"Vivemos num canto da Europa fabuloso. O mundo está a acordar para isso"

Para o diretor-geral da Farfetch, Portugal "não deve nada" aos grandes centros económicos e tecnológicos europeus. No entanto, ainda há passos importantes a dar.

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© Farfetch

Bruno Mourão
27/11/2016 07:44 ‧ 27/11/2016 por Bruno Mourão

Economia

Luís Teixeira

Crescimento de startup mas estrutura de grande empresa. É assim que Luís Teixeira vê a Farfetch, um dos poucos 'unicórnios' portugueses e uma das tecnológicas mais faladas do mercado mundial. 

A caminho de novos escritórios em Lisboa, a empresa abriu as portas da atual localização ao Economia ao Minuto para falar de vários temas, sempre num ambiente leve e de abertura total. 

Na primeira parte da entrevista ao diretor-geral da Farfetch, falou-se de crescimento, cultura e estratégia. Na segunda parte, pode descobrir o que Luís Teixeira pensa da chegada da Web Summit a Lisboa, de Portugal e da forma com a própria empresa é vista do exterior. 

 

Como costumam procurar talentos para entrarem na equipa? Procuram no mercado, vão às universidades? 

Criámos uma academia no Porto, onde temos sempre 25 pessoas de forma recorrente, num processo de um ano que termina e começa em setembro. Em setembro entram mais 25 e durante esse ano nós acolhemos as pessoas, formamos as pessoas que vêm da universidade e são depois incorporadas nas equipas. 

Isto é extremamente importante porque trazer pessoas da faculdade diretamente para as equipas é muito complicado. Quando vemos que duplicamos a nossa equipa de tecnologia quase todos os anos, estar a pensar que temos tempo para fazer crescer as equipas e simultaneamente conseguimos integrar as pessoas e tratar bem as pessoas, que é o mais importante, é impensável.  

Nós acabámos o ano passado com 460 pessoas em Portugal; este ano já chegámos às 700 e vamos provavelmente chegar às 770, portanto estamos à procura de pessoas já com alguma experiência no mercado, não estamos a procurar nas universidades. Temos este programa onde queremos pessoas sem experiência, mas de outro modo não vamos às escolas. 

 

Graças ao vosso impacto e ao de outras empresas, acha que a Web Summit é um reconhecimento da capacidade tecnológica em Portugal? 

Como português, sinto um orgulho muito grande e pensando nos meus filhos, ainda bem que isto está a acontecer. Quero acreditar que o futuro do país deve passar pela indústria de serviços de valor acrescentado. As pessoas dizem que estamos num canto da Europa, mas estamos num canto que é fantástico, fabuloso, que tem excelente qualidade de vida e tem excelentes engenheiros. Ainda bem que o mundo está a acordar para isso

 

Vocês já tinham um crescimento enorme antes de se falar no Web Summit em Portugal, mas acreditam que o evento poderá ser um bom 'empurrão' para as novas empresas? 

Creio que pode ser um impulso importante a dois níveis. Primeiro porque esta questão das startups e do capital de risco é uma questão de escala: os investidores sabem que dos vários investimentos que fazem, só uma percentagem é que vai ter sucesso. Para assumir o risco é preciso haver escala. Pensar que isto pode trazer investidores externos para darem mais dimensão ao mercado é muito positivo. 

O outro ângulo tem muito a ver com reter talento, manter pessoas que dantes emigraram e agora se calhar vão começar a olhar para Portugal com outros olhos e até atrair outras empresas estrangeiras que olhem para Portugal como uma oportunidade e venham para cá criar centros e marcar uma presença no país. Isso é um horizonte fantástico. 

Fala-se muito de Berlim e de outras cidades, mas eu acho que nós não devemos nada a esses locais, muito pelo contrário. 

 

A capacidade dos portugueses e a qualidade de vida é suficiente para Portugal se diferenciar como mercado tecnológico? 

Eu acho que sim porque nós vamos estar cada vez mais num mundo onde os engenheiros e as pessoas de tecnologia vão ter um papel muito importante e onde há escassez de recursos. E quando há escassez, as pessoas boas têm muito poder. 

Essas pessoas não só querem trabalhar em projetos que gostem, empresas que gostem, mas também querem trabalhar num sítio que lhes dê qualidade de vida. E nesse aspeto sim, acho que Portugal tem tudo para ser um bom mercado tecnológico. Mas eu tenho muito orgulho em ser português, por isso admito que aí posso ser um pouco otimista (risos). 

 

No que toca ao vosso site: Há algum apoio especial às lojas ou aos designers portugueses? 

A moda de luxo é um mercado muito fechado. Os amantes de moda gostam do que gostam e não há como impor as coisas. Olhando para as grandes marcas mundiais de moda, quantas têm menos de 50 anos? Não me lembro de nenhuma. 

Além disso, como empresa global, não podemos olhar apenas para um país. É um pouco contrário ao nosso propósito. Eu diria que nós não olhamos para nenhum país em particular nem para promover, nem para despromover. Vamos pelo que o mercado pede e pelo que vai surgindo. 

 

Já falou muito de moda e de tecnologia. Por isso surge a pergunta: Veem-se mais como uma empresa de moda ou de tecnologia? 

Os dois, lado a lado. Se nós não fôssemos uma empresa tecnológica, nada do que nós fazemos seria possível. No entanto, se nós só tivéssemos a tecnologia e não tivéssemos sido capazes de trazer a moda, não tínhamos o modelo de negócio. 

 

Mas sentem que têm mais reconhecimento em alguma das duas áreas? Mais em moda ou mais em tecnologia? 

Eu acho que a grande diferença é: o nosso posicionamento e a forma como nos veem é como uma empresa de moda e uma empresa de tecnologia, enquanto outras empresas se posicionam apenas como uma empresa de tecnologia. 

Nós posicionamo-nos como uma empresa de tecnologia, nitidamente, com uma plataforma de moda. 

 

Já pensaram entrar em bolsa? 

De facto surgiram umas notícias recentemente a dizer que nós íamos entrar em bolsa em 2017 (risos). Mas nós não sabemos! (risos) É pura especulação. 

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