A descoberta da nova função da megalina, divulgada na revista científica internacional Brain Communications, torna esta molécula um novo factor a ter em conta na formação e consolidação de memórias.
Para o estudo, duas equipas do i3S, lideradas pelas investigadoras Maria João Saraiva e Teresa Summavielle, utilizaram células em cultura e modelos animais com a expressão de megalina modificada, e foram capazes de mostrar as consequências arrasadoras que a diminuição da megalina exerce no sistema cognitivo de ratinhos. Os animais com expressão de megalina reduzida revelaram enormes dificuldades de aprendizagem e de memorização.
Leia Também: Serotonina acelera a capacidade de aprendizagem e aumenta inteligência
De acordo com João Gomes, autor do trabalho, esses processos cognitivos de aprendizagem e memorização "são em parte controlados pelo hipocampo, uma área específica do cérebro responsável pelas funções de formação e consolidação da memória, e cujos neurónios parecem ser muito afetados por baixos níveis de megalina".
Andrea Lobo, co-autora da pesquisa, acrescenta que a "redução da megalina afeta a fisiologia dos neurónios a vários níveis".
Lobo sublinha que a megalina "é essencial para a formação de novas zonas de ligação entre os neurónios, as designadas sinapses. E sem novas sinapses ativas é impossível um bom desempenho cognitivo".
Andrea Lobo e João Gomes© DR
Os investigadores alcançaram estas inferências enquanto tentavam entender as estruturas moleculares associadas à síndrome humana de Donnai-Barrow, causada por uma alteração da megalina e que se manifesta através de múltiplos problemas fisiológicos, sobretudo défices intelectuais severos ou outros sintomas neurológicos.
Mais ainda, "já sabíamos que a megalina é uma molécula recetora da proteína transtiretina (TTR) e que esta proteína tem a capacidade de regular a megalina. Agora conseguimos verificar que aumentando a TTR ela é capaz de compensar a deficiência da megalina nos neurónios. Ou seja, a TTR dá ordens à célula para produzir mais e compensar as perdas de megalina", elucida João Gomes.
No futuro os cientistas pretendem investigar se é exequível recorrer à TTR para reverter os resultados do défice de megalina nos processos de memória.
Leia Também: Problemas de visão podem causar dificuldades de aprendizagem na escola