Que tal vai ser o ano económico em 2017? Os especialistas respondem

Para perceber como os mercados vão reagir aos principais temas políticos e económicos, o Economia ao Minuto foi ouvir os analistas da Orey e do Banco Carregosa. Saiba como vai ser o ano económico, pela boca de quem acompanha este mundo de muito perto.

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© Reuters

Bruno Mourão
07/01/2017 08:08 ‧ 07/01/2017 por Bruno Mourão

Economia

Mercado

O novo ano já começou há uma semana, mas ainda muito pouco se sabe ao certo sobre o rumo que os mercados vão tomar ao longo de doze meses potencialmente decisivos para Portugal e para o sistema financeiro mundial. 

A redação do Economia ao Minuto quis saber mais sobre a visão dos mercados e foi por isso pedir ajuda à Orey Financial e ao Banco Carregosa, duas das agências financeiras mais ativas no mercado nacional. 

Fique com os esclarecimentos de Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa e de Marisa Cabrita, gestora de ativos da Orey Financial sobre os temas fortes de 2016 que vão marca igualmente o ano financeiro e económico de 2017. 

Em 2017, qual poderá ser o impacto da presidência de Donald Trump nas bolsas mundiais? 

Paulo Rosa - O mercado acionista está entusiasmado com o impulso que Donald Trump promete dar à economia norte-americana e, por arrasto à economia mundial, através do aumento da despesa pública e da descida de impostos, prolongando o ciclo de crescimento da economia dos EUA, que dura há oito anos. Porém, inevitavelmente, veremos a dívida pública norte-americana aumentar, quando já se encontra em níveis substancialmente elevados, e muito dificilmente se manterá o crescimento por muito mais tempo. 

Marisa Cabrita - Caso Donald Trump seja bem sucedido, as expectativas são de aumento da taxa de crescimento económico, beneficiando assim os índices americanos nomeadamente, empresas positivamente expostas à subida de taxas de juro, como as financeiras, empresas expostas ao ciclo económico e menos endividadas. Algum desse impacto positivo poderá contagiar outras economias desenvolvidas. No entanto, no cenário de indefinição das políticas de Trump, demora na sua implementação ou no cenário da adopção de políticas mais protecionistas, poderemos observar um impacto negativo no comércio internacional e, consequentemente, na actividade económica geral, o que poderia levar à redução das expectativas de resultados, especialmente das exportadoras.  

Que evolução poderemos esperar dos preços do petróleo no próximo ano? 

Paulo Rosa - O petróleo subiu nos últimos tempos por causa do acordo entre os membros da OPEP e países como a Rússia, onde foi decidida redução da produção em 1,2 milhões de barris diários no final de novembro e em 1,8 milhões de barris a partir de janeiro. No entanto, historicamente, a taxa de cumprimento do que é acordado nas reuniões da OPEP situa-se entre os 50 e os 80%. Com países externos, como a Rússia, a probabilidade de cumprimento ainda é menor. Há sempre um país que fura o acordo, tradicionalmente entre os que produzem barato, na casa dos 5 a 15 dólares por barril, como a Arábia Saudita e países da península arábica, para não perderem quota de mercado. O novo fixador do preço de mercado passou a ser o custo de produção do "Shale Oil". É, por isso, bastante provável que o preço do petróleo volte a cair.   

Marisa Cabrita - O crude poderá apresentar um comportamento volátil. A eficácia do recente acordo de corte da produção pelos países membros da OPEP e ao qual se juntaram países não membros como a Rússia, permanece ainda como fonte de incerteza. Por outro lado, a recuperação dos preços da matéria-prima, poderá contribuir para o aumento da oferta dos países não participantes no acordo, nomeadamente os EUA, o que poderá pressionar novamente os preços. 

Que efeito pode ter a subida das taxas de juro da Reserva Federal norte-americana em 2017? 

Paulo Rosa - As bolsas serão penalizadas. Haverá uma correção  no preços das ações e das obrigações, principalmente se os resultados das empresas não corresponderem ao esperado. Veremos a correção do imobiliário e vamos ver até que ponto a política orçamental expansionista - que é esperada de Donald Trump - consegue conter esta queda dos mercados financeiros.  

Marisa Cabrita - Num cenário em que o ritmo de crescimento económico o exija, as subidas de taxa de juro, embora possam ter no curto prazo um impacto negativo, poderão ser vistas como ajustadas ao ciclo económico numa fase posterior. Não obstante, poderão ser esperados efeitos como a subida generalizada dos custos de financiamento, apreciação do dólar e consequentemente algum arrefecimento económico. 

Quais as vossas expectativas para 2017 para a Bolsa de Lisboa? 

Paulo Rosa - O crescimento da economia portuguesa continuará bastante anémico. As empresas expostas ao mercado interno serão as mais penalizadas, bem como o sector financeira e a banca. As acções das empresas exportadoras como Altri e Navigator continuarão a ter um desempenho melhor que as suas congéneres do PSI20. O principal índice da bolsa de Lisboa deverá continuar em 2017 a sua tendência de queda e não seria nenhuma surpresa caso quebrasse os 4000 pontos. Em 2016 andou no intervalo dos 4200 e os 5300 pontos. Também se espera que a volatilidade aumente no próximo ano. 

Marisa Cabrita - O mercado português inserido na realidade europeia e economia aberta, acaba por ser muito sensível ao enquadramento europeu. Embora o programa de compra de activos que o BCE irá manter até finais de 2017 contribua para manter o prémio de risco euro em níveis estáveis, com especial destaque para as economias periféricas, as perspectivas de crescimento económico e resultados são modestas, com um sector bancário ainda com muitas fragilidades. Assim, à semelhança deste ano, o índice nacional poderá voltar a apresentar alguma underperformance face aos congéneres europeus fruto destas fragilidades apresentadas pela economia doméstica ou pelos principais parceiros. 

E, em termos económicos, o que poderá acontecer a nível mundial? 

Paulo Rosa - Esperamos o prolongamento do clico económico positivo norte-americano que já dura há mais de 8 anos. Porém, caso esse crescimento não seja suficientemente enérgico devido ao pleno emprego em que já se encontra a economia norte-americana, poderemos assistir a uma crescimento débil da economia dos EUA, e mesmo negativo. A China também pode continuar a ver a sua economia arrefecer. Se assim for, a economia mundial crescerá menos em 2017 que em 2016. 

Marisa Cabrita - Com a normalização da política monetária nos EUA, 2017 poderá apresentar um cenário onde a incerteza permanece como denominador comum, com taxas de crescimento económico modestas, expectativas de uma política orçamental neutral na Europa e uma política fiscal expansiva nos EUA. Na Europa, embora o BCE se mantenha suportativo e os níveis de liquidez elevados, as perspectivas são de crescimento modesto no bloco europeu. Se por umo lado, a fragilidade do sector bancário europeu, com destaque para o italiano, continua a ser um constrangimento ao crescimento económico do bloco, por outro, o calendário político intenso em 2017 e o desenrolar do processo de abandono do Reino Unido da UE são potenciais factores de risco adicionais. 

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