas e, além disso, a vacina da gripe não é 100% eficaz, mas nas pessoas vacinadas, o que sabemos é que reduz a gravidade dos sintomas, melhora o prognóstico e evita a evolução para quadros mais agravados.
"Sou saudável, por isso não preciso de me vacinar." O facto de ser saudável não quer dizer que não esteja inserido em grupos de risco. Podemos ser saudáveis e ter 70 anos. E aí é importante que haja essa prevenção. Também podemos considerar aqui o contexto profissional, como no caso dos profissionais de saúde, funcionários de instituições de apoio a idosos, creches e escolas, uma vez que devemos ter noção não só de nós, mas também dos que nos rodeiam.
Há também quem diga: "Tenho gripe porque apanhei frio." A gripe é transmitida por um vírus predominantemente por via respiratória a partir do contacto de partículas.
É importante desmitificar todas estas questões, porque a gripe já cá estava antes da pandemia da Covid-19 e certamente continuará a existir durantes os próximos anos.
Ao nível da prevenção, o que pode ser feito?
Devemos considerar as formas de prevenção geral de todas as doenças respiratórias e infeciosas, que até têm ganho mais destaque agora com a Covid-19 nestes últimos meses de pandemia. É necessário vigiar os sintomas, quando estamos sintomáticos, evitar contacto com outras pessoas, bem como grandes aglomerados de pessoas nestas alturas de pico da gripe. Além disso, deve-se considerar as medidas de etiqueta respiratória. Depois, temos uma arma muito grande que é a vacinação antigripal, que tem sido um elemento fundamental na prevenção da gripe em Portugal.
Quem é que se encontra em risco elevado de sentir os efeitos da gripe sazonal?
Há grupos com maior risco de desenvolver doença grave e complicações da gripe, que são os casos de maior severidade. É o caso dos idosos, a partir dos 65 anos, os doentes crónicos respiratórios, diabéticos, com condições de imunossupressão com alterações a nível do sistema imunitário e neoplasia ativa. Ou seja, todos os grupos que são elencados pela Direção-Geral da Saúde que justificam a administração da vacina da gripe. Por isso, a vacina da gripe não é só para os idosos, mas sim para todos os grupos de risco.
Se há coisa que esta campanha de vacinação pandémica e gripal em simultâneo demonstrou é que a administração simultânea das vacinas é eficaz e segura
Qual é a importância da vacinação contra a gripe?
Apesar de não ser 100% eficaz, diminui a transmissibilidade e a severidade dos casos, havendo, por isso, menos complicações ou quadros mais graves. Este é o grande potencial da vacinação. A vacina não quer dizer que não vão apanhar gripe. Provavelmente até terão, mas é fundamental que haja esta prevenção para que a sintomatologia seja controlada.
Se tivermos menos pessoas doentes e, dessas, existirem menos com doença grave, iremos aliviar todos os níveis de cuidados. A sobrecarga dos cuidados de saúde tem sido muita falada devido à Covid-19, mas se nos recordarmos, todos os anos por esta altura acontece o mesmo devido à gripe e outras infeções respiratórias. E também podemos falar do impacto socioeconómico. Se tivermos menos transmissibilidade, haverá um menor absentismo laboral e escola.
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Existem, contudo, pessoas que não devem ser vacinadas...
Apenas em situações muito particulares é que não se pode vacinar contra a gripe. As contraindicações contra a vacina da gripe são poucas. Falamos, por exemplo, em alguns estádios de imunossupressão em que não seja conveniente realizar esta vacina, de alguém que já tenha tido reações alérgicas prévias ou de doentes com historial de reações anafiláticas a medicamentos. Mas estamos a falar de casos muito raros e pontuais.
Porque é que é preciso repetir a vacinação todos os anos?
O vírus da gripe sofre mutações e o vírus que circula de ano para ano nas épocas gripais vai tendo algumas diferenças relativamente aos anos anteriores. Por isso, a necessidade de haver uma vacina que seja adaptada à estirpe que está a circular ou que se prevê que vá ser predominante. É por isso que as vacinas são ajustadas anualmente, para que, em cada época gripal, estas sejam o mais eficazes possível.
O risco de ter um enfarte agudo do miocárdio é 10 vezes superior nos dias seguintes à infeção por influenza e o risco de ter um AVC é oito vezes superior nos dias a seguir
A vacina contra a gripe pode ser tomada ao mesmo tempo que outros imunizantes, como os que existem contra a Covid-19?
Se há coisa que esta campanha de vacinação pandémica e gripal em simultâneo demonstrou é que a administração simultânea das vacinas é eficaz e segura. Embora estejamos perante um cenário muito particular, que em nada se compara aos eventos pré pandemia, continuamos com uma atividade gripal muito reduzida, o que nos permite tirar a conclusão de que a coadministração é completamente segura. Além disso, não se verificaram mais efeitos adversos do que quando são tomadas em separado.
Sente que a gripe sazonal tem sido desvalorizada nos últimos dois anos de pandemia?
Não diria que tem sido desvalorizada, mas é um facto que no meio de uma pandemia, o foco foi esse mesmo, sobrando pouco espaço para as outras doenças. Apesar disso, a verdade é que a atividade gripal foi muito fraca ou praticamente nula em determinadas alturas. Isto deveu-se a todas as medidas implementadas para combater a pandemia, como o confinamento, o distanciamento social, os equipamentos de proteção individual e o isolamento dos sintomáticos. Obviamente, se essas medidas são eficazes para o Sars-Cov-2, também o são para o vírus da gripe.
A prevenção é um ensinamento da pandemia que podemos e devemos aproveitarQue lições devemos tirar da pandemia de Covid-19 e aplicar na prevenção da gripe?
Há coisas que retiramos desta pandemia para o combate da gripe: a forma como organizamos a campanha de vacinação, mecanismos associados à logística da mesma, os centros de vacinação e as medidas de proteção e prevenção. Talvez, quando estivermos com sintomas de gripe, já não estaremos com outras pessoas e recorreremos à utilização de máscara. Daqui para a frente nada será como dantes. São ensinamentos que nos ficaram da pandemia, que já fazem parte da nossa forma de agir e que são muito positivos para reduzir o impacto das epidemias de gripe que sentimos todos os anos.
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Muitas vezes olhamos para a gripe como uma doença mais ligeira e, felizmente, em muitos casos é benigna, mas é de reforçar que a gripe pode ter complicações e que não deve ser desvalorizada, não só pelo seu impacto respiratório, mas também pelo potencial impacto cardiovascular e cerebral. os estudos indicam que o risco de ter um enfarte agudo do miocárdio é 10 vezes superior nos dias seguintes à infeção por influenza e o risco de ter um AVC é oito vezes superior nos dias a seguir a esta infeção, mesmo em pessoas saudáveis.
Qual a importância do papel da prevenção da gripe em contexto de pandemia?
A prevenção é um ensinamento da pandemia que podemos e devemos aproveitar. Enquanto médicos, autoridades de saúde, cidadãos, todos devemos tirar estas ilações e perceber o que é que foi positivo no meio destes dois anos complicados que temos vivido.
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