“Para a Turquia, a adesão à UE é um objectivo estratégico. Esperamos ser membros da UE há 50 anos, mas quanto mais a UE prolongar este processo mais decai o apoio para a integração”, considerou em declarações à Lusa a embaixadora Ebru Gokdenizler, que esta tarde participou no painel Política no âmbito da Conferência “Diálogo das Civilizações”.
A iniciativa foi organizada pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) e o seu Núcleo de Estudantes Africanos (NEA) no âmbito da Aliança das Civilizações, anunciada pelas Nações Unidas em 2005 na sequência de uma iniciativa conjunta da Turquia e da Espanha.
“Se hoje perguntarem à população da Turquia se ainda acredita que o país será Estado-membro da União, apenas 17% dizem acreditar. O que significa que o povo turco está a perder o sonho”, frisou a representante de Ancara em Lisboa, no cargo desde Setembro passado, e que também confirmou a deslocação do Presidente turco Abdullah Gul a Portugal no início de maio.
Em Setembro, Egemen Bagis, ministro para a UE e responsável pelas negociações voltou a visitar Lisboa, e em Dezembro o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho efectuou uma visita à Turquia.
O conflito na vizinha Síria também mereceu comentários da diplomata, que destacou os “prolongados laços históricos e culturais” entre os dois países e a abordagem inicial de Ancara, que “tentou influenciar a liderança síria” para apoiar a causa do seu povo no caminho de uma transição em direcção à democracia.
“Enquanto assistíamos à geografia da Primavera árabe apelámos à liderança síria para se juntar a esta causa, mas infelizmente não o fizeram”, disse, antes de recordar os cerca de 70 mil mortos ou os 3,5 milhões de deslocados registados desde o início do conflito, em Março de 2011.
“A Turquia acolhe 300 mil pessoas provenientes da Síria, oferecemos a nossa hospitalidade aos vizinhos sírios que estão a escapar ao reino de terror que o regime de Al Assad inflige ao seu próprio povo”.
Ebru Gokdenizler sublinhou a actual posição do Governo turco, que defende a “saída do poder” do Presidente sírio Bachar al Assad, o “apoio sustentado” à oposição e a concretização de uma “transição democrática”.
“Mas também estamos muito frustrados pelo facto de a comunidade internacional não esteja presente pela Síria”, admitiu.
Para a embaixadora é importante contribuir para a “promoção da solidariedade no interior da oposição síria”, alargar esse apoio e permitir a transição democrática “que reflita a vontade do povo”.
No entanto, Ebru Gokdenizler precisa que a Turquia nunca pretendeu afirmar-se como “modelo” ou exemplo para os povos envolvidos nas transformações políticas que abalam o mundo árabe e muçulmano, com que convive.
“Em democracia não existe uma única medida, uma única receita. A democracia é um processo em construção e para todos os países. As democracias mais desenvolvidas ainda têm espaço para mais democratização. Sempre sentimos que não somos um modelo para ninguém, mas sentimos que podemos ser uma espécie de inspiração”, admite.
E concretiza: “Também pensamos ter uma compreensão da região devido aos nossos laços históricos e culturais com toda a geografia da primavera árabe”.
Numa referência à permanência no poder desde 2002 dos islamitas conservadores do AKP do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, a representante de Ancara enfatiza que o seu país “acabou por provar que os valores da democracia e de uma sociedade predominantemente muçulmana se podem desenvolver em conjunto e provar que a democracia pode funcionar”.