'Ouço, mas não percebo…': O sinal de que deve procurar um médico
"Ouvir... o chilrear alegre de um pássaro, o gorgolejar cristalino e tranquilo de um riacho, uma voz familiar e querida, o restolhar suave das folhas caídas no chão que nos diz que estamos no outono, a harmonia da música que sai de um violino e que desperta em nós emoções… nada mais natural, não é? Infortunadamente, para alguns não é bem assim…", afirma o médico Filipe Freire, otorrinolaringologista no Hospital CUF Sintra, neste artigo de opinião partilhado com o Lifestyle ao Minuto.
© Shutterstock
Lifestyle Dia Mundial da Audição
A audição constitui um dos cinco sentidos, verdadeiras janelas para o mundo que nos relacionam com o que nos envolve, que trazem a vida à nossa alma. Todos reconhecemos a triste infelicidade de alguém que, por exemplo, se vê privado da visão. Fica isolado do mundo. Quem, por seu turno, perca a capacidade auditiva, fica isolado dos outros.
Este aspeto nem sempre nos é evidente, mas temos de perceber que o isolamento é um fator de envelhecimento prematuro, de atrofia silenciosa das nossas capacidades.
O nosso cérebro é uma maravilhosa e extraordinária máquina da natureza, último reduto do (ainda) desconhecido para a ciência, que precisa, para se desenvolver e manter, de estímulo. Nesse aspeto, não é muito diferente de um músculo do nosso corpo, que, se não for utilizado atrofia, seguindo a velha máxima de que a função faz o órgão. Se não ouvimos, ou se ouvimos mal, isolamo-nos. Segue-se a lentificação, a perda de capacidades, o envelhecimento acelerado. 'Ouço, mas não percebo...' é talvez a frase mais comum e o primeiro sinal de alarme, que não deve ser desvalorizado.
Existem muitas formas de surdez, desde logo as congénitas e as adquiridas, com riscos e impactos muito diferentes na vida de cada um. Convém recordar, por exemplo, que existe um período crítico de plasticidade cerebral numa criança, e se não houver estímulo auditivo nessa janela temporal, ela não vai desenvolver uma função extremamente avançada filogenéticamente no ser Humano – a linguagem oral. Algo que nos parece tão natural como falar, a base primordial da comunicação, depende diretamente de uma capacidade auditiva íntegra. Nestes casos, o diagnóstico precoce e a intervenção atempada são essenciais pelo que um atraso de desenvolvimento da linguagem ou uma criança que deixa de palrar depois de já o ter feito, ou que parece não reagir a sons, são sinais de alarme que devem levar a uma referenciação a uma consulta de surdez infantil / otorrinolaringologia.
Contudo, hoje temos, enquanto Humanidade, o privilégio de viver tempos verdadeiramente deslumbrantes no que à capacidade científica diz respeito, e embora ainda não de uma forma universal e equidistribuída no planeta, a Ciência produz milagres diariamente - ao ponto de os banalizarmos, nos países ditos desenvolvidos. No que toca à audição, hoje podemos afirmar que todas as formas de surdez, reveladas desde o nascimento até à velhice adiantada, têm uma solução. Mais ou menos fácil, mais ou menos trabalhosa, mais ou menos onerosa, mas uma solução.
O diagnóstico precoce numa consulta de Otorrinolaringologia é sempre o primeiro passo da reabilitação que se deseja tão atempada e eficaz quanto possível. Desde as próteses auditivas até aos verdadeiros órgãos biónicos que são os implantes cocleares, existe uma diversidade cada vez maior de soluções, tecnológicamente muito evoluídas e cada vez mais adaptadas às características particulares de cada indivíduo. Mas a ciência não ficará por aqui, e estamos à porta de uma revolução biotecnológica em que, no espaço de uma ou duas gerações apenas, veremos surgir soluções a nível celular e genético em todos os campos da medicina, e no tratamento da surdez não será exceção.
Mesmo em tempos de pandemia Covid-19, que muito impacto tem tido na Saúde em geral, nomeadamente nos doentes comummente apelidados de 'não COVID19', a ciência e a medicina não param, não podem parar, e vão continuar a produzir milagres na vida de cada um de nós, e dos privados de audição - que também homenageamos neste dia - em especial.
Leia Também: "Os meus pais são surdos e mudos. Achei que seria uma boa homenagem"
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com