"Não antecipamos nenhuma decisão relevante do BCE na próxima reunião", disse à agência Lusa o economista-chefe do Montepio, Rui Serra, estimando que a primeira subida das taxas de referência da zona euro aconteça no terceiro trimestre do próximo ano.
"Continuamos a antecipar que o BCE irá, lentamente, repensar a sua política monetária nos próximos meses, preparando o terreno para o fim do programa de compra de dívida", disse.
Para Rui Serra, atendendo aos recentes desenvolvimentos do Produto Interno Bruto (PIB) -- que terá abrandado no início de 2018 -- e da inflação (com fracos registos para o primeiro trimestre), bem como ao aumento dos riscos globais, o cenário mais provável é o BCE estender o programa até ao final do ano, com sucessivas reduções das compras mensais a partir de setembro.
O gestor da corretora XTB, Eduardo Silva, afirmou que o presidente da instituição, Mário Draghi, deverá continuar a evitar referir uma data para o fim do programa de 'Quantitive Easing'.
"As taxas e o programa de compra de dívida deverão, assim, permanecer inalterados, e o banco central deverá inclusive referir que a política monetária irá continuar expansionista, mesmo depois do fim do programa de compra de dívida, devido a preocupações com a inflação baixa", considerou o especialista, referindo que o foco da reunião deverá incidir sobre a forma de "comunicação" do BCE.
A expectativa deverá ser que a evolução do crescimento que tem vindo a ser revista em alta recupere eventualmente a inflação e 2018 deverá mesmo ser o último ano de programa de 'Quantitive Easing' (QE), "mas os aumentos deverão ficar adiados até 2019 e, mesmo nesse cenário, deverão ser graduais por forma a não comprometer o crescimento", disse.
Filipe Garcia, da IMF -- Informação de Mercados Financeiros, refere, por sua vez, que os analistas estarão na quinta-feira atentos "essencialmente a três mensagens" que poderão surgir na conferência de imprensa habitual do presidente do BCE, Mario Draghi.
Os analistas procurarão saber qual a interpretação do BCE quanto aos sinais recentes de desaceleração da economia europeia, se o atual câmbio euro/dólar está a ser visto como um fator importante de obstáculo ao crescimento e à inflação e o que irá acontecer a partir de setembro em termos de compras de ativos, indicou Filipe Garcia.
O economista do Banco Carregosa, Rui Bárbara, salientou, a propósito, que Draghi terá de anunciar de que forma pretende acabar com a compra de ativos, como forma de ajudar os emitentes de dívida.
"Depois de ter reduzido o montante mensal de compras, está previsto que o programa acabe no último trimestre do ano. Mas ninguém sabe como: se abruptamente ou de forma gradual", disse.
Os analistas da Ebury, antecipam que Draghi deverá optar por manter o tom "bastante cauteloso" no que diz respeito à orientação futura da política monetária.
"Desde a última reunião do Conselho de Governadores, em março, os dados macroeconómicos publicados para a zona euro têm sido fracos, enquanto os riscos externos, nomeadamente a possibilidade de uma guerra comercial à escala global, poderão pesar sobre as expectativas", refere.
Franck Dixmier, economista-chefe da AllianzGI, nota que, apesar da política monetária do BCE ter sido "acomodatícia até aqui, os seus planos para uma reversão têm sido muito conservadores".
"Não esperamos que isto se altere na próxima reunião do banco central. O QE deverá acabar por terminar e as taxas de curto-prazo devem aumentar, mas não ainda", salienta.
Na última reunião, em 08 de março, o BCE deixou as taxas de juro inalteradas, com a principal taxa de refinanciamento em 0%, confirmando ainda que o programa de compra de ativos se mantém até setembro ao ritmo atual.
No que respeita às medidas de política monetária não convencionais, o Conselho de Governadores do BCE confirmou que se pretende que as compras líquidas de ativos, ao atual ritmo mensal de 30 mil milhões de euros, prossigam até ao final de setembro de 2018, ou até mais tarde, se necessário, e, em qualquer caso, até que o Conselho do BCE considere que se verifica um ajustamento sustentado da trajetória de inflação, compatível com o seu objetivo.
O Conselho de Governadores presidido por Mario Draghi suprimiu, no entanto, do comunicado a frase que tem sido repetida após cada reunião desde dezembro de 2016, indicando que o volume de aquisições do programa, lançado em março de 2015, pode aumentar se for necessário.
Esta "mensagem" foi interpretada por alguns analistas como "um primeiro passo prudente em direção a uma normalização progressiva da política monetária".