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Blockchain: A revolução vem aí. Saiba como preparar-se para o futuro

O Economia ao Minuto teve oportunidade de falar com um dos especialistas europeus na tecnologia conhecida pela ligação à bitcoin e ficou a saber o que aí vem.

Blockchain: A revolução vem aí. Saiba como preparar-se para o futuro
Notícias ao Minuto

08:00 - 04/07/17 por Bruno Mourão

Economia Entrevista

A ligação umbilical entre blockchain e bitcoin continua a criar confusão em muitas cabeças. Para o público em geral, a distinção entre a moeda virtual e a tecnologia de troca de informações ainda é quase impossível de fazer, mas há quem esteja a fazer todos os esforços para mudar os erros de interpretação. 

Louis de Bruin, líder europeu de blockchain na IBM, é um dos mais acérrimos defensores da aplicação empresarial da tecnologia de troca de informações e assume-se como uma das figuras mais importantes para o presente e futuro da blockchain. 

Durante a Watson Portugal Summit 2017, o Economia ao Minuto teve oportunidade de falar com o empreendedor da IBM e esclarecer várias dúvidas sobre a blockchain e a respetiva aplicação no mundo das empresas. Descubra como pode preparar-se para o futuro e conheça as alterações que estão a caminho. 

A tecnologia de blockchain está muito perto de chegar à afirmação mundial. O que falta para que seja dado esse passo? 

Conhecimento. As pessoas ainda não percebem bem o que é, ainda confundem o conceito de blockchain com a bitcoin – 90% das pessoas pensam que a blockchain é a bitcoin – e por isso ainda não temos a base necessária. A tecnologia também está ainda em evolução. O que ainda nos falta? Neste momento, o balanço está a aumentar e não pode crescer mais sem que apareçam os critérios necessários. Neste aspeto, acho que a IBM está a fazer um excelente trabalho. 

Com a hyperledger, escolhemos uma plataforma de nível industrial que é completamente aberta e apoiada pela Linux Foundation, sem nenhuma base de moedas virtuais. Não é que eu seja contra as moedas virtuais, bem pelo contrário, mas não creio que sejam a plataforma correta para uma solução empresarial da blockchain. Acho que as pessoas ainda não compreendem o que implica correr as aplicações numa base de moedas virtuais; isto tem riscos muito severos e muita coisa pode correr mal. Podem fazê-lo se compreenderem bem todas as consequências, mas a maior parte das pessoas não sabe o que que está a fazer. 

Qual lhe parece o melhor caminho a seguir: avançar com a aplicação da blokchain nas empresas ou explicar primeiro a tecnologia e esperar que seja compreendida por quase todas as pessoas antes de se avançar no mundo empresarial? 

Não há um único caminho correto a seguir. Fazer experiências em tudo o que se usa, seja com a blockchain, com bitcoins, com ethereum, é sempre bom. Muitas vezes perguntam-me se a blockchain é melhor que um sistema de ERP (sistema de gestão de recursos empresariais). Essa não é a pergunta certa. 

A pergunta certa é: O que é que eu posso fazer mais com a blockchain? As tecnologias são diferentes e podem trabalhar juntas. Às vezes há coisas que se pode fazer com uma delas sem usar a outra, mas é como a internet: todos devem querer que a tecnologia seja utilizada pelo máximo de pessoas e empresas. As pessoas têm de compreender que a blockchain deve ser usada por todos, para trazer a indústria a um nível global mais elevado. Com a chegada da internet, 'derrubámos' as barreiras do tempo e do espaço: as empresas passaram a ter de ter respostas imediatas e marcas dos Estados Unidos passaram a competir diretamente com marcas de Portugal e vice versa. É esse o tipo de revolução que esperamos com a blockchain. 

Quando a blockchain começar a crescer e a tornar-se crucial em todo o mundo, quem passará a controlar esse sistema tecnológico? Acredita que a gestão será pública ou privada? 

Neste momento, as grandes blockchains são as moedas virtuais e esses sistemas não são 'geridos' por ninguém. Existem os mineiros, entre outros, mas não existe uma única entidade a controlar os sistemas. Nas aplicações em que estamos a trabalhar, no comércio, no mundo do financeiro, as blockchains serão geridas por um consórcio de companhias ou instituições. Como exemplo, posso imaginar um sistema com todos os Institutos de mobilidade dos países europeus, no qual os vários pontos da blockchain estariam divididos pelos vários países, sem um sistema central. Haveria depois reuniões destes membros para decidir alterações ou melhorias através de 'smart contracts', que seriam aplicadas à blockchain. 

Há também uma perspetiva interessante de poderem ser eliminados muitos trabalhos redundantes em instituições públicas, uma vez que a blockchain pode fazer essas funções. Os governos podem assim tornar-se mais transparentes e eficientes, aproximando-se do povo. 

Acha que as empresas estão preparadas para dar este passo rumo ao futuro. Não vão perder poder? 

Não vão perder poder, creio que isso é um erro de interpretação. O poder que existe neste momento é o de ser pouco eficiente e dar maus trabalhos uns aos outros; tendo a blockchain, podem oferecer serviços mais interessantes e criar empregos que são de verdadeiro valor acrescentado. 

Já fui a várias empresas e falei com pessoas que dizem "mas isso vai tirar-me o trabalho!" E os colegas dizem "claro, é essa a intenção, vais ter de fazer outra coisa mais produtiva" (risos). As pessoas têm uma tendência natural para resistir à mudança, sejam carros voadores ou computação cognitiva, mas vamos ultrapassar isso. Ao início ninguém queria ver o próprio nome na internet; agora, já ninguém pensa nisso. 

Parece-lhe que o mundo está preparado para reagir a possíveis empregos perdidos com a chegada de uma maior automatização ao mercado? 

Não estávamos à espera da blockchain, mas ela surgiu. É como um tsunami: nunca estamos verdadeiramente prontos para ele, mas é bom que nos preparemos. Devemos adaptar-nos às mudanças. 

A IBM fez um excelente trabalho, porque assumiu uma postura ativa em relação à blockchain. Os nossos clientes vão começar a abrir os olhos e a perceber que podem fazer tudo o que fazem hoje em dia com a blockchain, mas de forma mais eficiente. Conforme o mundo muda, o papel da IBM também vai mudar, vamos fazer coisas diferentes pelos clientes. Se fizerem o mesmo, o vosso trabalho pode mudar e o vosso trabalho antigo pode desaparecer, mas continuam a fazer alguma coisa. Se não fizerem nada para mudar, então aí o vosso trabalho vai desaparecer de certeza e não vão estar preparados para o futuro. 

Isto aplica-se até a mim. Há dois anos, eu não fazia a mínima ideia que iria estar a trabalhar em blockchain e no ano passado tinha três pessoas a trabalhar comigo na Holanda nesta área. Hoje, estão 30 pessoas a trabalhar no mesmo sítio e temos uma lista de espera que nos obriga a dizer não aos clientes durante dois meses antes de podermos avançar com os projetos. É maravilhoso. Sou um tipo 'velho' e estou a trabalhar com jovens de 18 aos 25 anos e todos nos aceitamos uns aos outros; é melhor do que alguma vez podia ter imaginado. 

IBM está mais preparada para o futuro do que outras tecnológicas? 

Estamos bem preparados, mas não diria que estamos melhor preparados do que outras empresas. Há companhias que estão a preparar-se muito bem e temos competição muito intensa (risos), mas estamos a fazer um bom trabalho. A mudança custa, até porque há pessoas que não querem mudar, mas os nossos diretores dão-nos margem e deixam-nos ser empreendedores. Quando comecei a trabalhar na blockchain, a IBM perguntava "o que estás a fazer? Porquê? Isto é bom para os nossos clientes?", mas sempre me deixaram mostrar que funcionava, ou se não funcionasse, acabava o projeto. Eu assumi o risco e podia ter saído, mas resultou. A IBM cria um ambiente onde existe liberdade para apostar em ideias 'loucas' e se resultarem, os projetos são apoiados. Estamos muito bem preparados para o futuro. 

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