Aos 75 anos, Aguinaldo Silva tornou-se um dos autores de novelas mais reconhecidos do mundo. Não é para menos. O argumentista brasileiro foi o responsável de êxitos – tanto no Brasil, como em Portugal – como ‘Roque Santeiro’ (1985), ‘Tieta’ (1989), ‘A Indomada’ (1997), ‘Senhora do Destino’ (2004), ‘Laços de Sangue’, entre tantas outras.

“Acho que os portugueses gostam muito das minhas novelas, porque elas em geral acontecem em cidades rurais que seriam equivalentes às pequenas aldeias portuguesas”, começa por referir em conversa com o Notícias ao Minuto.

“Mas agora o que me interessa mais em Portugal é a qualidade das novelas que se fazem por cá, pois ao longo dos últimos anos os portugueses começaram a fazer novelas com um grande senso de profissionalismo. Hoje em dia, essas novelas podem ser exportadas por serem muito boas, como as brasileiras são”, sublinha, elogiando a ficção nacional e a sua evolução.

“Acho que os portugueses viram o que nós fazíamos, aprenderam e apreenderam e agora estão a fazer novelas que competem com as nossas”, sublinha.

Questionado acerca da novela que mais gostou de escrever (contam-se mais de 20 no total) a resposta não se fez esperar: ‘Tieta’. “Depois do final da ditadura [no Brasil], foi a primeira novela em que percebemos que poderíamos falar sobre o que quiséssemos. A ‘Tieta’ fez de tudo o que durante 20 anos não podíamos fazer. Foi liberdade total, até para hoje em dia é uma novela ousada”, afirma.

Perante a agitada realidade política que se vive agora no Brasil, tendo em conta as campanhas eleitorais que decorrem para a escolha do novo Presidente da República, Aguinaldo considera que as novelas podem ajudar na abordagem de temas sociais relevantes, no entanto, nega o uso da palavra "influência", demasiado forte na sua perspetiva.

“A única maneira da novela alertar as pessoas é colocando em discussão os temas nas tramas. Se se usa a novela para fazer a propaganda de alguma coisa está-se a influenciar, mas é possível colocar [certos temas] nas tramas e acho que a novela tem essa função. A novela está sempre um passo adiante do que o telespetador pensa, mas não pode estar cinco passos, porque a gama de telespetadores é muito grande e cada um pensa da sua maneira”, defende.

Demonstrando um grande cuidado e respeito pelas pessoas que seguem o seu trabalho, Aguinaldo reconhece que tem um certo poder como autor de novelas: “Sinto que esse poder também traz uma responsabilidade muito grande. É preciso saber o que é que se vai falar e como é que se vai falar. Acho que é uma coisa que o autor de telenovelas tem de saber para não afastar e chocar o telespetador. Não pode ter a impressão de que o pode convencer a pensar como ele, a pessoa deve pensar por si própria”, remata.